Dex Parios (Cobie Smulders) é uma veterana de guerra com um grande problema de atitude e um ligeiro vício de jogo. Tendo retornado a casa para cuidar do irmão vai, com a ajuda do seu melhor amigo e bartender favorito, Grey (Jake Johnson), reconstruir a sua vida, a sua imagem e a sua carreira, tornando-se detetive privada.
Stumptown podia ser qualquer outra série sobre uma detetive, com um passado misterioso e menos que perfeito e um parente que parece ser a única pessoa com quem é simpática, mas arranja sempre forma de desiludir, mas não é. Por três razões: a maneira como foi executada e o elenco que tem (que vale por dois).
A primeira parte é simples, Stumptown está extremamente bem produzida. A banda sonora e a realização interagem na perfeição e estabelecem o background perfeito para as personagens, puxam do argumento os elementos que mais jogam a favor dos pontos fortes dos actores e transformam este suposto “drama” numa comédia bem disposta com elementos dramáticos, e jogam com a nossa expectativa assumindo e incorporando os clichés do género de maneira a fazer-nos sentir que estamos incluídos numa espécie de piada privada que ganha força pela sua familiaridade.
Com uma plot line genérica e personagens que não são novidade, esta série poderia facilmente ter caído no aborrecimento de um lugar comum. No entanto, a história é resgatada por uma banda sonora, cortesia de uma mixtape de hits dos anos 80 digna de um episódio de Glee, que, tendo ficado presa no carro de Dex, é uma presença constante e ganha quase o estatuto de personagem. Quanto às personagens em si, a veterana de passado complexo e problemático, que volta a casa um tanto ou quanto atormentada e com uma clara tendência para a auto-sabotagem, e que tenta agora redimir-se enquanto nega afincadamente que é isso que pretende, é reabilitada por uma Cobie Smulders que parece ter (re)encontrado a sua vocação. O que nos leva ao ponto seguinte.
No que toca ao elenco, esta série parece ser um verdadeiro êxito de casting. Se é verdade que o elenco define a série, eu diria que Stumptown é a prova dessa mesma afirmação. Smulders, que carrega o fardo maior desta produção, estabelece o caráter cómico deste drama, sem abdicar dos momentos de profundidade dramática de uma maneira que lhe é tão natural que se torna a base da série. Cabe então a Jake Johnson acompanhar Smulders, coisa que ele faz com uma sensibilidade extraordinária que só revela a excelente química (não forçosamente romântica) que existe entre os dois atores. Alicerçada nestes dois atores, mas claramente dependente da prestação de Smulders, o ponto forte de Stumptown são claramente as personagens. Esta fragilidade no que toca a um enredo, evento, novidade, ou mesmo um pequeno detalhe que a diferenciasse das séries deste género é, diria eu, o ponto mais fraco de Stumptown. A única coisa que estaria perto seria o protagonismo feminino de Smulders numa série mais gritty do que é habitual nestes casos. No entanto, dada a brilhante prestação de Smulders nesse sentido, não me parece que o género seja um fator relevante nesta personagem e neste contexto específicos, o que infelizmente nos deixa com falta de algo que nos agarre mais a esta série.
Engraçada e interessante, Stumptown é uma ótima série para ver numa tarde de domingo. Um completo must para fãs de Cobie Smulders, é o tipo de série que nos reclama a atenção durante os seus 45 minutos e que depois nos deixa retornar alegremente à nossa vida com a sensação de que valeu a pena a pausa. Eu fiquei fã. E vocês?