Contém spoilers!
Manifest, uma das grandes novidades do canal NBC, acompanha o misterioso drama do voo 828 da Montego Air. Durante mais de cinco anos, o voo 828 esteve desaparecido e, segundo a narração inicial, o acontecimento que pode destruir uma vida poderá também salvá-la… e é isso mesmo que as vivências dos personagens principais nos mostram.
Tudo começa com o regresso das férias da família Stone da Jamaica. No aeroporto conhecemos Ben Stone (Josh Dalas), a sua esposa Grace (Athena Karkanis), os filhos gémeos de ambos, Olive (Jenna Kurmemaj) e Cal (Jack Messina), Michaela (Melissa Roxburgh), a irmã de Ben, e os pais de ambos, Steve (Malachy Cleary) e Karen (Geraldine Leer). Cal está com leucemia e estas foram, provavelmente, as suas últimas férias com a família. Subitamente, ouve-se um apelo: o avião está sobrelotado e os que decidirem esperar o voo seguinte ganham um vale de 400 dólares para gastarem numa próxima viagem. Michaela agradece aos céus, vê aqui a hipótese de se livrar dos sermões da mãe e, com ela, ficam Ben e Cal, que podem aproveitar o dinheiro extra para utilizarem em viagens para a clínica sul-americana onde Cal está a fazer tratamentos experimentais.
A partir desta cena, a palavra dominante é “impossível”. O trio embarca e o voo corre de feição, mas, repentinamente, o avião atravessa uma tempestade violenta que causa o impensável: o voo esteve desaparecido mais de cinco anos. Para os viajantes do voo 828 passaram pouco mais de 24 horas, ou seja, não envelheceram, como se tivessem ficado congelados no tempo. Mas os restantes demonstram já o peso da idade, que o diga a diferença entre os gémeos Cal e Olive, já que ele continua uma criança de onze anos e ela é agora uma adolescente em pleno.
Os retornados, os seus familiares e as equipas de investigação tentam perceber o que se passou, mas não existe uma explicação lógica. Se por um lado uns têm sorte, outros percebem que o azar lhes bateu à porta. A Cal saiu-lhe a sorte grande! Saanvi Bahl (Parveen Kaur), a médica que partilhou o voo com os personagens principais, inventou um novo tratamento que, após os cinco anos, está em fase de testes e Cal ganha assim uma segunda oportunidade para viver. Já a sua tia Michaela, além de ver que o seu noivo está casado, percebe que todos foram promovidos e sente-se deslocada.
Mas a complexidade do mistério adensa-se com Michaela, ou melhor, com as vozes que ouve. E as vozes são insistentes e, ao que parece, dão-lhe instruções precisas para salvar, inicialmente, uma criança e, mais tarde, descobrir as irmãs que foram raptadas, cujo caso, de forma discreta, nos foi sendo apresentado. Mas Michaela não é a única a ouvir vozes, já que Ben acaba também por admiti-lo relutantemente.
Qual a origem das vozes? Estarão elas relacionadas com o misterioso desaparecimento do avião? Depressa Michaela descobre que nada foi obra do acaso: o seu voo foi o 828; a sua mãe citava com frequência o versículo 28 do 8.º capítulo da carta de São Paulo aos Romanos, até bordou uma almofada com essa informação; e as jovens que foram raptadas foram encontradas numa oficina situada no número 828. A título de curiosidade, a passagem bíblica citada refere “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito”. Michaela, juntamente com o irmão, quer perceber o motivo por que regressaram e a razão pela qual são os “chamados”. Na cena final, o avião, que iria ser desmontado no dia seguinte, explode de forma a esconder o segredo do seu desaparecimento, perante os olhos dos regressados, que ouvem a misteriosa voz.
É verdade que o episódio focou-se muito nos que regressaram, contudo, mais de cinco anos passaram para os seus familiares e estes, após fazerem o luto, refizeram as suas vidas e muito está por contar… Michaela já teve os seus dissabores e, pelo que deu para perceber, não será a única nesta situação.
O piloto, para minha surpresa, decorreu de forma muito fluída e os pouco mais de 40min do episódio passaram a voar, o que acaba por ser bom sinal. Temos aqui um enredo que mistura uma pitada de ficção científica com mistério e até uma determinada dose, por desvendar, de mitologia católica. Temo que, se mal explorada, a história que Manifest nos traz se esgote nesta temporada. Mesmo assim, vou acompanhar a série pela qualidade que apresentou no seu piloto e pelas promessas que fez para a restante temporada.
Rui André Pereira