Quando saíram as primeiras notícias que referiam que The Knick seria realizada por Steven Soderbergh e que Clive Owen seria o protagonista, não havia outra alternativa: eu teria de espreitar o piloto! Trata-se de um drama histórico e médico bem desenvolvido que merece toda a nossa admiração.
Agora sim… Que comecem os spoilers!
O que nos é descrito na sinopse da série: na entrada do século XX, em Nova Iorque, o Hospital Knickerbocker (“Knick”) está na vanguarda da medicina! O Dr. John Thackery (Clive Owen), ou “Thack” como alguns lhe chamam, é nomeado para o cargo de Chefe de Cirurgia graças aos seus métodos vanguardistas, embora possam ser considerados deveras ortodoxos.
Antes de avançar com o enredo, tenho de mencionar a riqueza dos cenários! Quando John vai a caminho do hospital na sua carruagem-táxi, vemos a gloriosa Nova Iorque cujas ruas têm um pavimento de qualidade questionável e onde lixo e dejetos são os senhores do mundo… As casas são pequenas, sem qualquer ventilação e com pouca iluminação natural, ou seja, os gases libertados pelas candeias e a falta de higiene deixam o ar completamente viciado (excelente para o desenvolvimento e propagação de doenças). No Hospital o soalho de madeira, típico daquela altura, é de longe o menos adequado para instalações médicas…
O Knick, como já referi anteriormente, é um hospital vanguardista… Lá se desenvolvem as melhores técnicas cirúrgicas (serão as melhores quando atingirem o sucesso, entretanto fazem daquele hospital um matadouro). Mas, como é óbvio, não são as famílias abastadas que se sujeitam aos tratamentos experimentais… Daí entrar em ação um elaborado plano de corrupção que envolve subornos aos “maqueiros” para que transportem os doentes de baixa condição social para este hospital.
As imagens dos tratamentos médicos atingem um elevado grau de realismo… A primeira cirurgia que Jonh faz, liderada pelo seu chefe (Dr. Christiansen), é uma cesariana… A jovem mãe pede que lhe salvem o filho! O procedimento inicia-se… Tanto sangue! A dupla médica tinha 100 segundos para retirar a criança… Embora o tenham conseguido, tanto mãe como o bebé morrem… O Dr. Christiansen faz um discurso para a plateia mencionando que, embora tenha sido mais uma (das muitas) tentativa(s) que correu mal, aprenderam algo que poderá no futuro salvar imensas vidas… Vai para o seu gabinete e suicida-se…
Com Christiansen fora do caminho, só John tem experiência suficiente para assumir o cargo de Chefe de Cirurgia… Mas é aqui que acontece algo inesperado: Cornelia Robertson, filha do dono do hospital, sugere (leia-se ordena) a John que contrate o Dr. Algernon Edwards para o cargo de Chefe-Adjunto de Cirurgia… John, que já não gosta da ideia, passa a odiá-la quando vê a cor do experiente médico! Numa atitude puramente racista, muito típica na altura, era impensável aceitar um afro-americano para um cargo de elevado estatuto!
Quando está prestes a desistir, Algernon assiste à peculiar cirurgia que John faz e admite que quer aprender TUDO com ele… Simplesmente, John aproveitou o seu vício por cocaína (que na altura era um simples medicamento para as dores) em benefício do seu trabalho: como não poderia anestesiar o paciente, dopou-o com cocaína para o poder operar! Já para não falar que é ele que desenha e cria boa parte do seu equipamento médico.
Pronto, por aqui terminou o episódio piloto! A série é excelente… A música que acompanha quase todo o episódio é interessante e dá um caráter moderno e vanguardista a The Knick! O problema é que está sempre em repetição… A determinada já mal a podemos ouvir! De qualquer das formas temos de reconhecer o realismo constante que nos foi apresentado… É um dos aspetos mais cativantes! Com a união de Clive Owen (um dos meus atores favoritos) e de Steven Soderbergh, temos sucesso garantido!
Para finalizar, devo salientar que este não é apenas um drama médico… A série trata também temas bastante interessantes e pertinentes: o racismo; a discriminação feminina no mundo do trabalho e a sua consequente emancipação; a diferenciação social gritante; as adições; entre muitos outros aspetos… É provavelmente uma das mais realistas e completas séries que representa não só a evolução tecnológica relacionada com a medicina, mas também as problemáticas económicas e sociais que vigoram na época.
Nota: 8/10
Rui André Pereira