Estamos nos inícios dos anos 60 e Nova Iorque é a capital dos vícios. Vícios que aos olhos da lei são puníveis mas se forem manuseados e geridos com cuidado tornam-se grandes fontes de rendimento, isto engloba prostituição, jogo, lutas, contrabando, etc. Terry Muldoon (Edward Burns) é o detetive encarregado da divisão de Deveres Públicos da polícia nova-iorquina e compete a ele fazer com que a polícia e os encarregados das organizações ilícitas entrem em sintonia para ser uma situação lucrativa para ambos. Nisto conhecemos inúmeras personagens que se enquadram nos dois lados da lei, com as suas típicas intrigas mafiosas e negócios que nem sempre correm pelo melhor.
Este era o projeto mais ambicioso da carreira de Edward Burns, uma vez que ele protagoniza, escreve e realiza. É um exercício que requer uma responsabilidade tremenda assim que Edward se assume como um artista medíocre dentro da sétima arte e a série procura recuperar os tons da recentemente terminada Boardwalk Empire. Produzida por Steven Spielberg, Public Morals é uma desgostosa aposta no mundo do crime organizado, uma que é tão acelerada que nem permite ao público identificar-se minimamente com as personagens nem com o enredo que, por ser tão rebuscado, não causa o mínimo prazer a assistir. Apesar de o piloto parecer lançar uma história que tem pernas para andar, a escrita de Burns é atabalhoada e sobrepõe constantemente situações, despejando as personagens sem uma breve explicação. Isto não significa que não possa melhorar entretanto, para o bem da carreira de Burns, é bom que melhore!
Os visuais que captam essencialmente o necessário para entendermos a época em que se insere parecem arrancar a melhor performance. O tom sombrio não está presente, nem aquele carisma típico de exemplos televisivos ou cinematográficos da máfia, sendo que as personagens são todas elas descartáveis embora sejam interpretadas por um elenco competente. Isto porque ao longo do piloto surgem nomes como Robert Knepper, Timothy Hutton, Michael Rapaport, Katrina Bowden, entre outros. O perfil de Burns também não encaixa na personagem que representa, uma vez que a sua aparência jovem (embora o ator/ realizador já tenha 47 anos) não se enquadra num enredo feito para homens de 50 para cima. A sua postura algo cómica e vivaça é interessante a certa altura mas o físico e expressividade do mesmo não permite que o espectador o associe a uma posição de grande autoridade e respeito. Aliás, até Timothy Hutton, que tem uma presença especial no piloto, não é suficientemente convincente como um barão do crime e a sua personagem não teve tempo de antena suficiente para agradar ao público.
Sem um vilão carismático, nem um herói convincente, Public Morals corre o risco de desinteressar os seus primeiros fãs e tornar-se num exercício de televisão que se irá esquecer rapidamente.
Jorge Lestre