Outcast – 01×01 – A Darkness Surrounds Him (Pilot)
| 04 Jun, 2016

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E livrai-nos do Mal †

Outcast é a nova série de drama e horror produzida pela Cinemax e que em Portugal será transmitida na Fox. Com o que é que podem contar? Exorcismos violentos, cenas macabras, mas também uma história mais complexa por detrás de tudo isso.

Certamente que neste últimos tempos já ouviram bastante vezes o nome e/ou viram publicidades a esta nova série. A popularidade e o interesse de Outcast devem-se a essencialmente a três fatores. Primeiro, e aquele em que todos estão a pensar, The Walking Dead! Claro que ter uma série mundialmente famosa ajuda quando outra do mesmo criador é lançada. Segundo: Robert Kirkman. As ideias geniais, profundas, negras e arrebatadoras já nos conquistaram uma vez e, acreditem, vão conquistar outra vez. Terceiro, mas não menos importante: Paul Azaceta. O trabalho deste artista nos comics, e cujo estilo é mantido na série, complementa e revigora aquilo que Kirkman quer transmitir. A série é baseada na banda desenhada com o mesmo nome que é publicada pela Image Comics.

Como principais estrelas do elenco temos: Patrick Fugit como Kyle Barnes, também chamado de Outcast; Philip Glenister como o Reverendo Anderson, que ajudará Kyle a perceber melhor o que se passa com ele e como usar os seus “poderes” para lutar contra o mal; e Wrenn Schmidt no papel de Megan Holter, a irmã adotiva de Kyle e a âncora que o prende à terra depois de todos os desastres por que ele passou.

O genérico, se repararam, é muito semelhante a TWD, mas isso indica o mesmo quando lemos um livro de José Saramago (ou vá, outro escritor qualquer de quem gostem), o estilo está lá, a qualidade está lá.

Esta é uma série muita intensa! Apesar de ter momentos mais parados, que servem como base para a explosão de outros, quando estes rebentam, deixam-nos pregados à cadeira.

Embora o piloto faça obviamente lembrar o filme O Exorcista (1973) e o fator de horror esteja presente, o objetivo parece ser mais o de arrepiar e não propriamente invocar aquele medo primordial. Mal começa, a série marca-nos com Joshua, um rapazinho num estado completamente típico do que estamos habituados a ver numa pessoa possuída por um demónio. Mesmo assim, já estando à espera do costume, conseguimos ser surpreendidos e sentir o ritmo cardíaco a aumentar – aquela cabeçada repentina até fez tremer a televisão – e a cena de Joshua a comer as batatas fritas mostra que a série não tem medo de explorar aspetos mais perturbadores.

Um outro ponto forte no piloto foi a construção da premissa. Os produtores conseguiram balançar corretamente a dose de mistério com as informações que nos eram dadas e as relações entre as diversas personagens.

Kirkman tem sempre segundas intenções ao contar as suas histórias. Em TWD temos muitos zombies a servir de fundo, mas o foco é mostrar até onde as pessoas estão dispostas a ir para sobreviver. E em Outcast temos como fundo os demónios, a religião e os rituais exorcistas, mas se aprofundarmos podemos encontrar ligações a problemas domésticos, isolamento social e violência física.

Kyle é a nossa personagem principal, ao longo do episódio ouvimo-lo falar muito pouco, mas nem por isso deixamos de perceber que é uma pessoa extremamente atormentada pelo passado e que se ainda não desistiu da vida foi por muito pouco. Em criança foi maltratado pela mãe, que sofreu de possessão demoníaca, e não só lhe batia em ataques repentinos como o fechava na despensa, deixando-o a viver constantemente com medo. Depois de ser adotado pela família de Megan e a vida dele normalizar, podendo até encontrar o amor, casar-se e ter uma filha, a escuridão volta para o assombrar e desta vez é a esposa que é possuída e tenta matar a filha. Será que os demónios têm algum tipo de atração por Kyle?

