[Contém alguns spoilers]
Após uma pequena eternidade, Grey’s Anatomy regressa aos nossos ecrãs com uma nova temporada e em dose dupla, sendo que a estreia desta 17.ª installment da série confia a All Tomorrow’s Parties e The Center Won’t Hold a ambiciosa tarefa de não só dar continuação e até mesmo encerrar alguns assuntos deixados em aberto pelo final prematuro da temporada anterior, mas também de lançar as bases para um novo capítulo da vida dos médicos do Grey Sloan, tarefa que concretizam com sucesso.
À semelhança do que se tem vindo a verificar em outras séries do género, Grey’s não perde tempo em mergulhar de cabeça na temática da pandemia que tem vindo a assolar o mundo. Com a ação dividida entre momentos passados e o presente (definido aqui como sendo o mês de abril deste ano), a série consegue, de forma eficaz, criar uma ponte entre tudo aquilo que aconteceu de importante no final da temporada anterior e a dura realidade que os nossos médicos, que se encontram nas linhas da frente deste combate, enfrentam.
Admito que tinha as minhas (muitas) reservas em relação à adoção desta narrativa, apesar de nunca ter duvidado que Grey’s a iria abordar. Num mundo já dominado por esta pandemia, vejo as séries como uma forma de escapismo à realidade, não tendo grandes desejos de ser confrontada com a mesma para além do estritamente necessário. No entanto, sendo esta série um drama médico, sabia que a temática seria inevitável – e quem melhor que Grey’s para aceitar o desafio que é consciencializar toda uma audiência para a realidade vivida todos os dias nas trincheiras desta pandemia.
O início deste episódio deixou-me um pouco de pé atrás. Com o regresso de Richard ao ativo a coincidir com um dos primeiros picos desta pandemia, Bailey vê-se forçada a colocar o médico a par das novas medidas de segurança implementadas, assim como do novo modo de funcionamento do Grey Sloan Memorial. Este pequeno walk-through por este “novo normal” confere aos momentos iniciais desta season premiere uma sensação de folheto informativo, que – felizmente – não dura. O que começa por ser uma demonstração algo aborrecida das restrições à entrada nos hospitais rapidamente se torna quase num documentário sobre as dificuldades sentidas (não só, mas principalmente) no início desta pandemia. Desde a falta de equipamentos (quer de proteção pessoal, quer de assistência), à incapacidade de socorrer a todos, sem nunca esquecer as implicações psicológicas de toda esta situação, Grey’s aborda de tudo um pouco. É uma espreitadela aos devastadores behind the scenes da pandemia que, apesar de ser dramatizada para efeitos televisivos, não se encontra tão longe da realidade quanto isso.
No que diz respeito às narrativas individuais das personagens que temos vindo a seguir ao longo dos anos, são várias as que têm algum destaque nesta première. A saúde mental de DeLuca finalmente é abordada de forma satisfatória e não só vemos o médico a voltar a si após aceitar por fim a ajuda que lhe é dada, como também retomamos a história de Cindy (do episódio Give a Little Bit), trazendo-a aqui a uma conclusão. Já Owen e Teddy não são tão sortudos, com a relação de ambos a deteriorar-se após Owen a confrontar com o polémico voice-mail. Num polo oposto, Richard e Catherine decidem tentar emendar a sua relação e Amelia e Link navegam na sua própria nova realidade enquanto pais. Jackson e Jo apresentam-se como o par improvável de que não estava nada à espera, com a proposta de Jo a levar-me completamente por surpresa. Ainda que inesperada, não posso dizer que odeie a ideia – em especial pelas gargalhadas que as suas cenas suscitaram.
Talvez o maior choque de todos, no entanto, é o cameo no final desta dupla estreia. Reservo o grande spoiler para os comentários deste artigo, dizendo apenas que a conclusão destes episódios iguala a intensidade sentida ao longo dos mesmos. Meredith, colapsada no alcatrão do parque de estacionamento do hospital, uma vez mais em risco de vida após longos e penosos turnos a tratar pacientes com Covid-19, relembra a todos o esforço da comunidade médica, que dia após dia se coloca em perigo para o bem de todos.
Assim, concluo que All Tomorrow’s Parties/The Center Won’t Hold representou um começo promissor deste novo capítulo de Grey’s Anatomy. Ainda que estes primeiros episódios se tenham focado mais em atar pontas soltas e lançar a nova temporada, acredito que a série será capaz de redimir alguns momentos menos bons do seu passado mais recente se aceitar o desafio que é manter a intensidade e ritmo destes novos episódios, sem se tornar demasiado penosa. Pela primeira vez em algum tempo, estou curiosa em ver o que reserva o futuro da série – e, como sempre, em saber o que acharam deste início de temporada.
A 17.ª temporada de Grey’s Anatomy terá a sua estreia em Portugal no próximo dia 18 de novembro, às 22h20, na Fox Life Portugal.
Inês Salvado