Surpreendida pelos poderes sobre-humanos do filho de oito anos, Nicole Warren (Alisha Wainwright) luta para proteger Dion (Ja’Siah Young) desta nova realidade e das suas implicações enquanto tenta encontrar uma maneira de o educar com os mesmos valores.
A primeira coisa a falar quando falamos de Raising Dion é, obviamente, de Dion. Apesar do protagonismo ser, na verdade, da dupla mãe-filho e do primeiro episódio recair sobretudo sobre a personagem de Wainwright, Dion é o ponto fundamental desta equação que, falhando, traria consigo a série inteira. Uma grande responsabilidade para Ja’Siah Young que, do alto dos seus meros oito anos, acarreta quase tanta responsabilidade como a personagem a que dá vida. E que vida lhe dá! Genuíno e 100% autêntico, Young incorpora Dion com o alento e a dedicação de um profissional. Claro que lhe poderiam ser feitos os devidos reparos, mas seria uma atitude tacanha e picuinhas de alguém que não sabe apreciar o naturalismo puro que os pequenos exageros de Young trazem à pessoa de Dion. Como Dion, e diga-se de passagem, como qualquer criança de oito anos, o fascínio e a alegria de Ja’Siah Young perante tudo aquilo a que é exposto é de tal forma verdadeiro que se torna inegável. Só por si, um fator suficiente para dar vida a uma série que tem claramente um argumento muito forte e um enredo que dá pano para mangas.
Quando juntamos a este pequeno fenómeno a prestação de Alisha Wainwright, deixam de nos faltar razões para não apostar nesta série. De uma forma completamente orgânica, Wainwright parece ter interiorizado e incorporado automaticamente uma das mais básicas verdades absolutas sobre Raising Dion: toda a série é sobre ele. Como uma verdadeira mão, Wainwright apoia e orienta Young de uma maneira que parece extrair o melhor dos dois atores, tornando-os uma dupla de peso. Wainwright faz também o trabalho fantástico de fazer sentir a ausência de Mark (Michael B. Jordan) em todos os aspetos em que Nicole sente a falta do marido. No entanto, nunca sentimos a necessidade da sua presença. Na verdade, apesar de Jordan nos aparecer em alguns momentos deste piloto, nunca se sente propriamente a necessidade do personagem de uma forma mais constante. Isto porque até isso Wainwright, numa bonita homenagem ao estatuto de single parent de Nicole, consegue compensar.
Escusado será dizer, a esta altura, que recomendo esta série a todo e qualquer amante de séries, com um aviso especial em bold e a sublinhado para os fãs de super-heróis. No entanto, sinto também a necessidade de frisar o seguinte: nunca, até agora, vimos uma série assim. Nunca até agora vimos uma série que explorasse a relação de uma mãe humana com o seu filho sobre-humano e a maneira como isso influencia toda a dinâmica parental sem alterar as verdades e os instintos mais básicos. Temos inúmeras séries e filmes sobre adolescentes que descobrem os seus poderes e lidam com eles, às escondidas dos pais, das mais variadas formas e sempre num formato independente típico das histórias coming-of-age. No entanto, Raising Dion é a primeira série que vejo que explora a possibilidade muito mais provável deste tipo de evento ocorrer mais cedo, de ser difícil de conter e de esconder e de ser uma coisa com que pais e filhos se veem forçados a lidar. Comovente, divertido e extremamente imprevisível, este enredo seria, à partida, tudo o que seria necessário para me fazer manter-me com a série, mas Raising Dion não se deixa ficar por aqui e acrescenta a este flash de génio as performances invejáveis de que já falei, assim como uma banda sonora que só pode ser descrita como (mediante o meu limitado conhecimento) “Atlanta, Geórgia em Concerto”.
Só resta, portanto, uma coisa a dizer. Se ainda não tiraste um bocadinho do teu tempo para ver Raising Dion, estás à espera de quê?
Raquel David