Contém spoilers!
Chegou o reboot de Roswell! Para os mais distraídos, tanto a série mãe como Roswell, New Mexico acompanham o quotidiano da pequena cidade homónima que, até 1947, era desconhecida do mundo, incluindo da maioria dos americanos. Contudo, a alegada queda de um objeto voador não identificado, de possível origem extraterrestre, fez correr rios de tinta na imprensa e tornou esta pequena cidade na capital da ovnilogia mundial.
Com as notícias deste reboot, muitas foram as especulações sobre as principais semelhanças/diferenças entre as duas séries, algo que não poderei ignorar no texto que se segue.
A primeira grande diferença está na idade dos protagonistas. Não, eles não estão no liceu, mas sim dez anos após a sua conclusão. Isto significa que temos adultos de 28 anos a protagonizarem uma série, cujos papéis anteriores eram de adolescentes de liceu. O que é certo é que embora alguns dos comportamentos no desenrolar da ação tenham sido dignos de uma série de adolescentes, temos aqui uma nova perspetiva que poderá eliminar algumas limitações – diria mesmo pontos fracos – da série mãe. Com um elenco adulto, o enredo pode ser mais complexo, mas também não exageremos na imaginação, trata-se de uma série da CW! A primeira impressão sobre as personagens diz-me que são mais sólidas, já com as personalidades plenamente formadas, o que traz uma maturidade não só nos diálogos, mas também na bagagem emocional que cada um carrega.
O (re)encontro entre Liz e Max foi um dos maiores clichés da história da televisão, mas esteve muito bem. A troca de olhares entre ambos mostra-nos que têm uma carga emocional forte reprimida e que o fraquinho sempre lá esteve, mas que foi reprimido por ambos. Não sei se foi demasiado apressada a ligação entre eles, mas o Crashdown estava lá e quase me fez pular de alegria. Já que estamos no Crashdown, deu-se a tão esperada e mítica cena da ressurreição de Liz. É verdade que os efeitos da ação deixaram algo a desejar, mas Nathan Parsons mostrou-nos que não está para brincadeiras e acabou por salvar parte da cena.
Em relação aos outros dois extraterrestres, Isobel esteve muito apagada, mas Michael foi a estrela da noite. Se na série original tínhamos um Michael discreto a raiar o apático, eis que o reboot tem um completamente diferente. Além de problemático, sendo visitante assíduo dos serviços prisionais da pequena cidade, temos aqui uma pessoa revoltada e, ao que parece, pretende voltar ao seu planeta de origem. Talvez seja uma suposição radical, mas o facto de ele optar por viver perto do local da queda e de recolher todos os vestígios que pode da sua nave mostram-nos que a Terra não tem sido propriamente fácil para ele e que procura uma segunda oportunidade no seu planeta natal. Mas a grande surpresa de Michael está mesmo no desenrolar, já prometido, para a sua personagem. Se esperavam que ele voltasse a ficar com Maria, podem esperar sentados. Mais uma vez, a CW presenteia-nos com uma história de amor homossexual que tem tudo para correr mal, vamos lá ver se o Alex consegue acalmar a fera! Só para terminar, Michael é talvez a alteração mais significativa relativamente ao guião original, o que é bastante compreensível. Temos, portanto, uma imensidão de potencialidades para este reboot concentrados em Michael, que no piloto da nova série mostrou mais de si do que na série mãe inteira.
Neste regresso, Roswell, New Mexico mostra-nos que não é só uma série superficial e faz claras alusões à imigração ilegal e à perseguição do governo de Trump e à construção do tão famoso muro fronteiriço. Mais uma vez está provado que é possível criar uma base de suporte verídica, fazendo das séries um ambiente de aprendizagens, ajudando mesmo a moldar opiniões. Venham mais destas referências político-sociais!
O piloto acabou por cumprir tudo aquilo que esperava dele: apresentou de forma coerente a storyline; contextualizou aquele que julgo que será o elenco principal; identificou os grandes vilões que porão em causa as identidades dos três extraterrestres; e atualizou-se relativamente à situação dos Estados Unidos.
Como veredito final, considero-me agradado não só pelo piloto que vi, mas também pelo amadurecimento considerável que a série sofreu, o que denota que foi um reboot pensado com muito cuidado. O guião esteve bem, dentro do expectável, e foi bem acompanhado pelo casting e pela fantástica banda sonora. Como negativo, parece-me que poderíamos ter efeitos especiais e os movimentos de ação elaborados com mais realismo, tais como a queda da nave, em 1947, e o tiro fatal de Liz. Resta-me apenas informar que serei seguidor da série.
Rui André Pereira