Fugitiva, criada por Joaquín Oristrell, é a mais recente série espanhola a fazer parte do leque de séries da Netflix, que tenta seguir as pisadas de recentes fenómenos como La Casa de Papel e Élite.
A série conta a história de uma ex-modelo mexicana, Magda Escudero (Paz Vega), uma vítima de violência doméstica que orquestra um plano elaborado para escapar do seu marido Alejandro (Julio Bracho), levando consigo os três filhos para Espanha.
O piloto começa quando Magda e os seus três filhos, Paulina, Claudia e Ruben, seguem no seu carro com a assistente e motorista, acompanhados pela sua escolta de seguranças, quando são intercetados por um grupo de mascarados que supostamente os sequestram. Paralelamente a esta cena, são-nos mostrados flashbacks do passado que nos vão dando, aos poucos, a conhecer as razões de toda a segurança e os motivos que levaram Magda a engendrar tal plano.
Além da sinopse, depressa nos deparamos ao longo do episódio com a violência doméstica como ponto fulcral desta série, acompanhada pelo machismo e a luta pelo poder, numa batalha a que tantas mulheres tentam colocar um ponto final, de uma forma ou de outra, infelizmente. Apesar da abordagem já existir nas mais diversas séries, é importante continuar a explorar sob de que forma afeta a vida de cada pessoa e do seu núcleo familiar, ainda que nem sempre seja a mais assertiva, algo que senti ao ver este primeiro episódio.
Pessoalmente gostei do facto da introdução da língua gestual na série, algo que é notável neste piloto, derivado à surdez de Ruben. Apesar de na maioria das vezes ser composto por frases simples, acompanhadas por fala, considero cada vez mais importante este tipo de abordagem nas séries, pelos mais diversos motivos. Gostei também da calma que Magda transmite aos seus filhos perante todas as situações no presente, algo que acaba por fazer pouco sentido à medida que vamos acompanhando o episódio. Relativamente ao pai, Alejandro, o papel de mau da fita encaixou irritantemente bem que nem uma luva ao ator.
Por outro lado e do ponto de vista menos positivo, não consegui criar empatia com nenhum dos personagens apresentados, principalmente com os filhos. O facto de serem introduzidos como família rica e poderosa quase que “obrigou” a que os personagens tivessem que transmitir o papel de meninos mimados, o que, a meu ver, acabou por ser exagerado, pois criam birras por tudo e por nada, acabando por tomar decisões depravadas e exageradas que não creio que correspondam, por vezes, à sociedade atual. Outro ponto negativo foi o facto de os seus personagens serem apresentados de forma superficial, não explorando da melhor forma as fragilidades de cada um deles, o que talvez fizesse com que pudesse criar uma ligação com eles, o que acabou por não acontecer.
No global, Fugitiva acaba por ser uma série que explora de uma forma razoável um tema delicado da sociedade, mas que peca no seu desenrolar ao longo do episódio, com algumas cenas de pouco interesse e mal delineadas. Apesar de existir algum mistério e suspense neste piloto, acabei o episódio com o sentimento de que ficou a faltar algo e que podia ter sido mais bem aproveitado, de forma a cativar o espectador a ver o restante da temporada. Ainda assim, não deixa de uma série que podem espreitar, uma vez que cada um de nós tem um ponto de vista diferente das coisas.
Termino a dizer que a canção introdutória da série só me fez lembrar a nossa Ana Malhoa. Se isso é bom ou mau, a decisão cabe a cada um.
Ricardo Santos