CONTÉM SPOILERS!
Ioan Groffud é o protagonista da nova aposta da ABC (The ABC National Television Service), Harrow. A série traz-nos a história de um médico legal (Dr. Daniel Harrow) que é absolutamente obcecado pela verdade e com uma inteligência fora do comum com um passado obscuro por contar.
Harrow é-nos apresentado logo nos primeiros momentos. Arrogante, altivo e altamente sarcástico, este médico mostra-nos logo do que é capaz quando o episódio começa com ele a ver um filme, High Noon, quando devia estar a redigir o relatório de uma autópsia a pedido da sua chefe e quando a mesma o chama à atenção e aperta com ele, ele recusa-se, alegando que só é capaz de dizer a verdade e que, se o disser, o homem que ele autopsiou nunca vai ser culpabilizado pelos seus crimes. Ao mesmo tempo tenta despachar isso para o seu colega de trabalho, de quem ficamos com uma ideia que é um burro de primeira ao lado de Harrow.
Durante o episódio, Daniel Harrow é confrontado com as várias trajetórias da série e que a série pode levar. Desde a sua relação altamente competitiva com a sua chefe, ao desespero do seu colega de trabalho para ser melhor que ele, ao aprendiz dele que conhecemos, à sua filha problemática, ao seu divórcio e – aparentemente – ao seu passado sombrio.
Quando conhecemos a filha de Harrow, Fern, ela estava no hospital e nem Harrow nem a sua ex-mulher sabiam dela há meses. Numa tentativa mais que desesperada de se conectar com a filha, Harrow promete largar o trabalho e partir numa viagem de barco com ela para Bora Bora. O episódio todo é ele a «despedir-se» do seu trabalho, a atormentar a vida ao seu antigo colega – enquanto, como que num último grito de despedida, tenta resolver um caso arquivado que lhe é largado nos pés.
Sem entrar em grandes detalhes no caso em si, obviamente Harrow e a sua insistência acabam por chegar à verdade e encontrar o culpado de um caso que supostamente tinha sido declarado suicídio pelo seu colega, provando mais uma vez que ele é que é espetacular e maravilhoso e que o colega dele é uma nódoa na profissão.
Durante esta investigação, Harrow conecta-se com uma mulher da força policial que, no final do episódio, quase quase quando ele está para arrancar no barco com a filha, o desafia para um caso em que ela acabou de tropeçar, um corpo é encontrado no meio de um lago completamente deteriorado e, em consequência disto, Harrow decide ficar. Percebemos a decisão dele quando, em flashback às suas memórias, temos uma imagem de Harrow num barco a atirar aquele corpo ao lago.
Ora, visto o episódio, tenho que confessar que fiquei com opiniões diferentes. Digamos que decidi ver Harrow por ter achado o trabalho de Ioan Groffud em Forever espetacular. Mas Harrow? Há qualquer coisa neste personagem, neste guião, que fica aquém. De alguma forma, penso que os criadores quiseram que Harrow passasse uma vibe muito de Sherlock Holmes (sendo altamente dedutivo e observador; e homem da verdade absoluta e da racionalidade), por outro lado tentam com que Harrow seja alguém com quem empatizar porque o pobre coitado tem uma filha que não gosta dele. Não entendo se é suposto acharmos piada às deixas dele ou se devemos levá-las a sério. Há algo demasiado conflituoso em relação a Harrow, conflituoso o suficiente para que a série, que podia até ter algum interesse, se torne completamente aborrecida. Não há empatia, não há conexão. Por outro lado, fica o bichinho de saber o que fez Harrow assim de tão mau. Mas sabem que mais? Para mim não chega.
Mas vou ceder: se forem daqueles que comem policiais como quem come cereais ao pequeno almoço, força! Pode ser que a falta de qualidade seja só impressão minha.
Joana Henriques Pereira