O último episódio da 2.ª temporada de House of the Dragon, The Queen Who Ever Was, deixou-nos com uma sensação de frustração. Depois de uma temporada em que as peças foram meticulosamente posicionadas para o grande embate, o desfecho acabou por ser morno, quando esperávamos algo explosivo e sensacional. Embora a série raramente seja banal, com vários momentos que alimentaram a expectativa de um final excecional, o clímax nunca realmente chegou, deixando-nos apenas com a promessa de conflitos futuros.
A relutância de Jace (Harry Collett) em relação aos novos montadores de dragões foi aqui mais uma vez apresentada, uma hesitação que, em última análise, parece ser justificada por Ulf (Tom Bennet), cuja arrogância contrasta com a reverência e noção de responsabilidade demonstradas por Hugh (Kieran Bew) e Addam (Clinton Liberty). A preocupação de Rhaenyra (Emma D’Arcy) em relação a Ulf também faz sentido, especialmente após o alívio inicial de ter conseguido novos aliados aéreos. Este desenvolvimento sugere que problemas estão a caminho, mesmo com a maioria aérea assegurada por Rhaenyra e uma frota marítima à sua disposição, graças à aliança com Corlys (Steve Toussaint). Até porque para além deles ainda havia a ponta solta do exército, tendo assegurado os dois outros dois meios, estava na altura de ver em que pé é que estava Daemon (Matt Smith) em Harrenhall, que acabou por ser um dos grandes destaques do episódio.
Ao longo da temporada, o personagem esteve preso num ciclo de visões e alucinações que finalmente teve um desfecho. Embora possamos considerar um desperdício ter um personagem tão interessante limitado a este ciclo durante toda a temporada, o final desse arco foi, pelo menos, satisfatório. A última visão de Daemon foi um presente para nós, fãs do universo de Westeros, evocando memórias que nos deixaram saudades. Depois de testemunhar o que está por vir, com a canção de gelo e fogo, Daemon percebe que deve colocar de lado o orgulho e as ambições pessoais, ajoelhando-se perante a legítima rainha, Rhaenyra (Emma D’Arcy). Este momento foi crucial para o desenvolvimento do personagem e foi tratado com o peso e a gravidade necessários para que fizesse sentido dentro da narrativa.
Outro ponto interessante do episódio foi o papel mais central de Haelena (Phia Saban), cuja importância até então tinha sido secundária. A lógica de Aemond (Ewan Mitchell), ao tentar utilizar o dragão de Haelena no seu desespero, faz sentido, mas a surpresa veio com o facto de ser Haelena, talvez também partilhando (?) visões com Daemon, a única capaz de colocar o irmão no seu devido lugar. Este toque no argumento foi inesperado e bem executado, sublinhando que o destino já está escrito e que Aemond, por mais poderoso que seja, pode ser irrelevante nos desdobramentos dos acontecimentos. Esta impotência sentida por Aemond promete torná-lo ainda mais perigoso daqui em diante.
O melhor diálogo do episódio, contudo, foi entre Rhaenyra e Alicent (Olivia Cooke). Carregado de significado, ele resume basicamente as duas temporadas de House of the Dragon numa única cena. A tensão, o remorso, a culpa, a mágoa e até o amor eram palpáveis enquanto as duas conversavam, revelando que, apesar das suas divergências, os destinos de Rhaenyra e Alicent estão irremediavelmente entrelaçados. O plano que elas elaboraram, com a promessa de Alicent de poupar vidas, parecia promissor, mas a fuga de Aegon (Tom Glynn-Carney) de King’s Landing sugere que os tempos que se avizinham serão tudo menos simples.
Jason Lannister (Jefferson Hall) trouxe os momentos mais engraçados do episódio, oferecendo um alívio cómico bem-vindo e, ao mesmo tempo, assegurando aliados improváveis para os Verdes, que conseguiram também uma frota marítima. Aemond, agora em desvantagem, tenta fazer o que Rhaenyra fez anteriormente, mostrando que em momentos desesperados, toda a tábua pode parecer uma salvação. Deixo aqui também uma breve referência a duas questões que foram levantadas, o futuro de Rhaena (Phoebe Campbell) e o facto de Otto Higtower (Rhys Ifans) estar preso, mas a mando de quem? Quais serão as consequências/explicações destes duas linhas narrativas que para já ficaram soltas?
No geral, as últimas cenas fizeram um bom trabalho em mostrar a evolução das principais peças do tabuleiro ao longo da temporada e renderam momentos bonitos e contemplativos. Contudo, fica um sabor amargo de que se esperava mais. Pode-se argumentar que terminar uma temporada apenas na antecipação é sinal de uma escrita madura, consciente do seu rumo. Exemplos como Lost, que terminou uma temporada de maneira semelhante, mostram que este tipo de escolha pode ser poderosa, mesmo sem grandes explosões. No entanto, tendo House of the Dragon temporadas mais curtas e espaçadas por dois anos, é compreensível a frustração, já que esperávamos algo mais significativo para enfrentar a longa espera até à próxima temporada.
Apesar de tudo, seria injusto dizer que The Queen Who Ever Was foi um mau episódio ou, no geral, que se tratou de uma má temporada. House of the Dragon continua a ser uma das melhores séries em exibição e é com essa qualidade em mente que enfrentaremos este novo e longo inverno que começou agora.