[Contém spoilers]
Depois de acordar na morgue de um convento, Ava (Alba Baptista) descobre que tem super-poderes e que há uma entidade poderosa e misteriosa que está à procura dela.
Para uma série com tanto potencial, Warrior Nun é extraordinariamente inconsistente. No geral, fica sempre um pouco aquém do que poderia ser. É como se tudo tivesse saído um bocadinho ao lado: o enredo, a performance, o próprio conceito… Tudo coisas das quais conseguimos dizer que realmente falha alguma coisa, sem no entanto sermos capazes de apontar exatamente o que é. A série não parece conseguir decidir se se deva levar a sério ou se deva aceitar a energia caótica e despreocupada que exsuda. Esta inconstância provoca uma alternância um tanto ou quanto frustrante entre momentos absolutamente brilhantes da parte de Alba Baptista alternados com momentos tão desnecessariamente dramáticos que, para os mais sensíveis, serão capazes de despertar verdadeiros sentimentos de vergonha alheia.
Quer dizer, abrem a série com a cena mais intensa do episódio: uma batalha, uma morte, o passar de um testemunho, uma jovem órfã que inesperadamente ganha poderes fantásticos. Nada de novo, certo? Os guionistas de Warrior Nun parecem pensar que não. Parecem estar absolutamente convencidos de que esta é a primeira vez que esta história está a ser contada e que como tal tem de ser contada com uma seriedade e com uma intensidade tal que ameaça cair no ridículo. O frustrante? Nada disto beneficia os atores. Há atores que nasceram para o over acting e que tiram o maior proveito desde drama exacerbado. No entanto, o elenco desta série não parece encaixar nesse modelo. Aliás, a protagonista, a nossa Alba Baptista, parece prosperar no extremo exatamente oposto. Não lhe chamaria necessariamente under acting porque ela fá-lo tão bem que fica mesmo no ponto, mas é nas banalidades (como saltar para uma piscina, correr na praia ou comer um pequeno-almoço luxuoso quando está esfomeada) que Baptista se revela brilhante. Atira-se de tal forma ao que está a fazer que torna estas “banalidades” momentos importantes, extremamente reveladores da personalidade de Ava. Com as suas feições alongadas e olhos grandes e brilhantes, podia ser quase uma Alicia Vikander nesses momentos de puro brilhantismo. Tenho muita pena que o piloto não lhe ofereça mais oportunidades para isso e espero sinceramente ver mais momentos destes daqui para a frente.
Sim, porque eu tenciono acompanhar a série até ao fim. Apesar das suas inconstâncias e da frustração que possam ou não causar, Warrior Nun é o tipo de série que tem tudo para os fãs de enredos ao estilo de comics: uma protagonista de quem facilmente gostamos e que, à falta de melhor expressão, “cai de paraquedas” no meio da ação, uma entidade poderosa, misteriosa e que pode ou não ser de confiança (neste caso com a Igreja à mistura, um guilty pleasure meu) e um enredo que é algo entre o caótico e o épico. Sim, a voice-over recorrente é um pouco chata; acrescenta pouco ao enredo e há que admitir que não está muito bem conseguida (a única verdadeira falha que seria capaz de apontar à performance de Alba Baptista), mas até este elemento (e até o facto de não funcionar a 100%) são típicos deste género televisivo/cinematográfico. Acrescentando as paisagens lindas, as festas e as cenas de batalha que a série promete, temos aqui um blockbuster de verão em formato série. Quem poderia pedir mais?
Raquel David