Depois de um excelente primeiro capítulo de House of the Dragon, que elevou a fasquia, este segundo episódio, Rhaenyra the Cruel, deixou um pouco a desejar, mas vamos por partes.
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que, à semelhança do primeiro, este episódio também se centrou num tema: a confiança. Ao longo do enredo, observamos a dissolução de antigas alianças e a formação de novas, num ambiente de crescente tensão. A ordem que Daemon (Matt Smith) deu no final do primeiro episódio foi a machadada final, não só para tornar a paz impossível, mas também para a relação com Rhaenyra (Emma D’Arcy), que nunca foi muito sólida, diga-se de passagem, e com razão, embora também haja uma desresponsabilização da parte dela.
Vimos também Aegon (Tom Glynn-Carney) afastar o avô para as sombras, cansado de ser um fantoche nas suas mãos. Este movimento de Aegon é particularmente significativo, pois ele desponta numa altura em que estava dominado pelo desgosto. Não que ele pareça ser um rei que saiba o que está a fazer desde o início, mas foi talvez das primeiras vezes em que, a bem ou mal, foi uma escolha dele, e totalmente dele, com tudo o que isso implica.
Estas quebras de confiança giram em torno de um nome em comum: Viserys (Paddy Considine). É impressionante como, mesmo depois de morto, Viserys continua a ser tão relevante e o epicentro da discórdia. Ele era a bússola moral para aqueles que apreciavam a sua calma e postura conciliadora, e um exemplo do que não ser para os que o consideravam demasiado complacente. De uma forma ou de outra, nunca um personagem ausente teve tanta presença.
Com a dissolução destas alianças históricas, cada rei teve a oportunidade de forjar novas. Rhaenyra confiou em Mysaria (Sonoya Mizuno), cujo impacto ainda não é claro, mas certamente terá relevância, pois nesta série raramente há ponto sem nó. Este movimento pode indicar uma tentativa de Rhaenyra de consolidar poder e influência em áreas menos convencionais, confiando em aliados inesperados. Aegon, por outro lado, elevou Ser Criston (Fabien Frankel) e posicionou-o a seu lado. Se as coisas já estavam agitadas, agora, juntando-se gasolina ao fogo, a combustão será acelerada. Esta aliança sugere que Aegon está disposto a tomar medidas extremas e potencialmente destrutivas para alcançar os seus objetivos, o que apenas aumentará a tensão e o conflito. A um nível menos impactante, claro, mas esta tomada de posição leva a outra cisão: Alicent (Olivia Cooke) e Ser Criston. Embora neste caso, para já, tenha servido apenas para alimentar ainda mais uma relação tóxica e já de si perigosa. Curioso que esta peça não encaixa de todo na postura de Alicent. É a única coisa da vida dela na qual se permite ser impulsiva. Se fosse um jogo de póquer, este era o tell dela.
Além destas trocas de posicionamentos, que trouxeram alguma novidade, este segundo episódio de House of the Dragon falhou noutra área em que geralmente acerta: os momentos impactantes. A ideia do cortejo fúnebre foi bastante boa, mas a sua execução deixou muito a desejar e acabou por não ter relevância. Habituados como estamos a um bom cortejo pelas ruas de King’s Landing (como o de Cersei), este ficou muito aquém do esperado. Não houve choque, horror, e dificilmente ficará na memória como um momento a reter – foi um tremendo potencial desperdiçado. Esperávamos um momento de grande impacto visual e emocional, mas o que recebemos foi uma sequência apressada e mal concebida e sem reais aparentes consequências. Serviu o propósito da narrativa, somente isso.
A sequência final foi muito noveleira e a tentativa de se criar dúvida acabou por sair gorada. Tudo, mais uma vez, de fácil resolução e sem grandes surpresas. Ora se faz o plano, ora está a acontecer. Por vezes, como fãs, queixamo-nos que as coisas não avançam, mas se andarem depressa demais desta forma, não vale a pena então. Estas cenas, que deveriam ter sido um clímax emocional e narrativo, acabaram por ser muito denunciadas e sem alcançar o impacto desejado. A ineficiente construção de suspense e a obviedade dos acontecimentos enfraqueceram o efeito que poderiam ter tido.
Fiquei desiludido com a previsibilidade das duas cenas que se queriam mais marcantes no episódio. Talvez esteja mal habituado, mas esperava mais. Mesmo tendo em conta a 1.ª temporada, este segundo episódio pareceu-me dos mais fracos, desinteressantes e sem substância que House of the Dragon já nos trouxe. No entanto, mesmo quando não roça a perfeição, a série continua a ser muito boa e confio que tudo terá uma razão de ser conforme avançamos na intrincada narrativa. A qualidade da produção, a complexidade dos personagens e a profundidade do enredo ainda mantêm a série num nível elevado. Fiquei curioso com certas pontas que ficaram soltas que poderão desenvolver-se em futuros episódios e trazer de volta a intensidade e o drama que esperamos.