[Contém spoilers.]
Há muito que o dia 4 de maio (ou may the fourth) passou por nós, mas a força continua ainda do nosso lado neste agitado mês de junho. Sim, estou ciente de que esta introdução soaria muito melhor em inglês; sintam-se à vontade de me processar. De qualquer modo, a força esteve, sem qualquer sombra de dúvida, presente neste novo episódio de Legacies, apropriadamente intitulado A New Hope, em homenagem ao primeiro filme da saga que inspira este capítulo.
Presas numa nova alucinação (recorda os eventos de This Feels A Little Cult-y), Hope, Josie e Lizzie vêem-se obrigadas a procurar a saída do pesadelo de ficção científica em que agora se encontram. Entretanto, Alaric envia MG, Kaleb e Jed numa missão com o objetivo de fortalecer o seu espírito de equipa.
Vou ser bastante franca: há muito que não me divertia tanto com um episódio de Legacies. Admito que, após os eventos do capítulo anterior, estava um pouco reticente em relação ao que nos aguardava em A New Hope. Apesar de não me opor às usuais maluquices desta série, partilho que não sou a maior fã de Star Wars, pelo que não estava particularmente entusiasmada pela ideia de assistir este pequeno tributo. No entanto, a verdade é que a série superou em muito as minhas expectativas, apresentando à sua audiência um novo episódio bem estruturado que coloca, mais uma vez, o nosso adorado trio no plano principal, estando repleto de referências ao passado das nossas personagens e, de igual modo, às séries de onde são originárias. Consegue, em simultâneo, apelar a um sentimento de nostalgia, trazendo à memória momentos marcantes na vida das nossas bruxas, e lançar uma premissa emocionante para episódios futuros, surgindo, assim, como uma boa hora de entretenimento para os amantes deste universo criado por The Vampire Diaries e The Originals.
Numa galáxia distante, Hope, Lizzie e Josie encontram-se sob a influência de uma forte dose de nightshade, que as transporta para uma nova alucinação coletiva, baseada, em grande parte, numa história escrita por Lizzie quando a jovem bruxa tinha apenas 11 anos de idade. Naturalmente, a personagem usava o seu diário e as histórias nele contidas como forma de processar a sua realidade, sendo que este episódio aborda a sua relação com a sua irmã, Alaric, e também Hope. Sem grandes surpresas, a nossa protagonista aparece como vilã na história da pequena Elizabeth, enquanto Josie surge como um android cuja única função é servir a sua irmã. Não querendo entrar em grandes detalhes sobre as aventuras das nossas personagens, tenho a dizer que a porção inicial desta narrativa culmina com Lizzie a admitir não ser a escolhida – a heroína – nem mesmo numa história por si criada. Aquilo com que a personagem não contava, no entanto, é o facto de o seu diário ser domínio público, tendo o seu conto sofrido alguns remendos por parte de Josie e Hope, ao longo do tempo. Se, por um lado, Josie retificou o seu papel na história, acabando por ser muito mais do que a ajudante da Princesa Elizabeth Saltz-star, por outro, Hope remendou a sua relação com as personagens, ao mesmo tempo que criou um mundo no qual consegue derrotar o vilão e salvar a sua família.
Aqui, assistimos à minha porção favorita do episódio, aquela que vê The Hollow como vilã da história de uma jovem Hope que apenas queria regressar a casa, para junto daqueles que a amam. Não estava de todo à espera desta referência à vilã de The Originals, e muito menos de voltar a ver Summer Fontana nesta série, a contracenar com Danielle e as restantes atrizes. Enquanto fã da série que deu origem à personagem, achei as cenas entre as duas versões de Hope completamente devastadoras, mostrando o contraste entre uma criança que pretende a todo o custo salvar a sua família de uma força imensurável, e uma jovem adulta que sabe demasiado bem que esta história não tem um final feliz. A sua interação reforça ainda uma ideia que se tem tornado incontornável ao longo dos últimos episódios, levando Hope a aceitar, de uma vez por todas, que tem de se tornar numa tríbrida de modo a poder derrotar Malivore – o verdadeiro vilão deste episódio. A nossa protagonista não pode mais fugir ao seu destino, não quando a família que lhe resta se encontra em perigo e ela é a única que os pode salvar. Apesar desta transição não ter lugar em A New Hope, acredito que está para breve, e mal posso esperar por ver o verdadeiro potencial de Hope Mikaelson.
