[Contém spoilers]
Wahey, estamos quase quase a acabar e por muito que vá sentir a falta de Killing Eve, é sempre entusiasmante chegar aos últimos episódios porque finalmente as coisas estão a acontecer. Eu sinto que esta temporada começou branda, teve uma pequena explosão ali no terceiro episódio para nos mostrar o que nos esperava, voltou a acalmar (até demais) e agora está a dar todas as cartas.
Outro episódio muito bom da série da BBC America, com diálogos incríveis, um balanço bem feito entre choque e previsibilidade e, até que enfim, mais conteúdo de Villaneve (que, para mim, será sempre e indiscutivelmente o melhor desta série, e do qual temos tido muito pouco esta temporada, ainda que a qualidade do que tivemos até agora tenha compensado a falta de quantidade). Eve (Sandra Oh) está de volta ao seu mais nobre objetivo de encontrar Villanelle (Jodie Comer), agora incentivada por muito mais do que a necessidade de ter mais informação sobre os Twelve, e a crescente proximidade entre as duas protagonistas ao longo do episódio, cuja tensão culminou naquela chamada, resultou muito bem. O próximo episódio será recheado da melhor dupla da televisão e o contraste entre as pessoas que eram no final da 2.ª temporada e as pessoas que são agora tornar-se-á ainda mais evidente. Se elas começaram um pouco em dois extremos, uma “boa” e outra “má”, com esta temporada – e ao longo de toda a série, na verdade – têm ambas caminhado em direção a um centro onde luz e escuridão se encontram num yin-yang harmonioso. Ainda que considere que o desenvolvimento de Villanelle tenha sido muito mais minucioso esta temporada, as primeiras duas conseguem aguentar o peso do pouco screentime de Eve nesta terceira e justificar perfeitamente a sua espiral em direção à sua própria perversão. Villanelle sempre disse que ela e Eve eram iguais e para a semana a assassina (ou ex-assassina) irá ver exatamente o quão certa sempre esteve.
Agora que nos aproximamos do fim é possível fazer uma reflexão sobre aquilo que nos desiludiu ou nos encheu as medidas. Se o que referi no parágrafo acima foi dos meus aspetos preferidos, ao lado do arco de Carolyn (Fiona Shaw), o que me desiludiu mais foi sem dúvida a personagem de Dasha (e porque é que não pressionaste só com um bocadinho mais de força, Eve?), a quem já não posso ver à frente. A superior atenção dada a Konstantin (Kim Bodnia) resultou bem porque a maioria dos fãs de Killing Eve sempre gostou dele, mas todo o tempo de antena destinado a personagens como Dasha (Harriet Walter) e Geraldine (Gemma Whelan) foi, para mim, totalmente desperdiçado. Na 4.ª temporada espero ver uma reorientação para as verdadeiras protagonistas, que são Eve e Villaneve, e menos folhagem extra que não acrescenta nada à série. Fiquei triste quando vi que Dasha ainda estava viva e estou a rezar para que justifiquem esta decisão no último episódio, dando à personagem dela algum propósito que não seja só tirar-me do sério com o seu sotaque exagerado.
O grande plot da temporada, para além da habitual busca estilo gato e rato entre Eve e Villanelle, ou digamos, entre o MI6 e os Twelve, foi a morte de Kenny (Sean Delaney) e o rasto do dinheiro. Vimos Villanelle, no final deste episódio, a ir em busca desse dinheiro, considerando que está praticamente confirmado que foi Konstantin quem o moveu desde o início, usando-o para, por fim, escapar da sua vida caótica e sufocante. Sabemos ainda que o próprio Kenny estava a seguir o rasto desse dinheiro, podendo indicar que foi Konstantin quem o matou para que o seu plano não fosse arruinado. Para sustentar essa teoria temos também o facto de que eles conversaram, efetivamente, ao telefone antes de Kenny morrer, tendo Konstantin alegado que o tema foi a paternidade do rapaz. Quem sabe tenham conversado sobre ambas as coisas, quem sabe não conversaram sobre nenhuma. É isso que iremos descobrir para a semana.
Já falei da qualidade dos diálogos neste episódio, mas vale a pena voltar a este aspeto uma vez que se espremermos muito bem todas as cenas deste sétimo capítulo, ficamos com muito pouco conteúdo. Não se passou muita coisa, para além dos últimos minutos em que uma pessoa morreu e outras duas quase. No entanto, se em episódios anteriores essa falta de andamento e ação se fez sentir, resultando em capítulos sem grande vida, neste sétimo isso não aconteceu de todo. E a razão disto é o argumento. Conversações em que sempre se está a dizer mais do que aquilo de que realmente se está a falar, significados entre linhas e curvas que nos deixam um pouco confusos. Este é um estilo muito próprio de Killing Eve, que eu sinto que é muito próprio, na verdade, de Phoebe Waller-Bridge, a criadora e escritora da 1.ª temporada. Na segunda e terceira, as argumentistas-chefe tentaram ambas recriar um pouco essa forma complicada e aliciante de escrever, adicionando as suas particularidades. A cópia raramente é tão boa como o original e a 1.ª temporada resiste como a mais forte da série, mas considerando tudo acho que é justo dizer que as sucessoras de Waller-Bridge, Emerald Fennel e Suzanne Heathcote, conseguiram dar seguimento à visão da criadora. O novo ponto de vista para cada temporada que a mudança de equipa de produção oferece continua a resultar bem, oferecendo um desenvolvimento à série que, em pé de igualdade com esse tal estilo de escrita de Waller-Bridge, também se tornou numa característica diferenciadora em relação a outros materiais televisivos.
Nunca escondi o meu descontentamento com a temporada que terminará para a semana, mas esse descontentamento nunca veio de um lugar de desgosto, mas sim de uma sensação de algo estar em falta. Mesmo sem esse algo, a série continuava a ser desfrutável e longe de ser má, mas nos últimos dois episódios, juntamente com o terceiro, essa sensação não esteve presente. O último tem a possibilidade de empatar (seriam quatro de que não gostei tanto, junto de quatro que adorei) ou solidificar a vitória da “equipa” dos episódios menos satisfatórios. É uma tarefa difícil, uma vez que esta temporada necessita definitivamente de um final bombástico, mas também sinto uma confiança na série para nos entregar diretamente essa bomba em casa embrulhada em papel às bolinhas e com um lacinho à volta.
P.S.: Devo dizer que, como mega fã de Taylor Swift, o uso da música Look What You Made Me Do nos créditos de abertura foi dos momentos altos da temporada.
Francisca Tinoco