Num universo distópico em que a caça às bruxas terminou com um acordo militar que as compromete a serem armas militares, três jovens de backgrounds muito diferentes veem-se forçadas a trabalhar em conjunto para sobreviverem à recruta.
Uma coisa que Motherland: Fort Salem não é é imprevisível. Tudo o que encontramos neste piloto é mais do mesmo. Três adolescentes: uma legacy (alguém cujo único objetivo é viver de acordo com as expectativas da família, cujo legado, neste caso militar, é famoso e respeitado), uma miúda anti-sistema (opositora natural da nossa legacy), e uma terceira, genuína e de bom coração, mas forte – Abigail Bellweather (Ashley Nicole Williams), Raelle Collar (Taylor Hickson) e Tally Craven (Jessica Sutton), respetivamente. Um trio perfeitamente reconhecível que já vimos em inúmeras outras séries. Noutras circunstâncias, sim: às vezes uma delas é uma vilã que poderá ou não vir a revelar um coração de ouro e um passado traumático; outras vezes, este comportamento é resultado de um mal-entendido que acabou com uma amizade que pode agora ser reconstruída; ou pode até dar-se o caso de uma delas ser a “miúda nova” que ameaça desestabilizar o status quo. Em qualquer dos casos, as personagens mantêm-se, assim como os dramas e dificuldades que vêm associados a este tipo de dinâmicas. As previsões no caso de Motherland: Fort Salem? Estas três talentosas jovens vão ter algumas dificuldades em trabalhar em conjunto (dificuldades essas que serão agravadas pela rivalidade entre Abigail e Raelle), vão quase, quase, quaaase falhar redondamente para depois arranjarem uma forma de recuperar, através de uma mistura de trabalho de equipa e amizade relutante. A julgar pelo piloto, não falhei por muito.
No entanto, há que admitir uma coisa: resulta. A premissa é bastante simples e as personagens, assim como a dinâmica entre elas, é típica, e tudo cai nos moldes esperados. É pouco mais que uma fórmula, mas é uma fórmula que resulta. O piloto deixa algo a desejar e não é um arranque particularmente prometedor, mas a verdade é que estas personagens, previsíveis ou não, são interessantes e o nosso investimento emocional nas suas histórias é quase imediato. A história é porreira e o cenário de guerra abre muitas possibilidades para estas personagens, a ideia de uma entidade terrorista infiltrada nas forças militares americanas e na vida das nossas cadetes deixa-nos numa espécie de mini cliff-hanger que é o suficiente para nos levar a ver o próximo episódio. No fundo, é uma série que apesar de falhar no piloto, não deixa de ter potencial para melhorar.
Pessoalmente, estou disposta a arriscar e continuar a investir em Motherland: Fort Salem para ver no que dá. É uma série que se vê bem e que não desilude, especialmente no panorama atual de quarentena em que qualquer série com potencial é bem-vinda. Posto isto só não aconselho passarem à frente recomendações melhores. Para os fãs de séries como Charmed ou Army Wives, talvez seja melhor revisitar os originais. Para os fãs dos dois, arrisquem, é o tipo de mistura que ninguém pediu mas que acaba por ser bem-vinda.
Raquel David