Krypton – 01×01 – Pilot
| 23 Mar, 2018

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[Contém spoilers]

“Fight like El”

A estreia de Krypton, tal como nos mostram ser o seu passado, é um pouco turbulenta, mas há esperança para um futuro promissor.

O seu começo é hipnotizante e envolvente, conseguindo replicar o sentimento que sentimos ao ver pela primeira vez o filme Man of Steel (2013) e foi desde essa altura que o “bichinho” por querer saber mais sobre a história por detrás do planeta de origem de um dos maiores super-heróis do universo renasceu.

O planeta Krypton foi referido pela primeira vez em 1938 no lendário primeiro número da revista Action Comics. No entanto, só passado um ano é que pudemos ver o planeta em si quando Superman passou a ter a sua própria banda desenhada e desde aí que autores diferentes vão adicionando elementos para completar a história do planeta de origem de Kal-El, a história dos seus pais, Jor-El e Lara, e agora nesta série focada no seu avô Seg-El.

Seg-El, ou Seyg-El nos comics, teve a sua aparição em World of Krypton Vol. 2 #3 (February, 1988), mas não há muito a apontar na sua história para além de ter tido um filho de nome Jor-El, com quem nunca se deu muito bem, pois era um conservador, adepto das tradições kryptonianas, ao contrário do seu filho. E logo aqui começam as diferenças em relação à adaptação para a TV. Em nota de curiosidade: na continuidade Pre-Crisis, o pai de Jor-El tinha o nome de Jor-El, o Primeiro, e não Seyg-El; o nome Seyg-El é uma derivação de Siegel, o sobrenome do cocriador de Superman, Jerry Siegel.

O que dizer acerca das pessoas responsáveis por dar vida à nova série da Syfy? David S. Goyer é um dos grandes trunfos da série, que nos entusiasma que esta venha a dar frutos. Este produtor e escritor dispensa apresentações, sendo conhecido pelos seus trabalhos em Batman Begins (2005), Batman v Superman: Dawn of Justice (2016) e The Dark Knight (2008). Damian Kindler é a outra metade da criação, vindo dar um toque especial de sci-fi, mistério e fantasia graças ao seu background com Stargate SG-1, Sleepy Hollow e Sanctuary. Ciaran Donnelly é o realizador, tanto do piloto como do 2.º episódio da série, que traz consigo a experiência adquirida a realizar mais de uma dúzia de episódios para a série Vikings. Das estrelas destacamos Cameron Cuffe como personagem principal, Seg-El, e anteriormente conhecido pela sua participação em The Halcyon. Para muitos ainda deve estar fresco na memória o papel de Georgina Campbell no espetacular episódio “Hang the DJ”, em Black Mirror, aqui com o papel de Lyta Zod; e temos também Elliot Cowan, ator com participações de nota tanto no pequeno como no grande ecrã (Alexander, The Golden Compass, Da Vinci’s Demons), no papel de Daron-Vex.

Um dos pontos mais fortes da série é, sem dúvida, a construção do mundo, da cultura e da civilização de Krypton. O design do planeta que vemos no piloto é reminiscente de Superman: The Movie (1978), tendo influenciado subsequentes representações de Krypton desde Superman: The Animated Series, Smallville e o já falado filme Man of Steel. O contraste entre a avançada tecnologia e a mentalidade conservadora criam um dos maiores choques que o universo da DC já viu e que levariam a consequências drásticas. Em muitos aspetos nota-se a inspiração romana para retratar o povo de Krypton, nomeadamente nos seus severos castigos para quem cometia traição.

Porém, apesar de todos estes pontos positivos, as falhas que negam a Krypton uma nota de destaque entre tantas outras séries prende-se com as personagens e a forma como é contada a história. Seg-El é uma personagem principal pouco cativante, o típico cabeça-quente que só sabe resolver tudo com os punhos. E mesmo no restante elenco não se encontra uma personagem que nos seduza imediatamente. O fluxo do enredo é muito linear e um pouco ultrapassado, não criando suspense nem suscitando muitos teorias para o que reserva o futuro. Quanto ao plot, levanta algumas bandeiras amarelas e vermelhas: tudo o que levou à morte dos pais de Seg-El foi ilógico e repentino; já a missão de Val-El mostrar que os kryptonianos não estão sozinhos no universo é ainda vaga, mas pode vir a revelar-se uma falha crucial, já que Krypton é suposto ser o lar de uma das mais avançadas civilizações de todo o universo da DC, implicando por isso que o seu povo já há muito deveria saber da existência de vida noutros planetas (embora aquilo a que Val-El se estivesse a querer referir pudesse ser algo completamente diferente – Brainiac? A ver vamos). Para acalmar o negativismo, também foram levantadas bandeiras verdes, nomeadamente no que aparenta ser a grande ameaça da temporada: Brainiac. Quem é que ainda se recorda da representação de James Marsters do vilão em Smallville? Sem dúvida que em termos de vilões não podiam ter escolhido melhor e esperam-se grandes coisas para esta adaptação de um dos maiores obstáculos de Superman. Adam Strange, a ligação direta com o presente e com Superman, assim como a capa do super-herói a funcionar como a rosa do Monstro (de A Bela e o Monstro) são elementos frescos e originais que também surpreenderam pela positiva.

Em suma, por um lado temos uma excelente caracterização do mundo que nos rodeia e uma realização de topo, enquanto do outro lado ficamos com uma pobre caracterização das personagens e um enredo que demonstra falhas já à partida. Tudo está em aberto e Krypton pode vir a revelar-se uma história de sucesso de uma calamidade inexorável.

Uma comparação que não se pode deixar de fazer é entre Krypton e a série Gotham. Será que o destino desta série reside dentro dos mesmos parâmetros que temos acompanhado com a prequela do Cavaleiro das Trevas? É certo que, em termos temporais, Krypton tem muito mais por onde explorar sem sequer pisar nos calcanhares de Kal-El, mas será isso uma vantagem ou desvantagem? E só pelo piloto com o viajante do tempo e a aparição da mítica capa do Superman podemos contestar que os produtores não estão com ideias de se afastarem assim tanto do Man of Steel. Poderá Krypton repetir o sucesso que foi Smallville durante tantos anos?

Krypton continua na próxima semana em House of El, com Seg-El a ter de se adaptar à sua nova vida e ao seu novo rank.

Emanuel Candeias

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