No geral, o tempo deste episódio passado no Planeta Mystic Falls aparece como uma excelente oportunidade para explorar novamente as nossas personagens principais, as suas inseguranças e os seus objetivos. Adorei o modo como esta narrativa permitiu à série abordar, de forma criativa, momentos importantes na vida do trio, que vieram a moldar a forma como estas personagens se relacionam e, também, como se vêem a si próprias. Este é, de longe, um dos capítulos com melhor roteiro desta 3.ª temporada, traduzido em tela por interpretações cativantes por parte do nosso elenco, em especial Danielle. Reforça ainda a minha máxima no que diz respeito a esta série: Legacies não precisa de se levar demasiado a sério para produzir bons episódios. É possível tratar de assuntos difíceis e emocionantes dentro de um contexto mais descontraído (ainda que, por vezes, ache necessário regressar à terra).
De volta a Mystic Falls – a cidade, não o planeta –, MG, Kaleb e Jed encontram-se na sua própria missão. Após os eventos de This Feels A Little Cult-y, episódio o qual introduziu um wendigo ao longo repertório de monstros da série, os três personagens partem em busca desta aberração de modo a poder derrotá-la de uma vez por todas, eliminando quaisquer traços deixados pela criatura nesta pequena cidade. Recordo que a mudança de escola por parte de MG é algo que incomodou bastante a Kaleb, em especial depois de o personagem ter visto o vampiro na companhia de Ethan, em Do All Malivore Monsters Provide This Level of Emotional Insight?. Sentindo-se substituído, Kaleb tem alguma dificuldade em aceitar o regresso do seu amigo de braços abertos, sendo que a sua storyline neste episódio culmina com uma conversa sincera entre ambos na qual resolvem os seus problemas. Mais uma vez, tudo está bem quando acaba bem, e estou feliz em ver um dos meus duos favoritos da série novamente em bons termos. Bom, este duo e Jed. Vou fazer de conta que o filme Eu, Tu e o Emplastro não me veio à memória.
Por falar em emplastro (ou, neste caso, talvez o termo “apêndice” seja mais apropriado), Alaric vê-se metido numa alhada quando Emma regressa e descobre que Dorian, o seu noivo (será marido? Sinceramente, não me recordo), saiu gravemente ferido da sua mais recente aventura com o personagem. Apesar de não ter grande – ou, na verdade, qualquer – interesse nos adultos desta série, a presença de Emma é sempre um aspeto bem-vindo em Legacies. Gostaria que a personagem ocupasse o lugar de Alaric enquanto headmaster da Salvatore School, mas sei que estaria a pedir demasiado. Ainda assim, a esperança é a última a morrer.
Quem parece não morrer é também Clarke, que regressa agora à série, tratando-se do monstro evocado por Andi no final do episódio anterior. Ainda que esteja agradavelmente surpreendida pela precisão do meu dedo que adivinha, estou desiludida em ver que o personagem será, novamente, um obstáculo a ultrapassar. A sua presença relembra-me do quão saturada estou no que diz respeito a toda a narrativa de Malivore, pelo que espero que Hope coloque um fim a esta história que se tem vindo a arrastar desde o início da série dentro em breve.
Como nota final, resta-me apenas reforçar que acredito que este é um bom episódio para Legacies, e lamento que chegue tão tarde nesta temporada que, durante imenso tempo, se mostrou incapaz de me cativar. Se há algo que estes últimos capítulos parecem mostrar é o facto de esta instalação começar, aos poucos, a melhorar de nível, agravando o meu desagrado perante a sua prematura season finale. Não espero que o próximo episódio tenha grande sucesso em substituir o final de temporada, não sendo esta função para o qual foi originalmente pensado, mas ainda assim acredito que será mais um capítulo interessante para a série, que nos deixará desejosos em descobrir qual será a sua continuação.
Legacies regressa já esta semana com o último episódio da sua 3.ª temporada, intitulado Fate’s A Bitch, Isn’t It?. Até lá, podes rever todos os capítulos da série através da plataforma de streaming HBO Portugal.
Inês Salvado