Depois de meses de espera, Vinyl, o novo drama de época da HBO, estreou finalmente. Do escritor Terence Winter e realizado por Martin Scorsese, juntamente com Mick Jagger, Rich Cohen e George Mastras, este piloto é tudo aquilo pelo qual se esperava, ou seja, sem surpresas quase nenhumas. Sabíamos que a banda sonora seria qualquer coisa de fantástica e sendo uma série da HBO, também sabíamos que haveria muito sexo e violência. E claro está, sendo definida no mundo do rock n’roll da década de 1970, poderíamos supor que haveria também uma abundância de drogas.
A série segue Richie Finestra (interpretado pelo fantástico Bobby Cannavale, Boardwalk Empire), dono de uma editora discográfica, a American Century, que tem como objetivo encontrar o próximo talento musical. A primeira vez que temos contacto com ele, este encontra-se num local muito degradado. Álcool e drogas. Está a um passo de ligar para um detetive, possivelmente para fazer alguma confissão ou revelar algo importante. No entanto, o barulho de uma multidão de jovens a correr pela rua fora para verem um concerto distrai-o e o instinto leva-o a segui-los e a abraçar esse concerto, que viria a ser caótico e destrutivo. A partir daí, o piloto leva-nos de volta ao passado que antecedeu esta introdução e mostra-nos os eventos que levam Finestra ao seu ponto de rutura.
Richie (que prontamente admite que o seu conto pode ser nublado por perda de células cerebrais e mentiras) conta com uma história recente repleta de lançamentos de álbuns falhados e algumas práticas e negócios obscuros, tais como o despejo de álbuns não vendidos no rio e uma contabilidade fraudulenta. Por causa disto, American Century está prestes a ser vendida a uma companhia alemã, mas tal venda depende da assinatura da banda Led Zeppelin. Esta venda não salvará os funcionários, mas permitirá a Richie e aos seus parceiros Skip Fontaine (JC MacKenzie), Zak Yankovich (Ray Romano) e Max Cassella (Julian Silver) salvarem-se a eles próprios.
Paralelamente, Richie luta contra um casamento em ruínas com uma ex-modelo, Devon (a fantástica e maravilhosa Olivia Wilde) e contra o seu vício em drogas e em álcool. Como se não bastasse isto tudo, Richie foi fazendo inimigos na sua “ascensão” profissional. Com o avançar do piloto encontramos alguns deles. Lester Grimes (Ato Essandoh), também conhecido artisticamente como Little Jimmy Little, um cantor negro soberbo que é enganado e abandonado por Richie (seu empresário na altura) e, em seguida, é ameaçado e espancado pelo seu novo proprietário. E Buck Rogers (Andrew Dice Clay), proprietário de uma estação de rádio que vai à loucura e ameaça boicotar Finestra, mas que, perto do final do episódio, acaba morto e com Richie ao barulho.
O piloto de Vinyl trabalhou muito bem a década de 70. Desde as modas aos penteados, passando pelas muitas drogas (cocaína e pílulas estão por todo o lado. Bebidas e erva como reflexão tardia). A juntar a isto temos toda uma cultura musical riquíssima. Se por um lado temos o estilo roqueiro, que já está entranhado na sociedade e é o centro das atenções na série – referência a bandas como Led Zeppelin, New York Dolls, Dusty Springfield, Alice Cooper, Velvet Underground, entre outras tantas, por outro lado, a série leva-nos também para outros estilos musicais em ascensão, como o punk, blues, os primórdios do hip-hop, etc. Para terminar, vemos tudo isto inserido numa Nova Yorque tremendamente suja e porca, onde para qualquer lado que se olhe só se vê drogados, álcool e sexo.
Superficialmente, Vinyl parece ser uma série sobre a tentativa de ressuscitar ou vender uma editora musical aos alemães (os apelidados e odiados nazis). No entanto, olhando mais profundamente, a série apresenta uma história narrativa longa e algo complexa (aqui ao estilo de Boardwalk Empire), com muitas histórias emparelhadas e nem os seus quase 120 minutos de piloto foram suficientes para as focar e nos elucidar. Curiosamente, tanto tempo de piloto e soube a pouco. Sim, para quem gosta de rock, vive de rock e é fã dos anos 70, esta série pode ser muito contagiante, quer por todo o ambiente, quer pela indumentária, quer pelas performances dos personagens.
Resumindo, o Pilot deu-nos uma introdução sólida, quer dos personagens, principalmente Richie, quer do mundo do rock n ‘roll. As drogas, a moda dos anos 70 e o teor geral da indústria da música nessa década são um ponto forte da série. Era uma época em que, claramente, se fosses atraente, podias ser tudo o que quisesses, uma época de sonhos e oportunidades. A série não foge a Scorcese e à sua marca. Cannavale e Olivia Wilde são fantásticos. Ray Romano é também uma excelente adição ao elenco. Excetuando talvez o piloto ter sido demasiado longo (mais longo que muitos filmes) foi uma estreia muito positiva e promissora. E estou curioso para ver se os produtores continuarão a trazer outras bandas de sucesso para a série, como foi o caso de Led Zeppelin.
Fernando Augusto