Megan é a irmã de Kyle e a única que ainda não desistiu dele. Parece ser também a única coisa no passado dele que ainda não foi manchada pela escuridão. Apesar de Kyle ter desistido dele próprio, Megan não está pronta para desistir do irmão, porém Megan acredita que Kyle é bom e que pode melhorar, mas não acredita na história de demónios e possessões.

Anderson é um padre, mas não o típico religioso. No meio de jogos de cartas, álcool e tabaco vemos que o reverendo está cheio de vícios e até é bom para praguejar. No entanto, parece estar familiarizado com exorcismos e acredita tanto em Deus como na luta contra o mal e que Deus lhe deu o poder para combater essa escuridão. Anderson é muito importante, porque apesar de Megan estar a ser capaz de fazer Kyle aguentar um dia de cada vez, é Anderson que o vai fazer sair de casa e dar-lhe um novo propósito. Estando a par da situação que ocorreu com a mãe de Kyle e achando que este possui algum conhecimento ou algum tipo de poder que o ajudou a expulsar o demónio da mãe, Anderson pede ajuda a Kyle para tratarem de Joshua.

O ambiente onde se passa a série também parece funcionar muito bem – Rome, West Virginia – aparenta ser um meio mais rural com uma pequena comunidade, onde tudo o que acontece se sabe no dia a seguir e onde as pessoas são muito ligadas à religião. Por essa razão, a população sabe bem aquilo por que Kyle passou, mas sob uma perspetiva não sobrenatural, dando o tal ponto de vista mais real e ligado a nós e às situações do dia a dia. O cruzar com as duas velhinhas no supermercado, a reação do marido de Megan e a conversa com o vizinho de Kyle demonstram um nível dramático com o qual nos podemos identificar.

Nos elementos sobrenaturais e no exorcismo em si vemos elementos já conhecidos como pessoas a flutuar, com a voz alterada e a cuspirem uma gosma negra quando são libertadas do demónio, mas também elementos mais característicos como a expressão da violência (Kyle basicamente espancou o demónio de fora de Joshua) e o choque de crenças entre a fé (de Anderson) e o que é real/palpável (de Kyle).

Ficaram algumas arestas por limar, nomeadamente alguns diálogos menos fluidos e a interação entre as personagens precisar de ser mais natural nalguns momentos, mas nada que não se espere que melhore com o passar da série. Uma outra preocupação, mas numa nota mais aparte, incide na continuação da série, sendo que o número de capítulos dos comics não está assim tão avançado. Normalmente quando séries baseadas em livros ou bandas desenhadas apanham ou ultrapassam o material de origem as coisas tendem a complicar-se, mas isso será um problema que, se surgir, será uma boa notícia, porque será sinal de que a série está a ser sucesso.

Entre várias questões que são levantadas ao longo do episódio, ficam algumas para pensarmos ao longo desta semana:

  • O que realmente aconteceu entre Kyle, a esposa e a filha?
  • Porque está a mãe de Kyle em coma?
  • O que estava o demónio a tentar fazer a Kyle? Possuí-lo também? Roubar-lhe a alma?
  • O que é a Grande Fusão que o demónio refere?

Para um piloto, que é sempre uma aposta e que raramente satisfaz por completo, “A Darkness Surrounds Him” foi um episódio muito cativante e um excelente trabalho pelo diretor Adam Wingard, que adaptou o 1.º capítulo dos comics conseguindo moldar os elementos para melhor funcionarem na televisão. O que acharam vocês? Acham que a série tem futuro? Deixem o vosso comentário.

A temporada contará com 10 episódios e já se espera uma 2.ª temporada para o ano que vem. No site do Séries da Tv teremos reviews regulares que podem (e devem) acompanhar. O próximo episódio irá para o ar dia 10 de junho e eu estou entusiasmado para ver o que se segue. Até lá, cuidado com os sítios escuros.

Emanuel Candeias

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