Esta semana estreou a mais recente aposta da Hulu (em estreia na HBO Portugal), The Act, que se propõe a ser uma antologia, com uma história diferente em cada temporada. Para a sua primeira temporada, The Act traz-nos a história verídica de Dee Dee (Patricia Arquette) e Gyspy (Joey King), mãe e filha, que desenvolvem uma relação obsessiva, ao ponto de a mãe enganar a filha, dizendo que esta tem inúmeras doenças que a fazem dependente dela. Ao fim de uns anos, Gyspy descobre a verdade e acaba por, com o namorado como cúmplice, assassinar a mãe.
[Spoilers a partir daqui]
E que estreia senhores, que estreia! O primeiro episódio desta nova série é simplesmente genial. Confesso-vos já que não terei nenhuma crítica negativa a fazer. Mas vamos por partes.
O meu primeiro grande elogio vai para Patricia Arquette e Joey King que protagonizam mãe e filha de maneira tão brilhante neste piloto que ficamos fascinados pelas personagens. Dee Dee é uma mulher que desenvolveu pela filha uma relação obsessiva que não permite que mais ninguém chegue perto dela. Interrompe as falas da filha, não a deixa ser nem um pouco autónoma e trata-a como se ela tivesse um atraso mental. Toda esta obsessão com a filha fica mais vincada com a interpretação de Arquette e destaco as cenas em que, mesmo interagindo com outras personagens, está constantemente de olho em tudo o que a filha faz ou a diz. Percebemos que todos os seus gestos não são de preocupação, mas sim de vigilância para que a filha não cometa erros que a possam comprometer. Quanto a Joey King no papel de Gyspy, desperta no espectador um sentimento misto. Sentimos pena pela situação da menina, mas ao mesmo tempo Gyspy torna-se assustadora e nunca conseguimos confiar nela totalmente. Por último, uma referência ao resto do elenco, com Chloë Sevigny no papel de Mel à cabeça, que esteve perfeito.
O segundo elogio vai para a forma como construíram o episódio. Começa com uma chamada para a emergência por parte de Lacey, filha de Mel, a informar que não vê as vizinhas há muito tempo e que viu uns posts estranhos no Facebook. Ao mesmo tempo que ouvimos a chamada, vemos Mel a entrar em casa de Dee Dee e percebemos que algo não está bem. Depois voltamos a 2008 com uma entrevista que Dee Dee e Gyspy estão a dar a uma televisão. Esta alternância entre um tempo e outro é feita de maneira brilhante aqui. Não deixa o espectador confuso e vai construindo a história das duas, enquanto nos oferece a consequência de tal relação obsessiva.
O terceiro e último grande elogio vai para a forma com nos é apresentada a história. Ao princípio julgamos que Gyspy é apenas vítima de uma mãe muito controladora, com uma problema psicológico grave, mas durante o episódio é mostrado que Gyspy não é completamente inocente nisto. A menina de quem começamos por sentir pena, incentiva a mãe a roubar no shopping para satisfazer os seus desejos e mesmo no final do episódio percebemos que esta sabe que pode andar e que a mãe sabe que ela sabe. O que Gyspy não sabe, é que não é doente como a mãe a faz crer. Acaba por começar a desconfiar durante uma ida ao hospital num suposto choque causado por alergia ao açúcar. Ouve a conversa com o médico e percebe que não tem alergia nenhuma, o que a leva a experimentar um doce para comprovar. Na história verídica, Gyspy sempre alegou que foi a vítima, mas a série parece fazer-nos crer que esta também teve culpa no que aconteceu, o que me parece uma excelente escolha para a condução do enredo.
Deixo ainda referências a outras coisas que ajudaram nestes 45 minutos incríveis. Todos os cenários construídos na série, com destaque para a casa onde vivem, aumentam a sensação de que é tudo bizarro naquela relação. A banda sonora, ou, às vezes, a ausência dela, é genial. Quando terminou o episódio fiquei com vontade de me levantar e aplaudir. Já fazia muito tempo que não via um episódio piloto em que não conseguisse encontrar uma falha. Não deixem de ver este piloto, não imaginam o que vão perder se não o fizerem. Bem-vinda The Act!
Catarina Lameirinhas