A ABC apresenta-nos uma peculiar proposta para os próximos tempos. É difícil definir em que estilo Kevin (Probably) Saves the World se encaixa porque, na verdade, não se encaixa propriamente em nenhum. Acaba por ter o seu próprio estilo, o que não é necessariamente bom.
Kevin (Jason Ritter) é o protagonista da série. Acaba de passar por uma tentativa de suicídio, após ter ficado sem o seu emprego e sem a namorada. Na série é-nos apresentado quando visita a sua irmã Amy, que recentemente ficou viúva, e a sua sobrinha Reese, que atravessa uma fase de rebeldia típica da adolescência. Neste quadro tremendamente dramático vemos personagens que não parecem encaixar na sua própria história e o exemplo mais óbvio é mesmo Kevin, que aparenta ser um adulto despreocupado e não uma pessoa excessivamente depressiva que esteve à beira do colapso, vendo a morte como a única saída.
Na primeira noite em que Kevin estava na casa da irmã, Amy é levada de helicóptero na sequência da queda de 35 meteoros, pois, ao que parece, além de professora, é especialista na área e consultora do governo. Para além dos 35, um meteoro adicional cai momentos mais tarde junto da casa deles. O estrondo acorda Kevin e Reese e a curiosidade de investigar leva-os até ao local do impacto. Reese tem uma relação de quase indiferença para com o seu tio, mas a queda do meteoro subitamente, e de modo algo inconsistente, tal como grande parte da narrativa, inverte essa relação.
Kevin toca no meteoro e esse é o momento que despoleta a trama que daqui para a frente será a essência da série. Aquele toque teve algo de mítico que coloca uma “anjo da guarda” (Yvette) no caminho de Kevin, que tem agora uma missão, espalhar a bondade pelo mundo. Só Kevin a vê e, por isso, aos olhos dos outros, as cenas de diálogo entre os dois parecem ser apenas Kevin a falar sozinho e a alucinar. Yvette traz-lhe essa missão de “pregar” a bondade com boas ações e a ideia de que haverão mais 35 mensageiros, correspondentes aos outros meteoros que caíram. Daí para a frente o piloto só fica mais e mais ridículo e sem sentido.
Demasiado leviana para ser uma comédia, demasiado ridícula para ser um drama, demasiado inconsistente para ser uma série com sucesso. Tinha alguma curiosidade em relação a esta série, cujo trailer me sugeriu que fosse uma comédia descontraída e divertida. Lembro-me de Jason Ritter há alguns anos numa série que durou apenas uma temporada, The Event, e na altura gostei do desempenho dele. Ele é instintivamente empático, mas não encaixa na história de Kevin e depois deste piloto quer-me parecer que Kevin (provavelmente) não salva o mundo…
André Borrego