Marseille é a primeira produção da Netflix em língua francesa – aliás, a primeira série de produção própria em qualquer língua que não o inglês e isso, só por si, é um marco, tendo em conta o sucesso meteórico que a Netflix tem tido ao competir com os canais tradicionais desde o início da década.
Mas é pena que esse marco se perca em Marseille.
Que há a dizer desse primeiro episódio? O piloto apresenta-nos a trama, que anda à volta de umas eleições para mayor da cidade francesa de Marselha, e cuja preocupação principal se centra num projeto para o porto de Marselha, que inclui um casino. Esta coisa do casino é-nos apresentada como sendo altamente polémica, e divisória até, no seio do órgão de decisão da cidade de Marselha e a própria narrativa do episódio anda um pouco à volta das votações necessárias para que o projeto avance: primeiro, no tal órgão da Câmara Municipal, e depois no Conselho do Porto, que tem que vender as terras à câmara para que o projeto possa lá ter lugar.
No fundo, uma espécie de House of Cards, só que muito fraquinha. Em House of Cards, os trunfos estão na trama, na intriga, no personagem principal cujos traços característicos são muito da força motriz da narrativa e o chamariz da série em si. Em Marseille, nada disso tem peso para que a série seja apelativa. Vê-se o potencial do plot, mas é fácil desinteressarmo-nos das pequenas maquinações de Mr. Robert Taro, o mayor da cidade.
No fim de contas, ficámos sem saber o porquê de tudo: porque é que o projeto do casino é importante, porque é que é polémico, porque é que o rival de Taro deixou de ser seu amigo para passar a ser seu rival e qual a influência da vida da filha na vida política do homem principal.
Nota-se algum proveito na banda sonora, orquestrada pelo conhecido Alexandre Desplat, e na performance de alguns dos atores, nomeadamente de Gérard Depardieu, que consegue fazer o possível com o personagem que lhe é dado, e de Géraldine Pailhas, que interpreta a filha.
No fundo, Marseille vai ficar para quem quiser praticar o seu francês, porque para produção internacional fica aquém daquilo a que estamos habituados.
José Pedro Rodrigues