(Contém spoilers!)
A série I Am The Night é a nova aposta do canal TNT. Em 1965 a jovem Fauna, uma rapariga de origem mestiça, descobre que a sua mãe não é a sua mãe biológica e decide ir ao encontro do seu passado, sem saber que se calhar o seu passado não tem interesse em que ela o encontre.
O episódio todo divide-se entre a vida de Pat/Fauna Hodel (India Eisley) e a sua descoberta sobre as suas origens, e as aventuras do repórter Jay Singletary (Chris Pine), um bocado perdido na vida e aparentemente com um problema de drogas.
Inicialmente é difícil perceber o que é que estas personagens têm em comum. O episódio é longo, o que só por si pode ser um ponto negativo no que toca a prender audiência, e demorado. Conhecemos Fauna, a sua mãe louca e perdida na vida – Jimmy – o namorado de Fauna, Jay e o avô de Fauna – Dr. George Hodel.
Fauna é uma rapariga mestiça (filha de mãe caucasiana e pai negro) que pelos pequenos detalhes percebemos sempre viveu na dicotomia entre ser negra ou ser branca. É engraçado como nunca é dito algo deste género explicitamente, mas o cuidado dos pequenos detalhes dela ser apanhada com o namorado – Lewis – e ele ser acusado de assédio, ou ela na escola se sentar na ‘mesa dos negros’ é uma forma muito boa de dizer: Fauna sofre de racismo duplo.
Sim, racismo. Estamos em 1965 e a realidade é essa. Mais uma série/filme sobre racismo, poderão vocês pensar. De facto tenho que ser sincera: Claramente esse não é o foco da série – o que é um ponto positivo de não a enfiarmos no saco de ‘mais uma’. Os detalhes são simples, e não demasiado exagerados. Com classe, diria.
No meio do alvoroço de tentar perceber a raiva da sua mãe Jimmy para com ela , que constantemente lhe diz que largou tudo para poder cuidar dela, Fauna descobre que não é filha de Jimmy; que a sua mãe Tamar Hodel era branca e o seu pai negro, não identificado. Este momento é o que demarca o início da série e do argumento da série.
Fauna parte em busca de George Hodel – o seu avô, que a convida por telefone a ir a Los Angeles ter com ele – ao mesmo tempo que Jay Singletary recebe uma chamada. Jimmy, mãe adoptiva de Fauna, liga-lhe a implorar que continue a investigar George Hodel. Nesse momento percebemos como é que as duas personagens vão interagir na série: Jay escreveu um artigo a desmascarar George Hodel de algo – e assumimos que provavelmente foi o artigo que descarrilou a sua carreira, visto que George ainda está rico e feliz.
Fauna e Jay seguem em busca de George Hodel por razões diferentes – e nós seguimos também à espera de descobrir quem é este homem e o que é que ele fez.
Confesso que passei o episódio todo a pensar ‘Se isto fosse um filme era mais interessante do que estenderem para uma série secante’. Talvez os visuais sejam difíceis de absorver – visto que as cores são muito sépia, mesmo estilo anos 60 – especialmente para quem, como eu, não tem assim tanta paixão por séries de época.
De qualquer forma tenho que dizer: talvez seja o nome de Chris Pine que me prenda à série – ou até o cuidado de não cair na armadilha de fazer desta série um manifesto anti-racismo; ou talvez seja o facto de eu ter tido as minhas expectativas baixas e chegar ao fim do episódio e querer saber quem é George Hodel, o que é que ele fez, e como é que Fauna e Jay se vão desenvencilhar.
Para quem gosta de séries de época, é um Sim. Para quem não gosta, façam o esforço como eu – o bichinho da curiosidade fica lá no fim dos longos 55 minutos, prometo.
Joana Henriques Pereira