The Red Dragon and the Gold foi o episódio mais emocionante da 2.ª temporada de House of the Dragon até agora. Deixámos para trás todos os cuidados e diplomacias e finalmente começamos a ver as reais implicações de tudo o que se tem estado a maquinar até chegarmos a este ponto. Claro que a série será sempre política, baseada em bons diálogos e construção de personagens complexas, pois isso é que faz a história mexer e evoluir. Contudo, os últimos minutos são a verdadeira razão pela qual nos sentamos todas as segundas-feiras em frente à televisão.
Antes disso, temos de falar sobre toda esta trama de Daemon (Matt Smith) em Harrenhall. Ele está completamente afastado do centro da ação, mas é evidente que muito do que virá a seguir passará por lá e por ele, devido à importância que ambas as partes lhe dão. Tenho a sensação de que todo este desenvolvimento de personagem é mesmo para acomodar a mudança necessária para que Daemon se torne uma peça central. Ele tem de lidar com todo o seu passado, com todas as más ações que levou a cabo pela amargura que sentia, e sair desse lamaçal para finalmente estar à altura do papel que lhe é pedido. Estou confiante que esse é o objetivo: enfrentar finalmente os fantasmas do passado e sair mais forte por isso. Caso contrário, será dececionante toda esta parte da jornada.
Um aparte para referir a personagem de Alys Rivers (Gayle Rankin), que trouxe um tom bastante apelativo a toda a parte da história passada nas ruínas de Harrenhall. Bruxaria, ruínas amaldiçoadas, presságios da morte de Daemon nas mesmas… Eu, pessoalmente, gosto bastante desta parte mais mística das histórias de George R. R. Martin. Penso que em Game of Thrones foi muito mal explorada com Bran (Isaac Hempstead-Wright). Poderia ter rendido muito mais do que apenas como veículo para explicar coisas que não conseguiram explicar de outro modo e mesmo com Melisandre (Carice van Houten), nunca se aventuraram muito nas raízes do seu poder. Espero que aqui tragam mais cenas interessantes e surreais como estas, sendo ao mesmo tempo pertinentes para o panorama geral, claro está. Sei que não é o ponto central da série, mas agrada-me bastante.
Outras duas personagens incontornáveis continuam a ser Ser Cole (Fabien Frankel) e Aegon (Tom Glynn-Carney). Falo delas em conjunto, pois o seu destino está umbilicalmente interligado. Aegon continua na sua espiral de insegurança, cada vez mais reforçada pelas constantes humilhações que continua a sofrer de todos os lados. A gota de água foi ter sofrido também agora às mãos da mãe. Do irmão seria expectável, de Ser Cole nem tanto, mas da mãe foi inesperado para ele. Alicent (Olivia Cooke) saiu completamente do caráter depois do fim do episódio da semana passada. A culpa e o remorso fizeram-na perder a sua sempre tão calculada postura e dizer umas coisas que normalmente não diria a Aegon. E ele, no seu ego já de si frágil, tomou a atitude esperada: impulsiva, tentando provar que todos estão errados. Isso vai-se refletir diretamente nos planos que Cole estava a maquinar sem nada passar por ele. Cole tornou-se um elemento crucial no desenrolar desta guerra, goste-se ou não. Ele tem a sua visão e, até agora, conseguiu o maior número de vitórias que qualquer lado pode proclamar. Não é por acaso que em todos os episódios se tem ouvido referirem-se a ele como o King Maker e ele tem-no sido de facto. O plano dele, que à primeira vista poderia ter sido incompreendido por todos, foi na realidade bastante astuto e a saber jogar com as armas de que dispõe. Colocou a isca no sítio e Rhaenyra (Emma D’Arcy), na sua tentativa de se estabelecer como uma força a ser reconhecida, caiu nela. Aegon e Rhaenyra têm mais em comum do que ambos querem admitir.
Finalmente, The Red Dragon and the Gold apresentou uma batalha com dragões nesta temporada de House of the Dragon e que batalha! Cheia de emoção, reviravoltas e um primeiro vislumbre do que está por vir. Quem não se sentiu como o Lorde Staunton (Michael Elwyn), a olhar imóvel, pasmado, para tudo o que estava a acontecer? Mas, para além de toda a estupefação de ver finalmente dragões a lutar (e houve isso em abundância), foi tudo muito bem feito, bem realizado, mas o mais importante são as implicações reais de tudo o que se passou naqueles minutos finais. Ambos os lados já haviam dito que a batalha não se iria ganhar só com dragões, que teria que haver exércitos. Embora concorde, não há como negar o poder e o impacto que ter dragões tem e, mais uma vez, o lado de Rhaenyra perdeu. Não consigo perceber qual é a lógica de ter mais dragões e não os usar para ganhar vantagem, em vez disso, perder um a um, caindo nos engodos dos verdes e vendo as suas forças a serem enfraquecidas.
Curioso que Rhaenys (Eve Best), aquela que mais se opôs a uma guerra aberta entre dragões porque sabia bem o impacto que isso tem, foi a primeira a ir voluntariamente, sendo assim também a primeira grande perda desta temporada. O momento em que ela e Meleys caem é o típico caso de que um gesto vale mais que mil palavras. Neste caso, uma expressão. E assim, todos os outros personagens presentes ficaram a perceber o que ela dizia, experimentaram em primeira mão a destruição a todos os níveis que esta guerra irá causar. A queda era inevitável, caiu a última réstia de compostura e é isso que vai espoletar tudo o resto que aí vem.
Não consigo gostar da personagem de Aemond (Ewan Mitchell), nunca gostei, mas sem dúvida nenhuma que ele possui uma inteligência aguçada que mais uma vez comprovou neste episódio. Deixar os dois dragões digladiarem-se para depois aparecer e salvar o dia foi o típico dois coelhos de uma cajadada só: livrou-se do inimigo mais formidável que talvez pudesse ter, pois Rhaenys, pela sua experiência, era muito possivelmente a adversária mais temível, e ao mesmo tempo viu a possibilidade de uma subida ao trono. Vamos ver como essa última parte lhe corre no próximo episódio.
Quem levou um banho de realidade foi Ser Cole, além de ter visto a insignificância que tem, em cima do seu cavalo, numa batalha travada nos ares, e ao mesmo tempo sentir o peso da responsabilidade pela possível morte do rei, devido a um plano concebido por si. Duro golpe para ele e iremos ver como se vai repercutir isso daqui para a frente.
No geral, este The Red Dragon and the Gold de House of the Dragon foi mais um episódio bastante bom. Finalmente, a tensão é palpável e o tal ponto de não retorno não foi só falado, como houve consequências reais de o terem transposto. Começa mesmo a pairar no ar o sentimento de início do fim. Vou destacar aqui também a banda sonora, que neste episódio foi fulcral para passar essa sensação. Todo o início do episódio foi em crescendo, culminando naquela que terá sido a melhor sequência até aqui, não só da ação, mas da história em si.