Locke & Key é a nova série de fantasia da Netflix, cujo primeiro episódio começa com a morte inesperada do pai de Tyler (Connor Jessup), Kinsey (Emilia Jones) e Bode Locke (Jackson Robert Scott) e, por isso, os irmãos são obrigados a mudarem-se para a casa ancestral da família. Aí, descobrem que Keymansion é uma casa de segredos e fenómenos misteriosos dos quais os adultos parecem incapazes de se recordar. Mais ainda, a mansão parece estar ligada às estranhas circunstâncias da morte de Rendell Locke.
Uma coisa que desde logo abona a favor de Locke & Key é o facto de assumir desde o primeiro episódio uma das suas falhas mais óbvias. O facto de uma família de nome Locke (trocadilho com lock que, em português, é fechadura) viver numa casa chamada Keymansion (ou Mansão das Chaves) é, no mínimo, motivo para um ligeiro rolar de olhos. No entanto, como Duncan Locke (Aaron Ashmore) faz questão de mencionar num tom que reflete o eye-rolling interno do espectador, a família Locke tem propensão para os trocadilhos. Um detalhe pequeno e que talvez não faça diferença a toda a gente, mas que imediatamente atenua a natureza óbvia de alguns aspetos da série ao torná-los numa espécie de inside joke na qual estamos incluídos. Para além disso, devo confessar que gosto quando uma série assume desde logo as suas fragilidades. É quase como se dissesse: “Bom, isto vai ser assim. Se gostares, ótimo, se não, não podes dizer que não foste avisado” e é algo que me agrada imenso. Esta não é uma série que pretenda ser mais do que é, como aliás é revelado pelo nível da performance dos atores que, apesar de não estar abaixo do habitual, é meramente satisfatória.
O que a série é, de facto, é um drama familiar de tons sobrenaturais que parece bastante prometedor. Este primeiro episódio consegue colocar a morte de Rendell Locke no centro absoluto da ação, envolvendo as circunstâncias da mesma numa névoa de mistério que promete desenrolar-se lentamente durante ao longo da temporada, evitando ainda assim cair num tom melodramático que para além de desnecessário seria, no mínimo, desinteressante. Ao nível “pessoal”, a morte do pai de Tyler, Kinsey e Bode (que é absolutamente necessária ao enredo de Locke & Key) é tratada não como a fonte da personalidade destes miúdos, mas como a motivação por detrás do seu comportamento errático. Comportamento esse que, assumo eu, irá alimentar muita da ação.
Baseada nas novelas gráficas de Joe Hill e Gabriel Rodríguez, a série beneficia ainda do envolvimento de Hill, pelo que podemos, à partida, confiar que terá uma progressão coerente e satisfatória para fãs novos e antigos.
No geral, Locke & Key tem a qualidade de um excelente guilty pleasure. O nosso lado mais racional terá dificuldade em justificar o porquê, mas a verdade é que uma vez começando a ver não vamos ter grande vontade de parar.
Raquel David
NOTA: Locke & Key é a escolha da colaboradora do Séries da TV, Inês Silva, para sugestão do mês de junho de 2024!