A morte de alguém, mesmo numa série, costuma levar o telespectador para um lado trágico da história, numa situação onde não se costuma encontrar muita piada. Back, no entanto, mostra-nos o contrário com uma pitada de humor negro no meio da tragédia, principalmente quando as personagens começam a entrar em conflito. Esta nova sitcom britânica da Sundance Now junta dois protagonistas totalmente opostos com um elemento em comum: o seu falecido pai.

Comecemos por falar de Stephen (David Mitchell), um homem com pouco sucesso na vida. Ele tentou estudar para ser advogado e desistiu dos estudos a meio, é divorciado, sofre de asma e, infelizmente, o azar parece andar sempre atrás dele. Não parece ser muito compreendido pela família, mesmo quando era pequeno. Acontece que os seus pais sempre adotaram crianças ao longo dos anos por curtos perídos de tempo, tendo sempre a casa cheia de crianças, fazendo com que Stephen recebesse pouca atenção. Além da grande família que Stephen sempre teve, os pais ainda têm um pub bastante conhecido na cidade.

Depois, do outro lado, temos o carismático, charmoso (e mentiroso) Andrew (Robert Webb), que foi um dos muitos filhos adotivos do casal, Ellen (Penny Downie) e Laurie (Matthew Holness), que afirma que os cinco meses passados com a família de Stephen foram os melhores da sua vida e onde se sentiu verdadeiramente amado. Toda a gente adora Andrew! A mãe de Stephen afirma logo que ele foi o melhor filho adotivo que teve e adora realçar todos os sucessos que ele já teve ao longo da vida: fala basco, foi médico, grande empresário, teve um café em Sydney, foi designer de interiores em Lisboa, fotógrafo, incorporador de imóveis, manager de uma banda de heavy ska, entre outros… Todos parecem acreditar nele, menos Stephen, pois claro, que nem sequer se lembra dele como irmão adotivo!

E estes dois juntam-se no funeral do pai biológico de Stephen e adotivo de Andrew, Laurie, dono de um conhecido pub na cidade. Stephen sente-se pressionado pela sua família a despedir-se do seu pai com dignidade. Toda a gente anda atrás dele a perguntar “Então já te despediste dele?”; “Já disseste uma última vez que o amavas?” e Stephen não consegue arranjar a coragem para o fazer. Só quando está sozinho em frente à cova do seu pai, depois do funeral, é que começa a deixar sair as primeiras palavras de despedida e aí é interrompido pelo seu irmão adotivo, que lhe estraga o momento todo. O verdadeiro conflito começa quando Stephen tem imensas ideias para seguir com o negócio do pai e parece que Andrew também. Este irmão adotivo de meses aparece sabe-se lá de onde e pretende tirar as ideias a Stephen, pretendendo ser o verdadeiro sucessor de Laurie.

Apesar de simples, esta comédia tem potencial. Achei bastante piada a todos os pequenos pormenores da vida azarada de Stephen e à maneira como o “grandioso” Andrew se intromete na sua vida. Ainda vai haver muita complicação entre estes dois nos próximos episódios, nomeadamente acerca de quem irá gerir o pub. Há que apontar para os pequenos flashbacks que acontecem no episódio com diferentes expectativas, de acordo com a personagem, que foram bastante bem realizadas, notando-se a felicidade da infância de Andrew e um tom mais melancólico da infância de Stephen. Por último, esta interpretação séria, mas engraçada dos atores (sempre com um toque de humor negro) foi a cereja no topo do bolo desta sitcom.

Cristiana Silva