Baseada num telefilme de 2011, 3% é a primeira série com carimbo Netflix de origem brasileira. Quem assistir ao primeiro episódio pode pensar que já viu isso em algum lado, afinal de contas o plot está longe de ser inovador, ainda que tenha alguns traços próprios . Mas com certeza irão inevitavelmente lembrar-se de The Hunger Games, Mazze Runner ou até The Island ao assistirem a 3%.
Deparamos-nos então com uma população muito pobre, onde 3% dos jovens com 20 anos têm a oportunidade de se juntarem a um “lugar melhor” que contrasta com essa realidade quase desumana. Para estarem entre os 3% de eleitos, os jovens submetem-se a duras provas e é precisamente o momento das provas que marca o início desta série.
A primeira prova consiste numa entrevista individual, na qual os entrevistadores tentam levar os candidatos aos seus limites psicológicos para estes revelaram as suas fragilidades e os motivos pelos quais querem superar estas provas e entrar nesta nova realidade. Esta sequência serve simultaneamente para nos apresentar aqueles que serão à partida os protagonistas da série, mas acaba por ser redutora, e sem um contexto prévio onde nos seja explicado o conceito, ou quem são estes entrevistadores, o que acaba por não nos permitir apegar-nos a nenhum candidato nesta fase. Ainda nesta fase assistimos ao desespero dos que vão sendo eliminados, com um suicídio de um candidato, um tanto desproporcional e desenquadrado do rumo dos acontecimentos.
Mas adiante, chegamos até à segunda prova, onde é testado o raciocínio geométrico. Esta prova fica marcada por dois acontecimentos, um deles quando uma candidata, no meio de uma selva de “cada um por si”, decide ajudar um “adversário”, que por estar numa cadeira de rodas parte inevitavelmente em desvantagem, acabando os dois por serem bem sucedidos nesta prova. O outro acontecimento diz respeito a uma “batota” que salva o batoteiro e resulta na eliminação de um candidato que superaria este desafio. Esse segundo acontecimento não só nos revela até onde estão dispostos a ir os candidatos, mas levanta a suspeita das “regras do jogo”, pois o responsável máximo deste processo, Ezequiel, assiste a todas as provas e aprova esta “ilegalidade”, levando-nos a questionar motivações, a justiça e transparência do modelo desenvolvido. Nesta fase vão surgindo os primeiros conflitos e vão-se formando as primeira alianças.
Antes de avançarmos para a terceira prova, com um grupo cada vez mais reduzido, duas candidatas são isoladas, pois, ao que parece, a organização teve conhecimento que uma dela seria “Infiltrada da Causa”. Acontece que até este momento nós também não sabemos o que é a “Causa”, mas posso apenas deduzir que se opõe a este sistema dos 3%. Uma delas tem de morrer e aquela que parece posicionar-se como protagonista, Michelle, manipula a adversária para atacar a carrasca e isso causa a sua morte, ficando Michelle viva, apesar de tudo indicar que era mesmo ela a infiltrada.
Enfim, a série é competente ao ponto de nos deixar curiosos, pelo menos, quantos às próximas provas e confesso que até me apetece ver mais alguns episódios, apesar de desconfiar que a fórmula não resulte depois do final do processo de seleção dos 3%. Tem elementos que a tornam apetecível para os fãs de sci-fi, mas falha sobretudo em dar-nos um enquadramento, uma base de explicação sólida. Depois é também notório que a produção está a léguas da qualidade das demais produções Netflix, não só relativamente a cenários pobres, porque a série parece ser gravada num armazém abandonado, mas principalmente por alguns desempenhos medíocres, entre algumas excepções.
André Borrego