[Contém spoilers]
Cá chegámos ao final da temporada! Deveriam ter sido 25 os episódios, mas com a produção parada devido à crise pandémica que o mundo atravessa, Grey’s Anatomy teve de se reajustar e viu-se obrigada a terminar a temporada no 21.º episódio. Não sei se Put On a Happy Face sofreu alterações para servir melhor o seu propósito de encerrar a temporada, mas a verdade é que fez bem mais do que desenrascar uma despedida e conseguiu proporcionar-nos um bom final que fez sentido em termos de narrativa, tendo dado um desfecho a algumas das histórias mais importantes que já vínhamos a acompanhar há algum tempo.
O episódio trouxe-nos algum bom drama médico, uma dose generosa de desenvolvimentos – mas sem que parecessem forçados ou precipitados – e ainda uns quantos momentos divertidos que tão bem resultaram. Vou deixar o melhor para o fim, mas nem tudo foram coisas boas neste final de temporada, portanto o tom inicial não vai ser tão positivo.
As narrativas cirúrgicas de novos pacientes – como o caso da adolescente engraçada e sarcástica que queria ver o pai envolvido em encontros amorosos, que até foi interessante, contrariamente ao do jovem que estava prestes a subir na sua carreira desportiva, que não trouxe muito de novo – que chegaram ao Grey Sloan Memorial Hospital perderam-se um pouco no meio de outros acontecimentos importantes.
Seja como for, durante o tempo de ecrã destas histórias dava comigo desejosa por avançar para os nossos personagens principais, embora não me tivesse importado de passar certas partes à frente. Teddy, o que andas a fazer? Pois é, há uma certa consistência na médica, que desde há uma série de episódios comete erros atrás de erros no que diz respeito à sua vida amorosa, mas agora com a conivência de Tom. Pensei que ele não ia contentar-se com este lugar ingrato de second best na vida de Teddy. Porque é isso que ele é, certo? Para todos os efeitos, ia haver um casamento. Owen seria o marido, Tom ficaria com o papel do amante. É isso que ele quer ter com a mulher que ama? Porque é óbvio que da parte dele há amor verdadeiro, da parte de Teddy é que… Eu acho que nem a própria sabe muito bem. Só preciso é que alguém me diga: os vossos smart phones costumam desbloquear-se sozinhos, gravar aquilo que vocês estão a fazer e depois enviarem para alguém a própria gravação? Não? Pronto, o meu também não. Precisa da minha impressão digital, de reconhecer a minha cara ou de um código PIN de seis dígitos para desbloquear. O telemóvel caiu ao chão, portanto… Diria que era pouco provável que se tivesse sequer desbloqueado, quanto mais tudo o resto. Foi uma forma descuidada que descortinaram para Owen descobrir que andava a ser traído. Nada como as coisas à maneira antiga, em que a traição é testemunhada presencialmente. Infantilmente, Owen não foi capaz de confrontar a noiva e adiou o casamento com a desculpa de que tinha sido chamado para uma cirurgia de última hora. Para pessoas muito inteligentes e de quem se devia esperar uma certa maturidade, não só porque já não têm 20 anos, mas também pelas coisas que já passaram na vida, estes cirurgiões lidam muito pobremente com as situações. Não sei o que vai ser deste triângulo amoroso na próxima temporada, mas não estou ansiosa por descobrir.
Os momentos mais divertidos do episódio estiveram a cargo de uma Amelia em trabalho de parto. Seria demais que o nascimento deste bebé estivesse envolvido em dramas depois de tudo aquilo por que Amelia passou em Private Practice, mas em Grey’s Anatomy mais vale estar de pé atrás e depois mostrar alívio quando as coisas correm bem. O parto foi então tranquilo, o menino nasceu saudável e é até bastante fofo e giro. Link não pôde assistir ao momento porque uma cirurgia muito importante exigiu a sua presença, mas Bailey substituiu-o – e muito bem. Quando Bailey se sentou atrás de Amelia para a ajudar não consegui deixar de pensar que isso comportava algumas semelhanças com o passado, quando Addison se chegou à frente para não deixar que a cunhada passasse sozinha por um dos piores momentos da vida dela. Falando em cunhadas/irmãs… Sei que Maggie e Meredith tiveram um dia complicado, mas teria feito todo o sentido que, no final, aparecessem para ver como Amelia estava e conhecerem o sobrinho. De qualquer das formas, estou muito contente com a forma como as coisas correram. Amelia merece ser feliz e, ao que tudo indica, ela e Link parecem mesmo dar certo.
Por fim, Richard! Uma das primeiras coisas a passar-me pela cabeça foi que pudesse ser Alzheimer, mas depois percebi que não fazia sentido. Tinha que ser algo cirúrgico, algo que pudesse ser tratado. Estava certa! Os nossos médicos continuaram a sua luta para descobrir de que padecia Richard e, finalmente, Andrew encontrou o problema. Devia ter percebido que seria ele, já que se tem mostrado capaz de ver coisas que mais ninguém vê, por assim dizer. No entanto, agora tornou-se absolutamente claro que algo não está bem. A forma obsessiva como se debruçou em certos casos fazia adivinhar mais do que um grande zelo pelo seu trabalho, mas agora o próprio tomou consciência da sua condição. Será, portanto, aquilo que todos receavam: o mesmo problema de que o pai sofre. No entanto, isso não parece torná-lo menos brilhante. Foi ele quem diagnosticou Richard, foi ele o único a perceber que se passava algo de errado com a adolescente que apareceu com a tia… Veremos o que lhe estará reservado para o futuro.
Por falar em futuro, Richard deverá ter ainda muitos anos pela frente. Só que não com Catherine. Talvez tenha sido ríspido, mas acho que tem toda a razão. Por acaso é uma coisa que me faz bastante confusão nas séries: há sempre uma relação que está nas ruas da amargura, depois surge uma doença ou um acidente grave e tudo parece ser esquecido. É certo que há coisas que quase se tornam insignificantes quando algo de muito grave acontece, relativizando certos problemas, mas acho uma forma preguiçosa para juntar personagens. E a verdade é que Richard e Catherine não tinham pequenos problemas. Ela foi da maior mesquinhez possível quando comprou o hospital só para o despeitar. Isso não se esquece só porque esteve do lado de Richard durante a doença. Ainda para mais porque Richard não foi ele mesmo durante esse período. Agora que está de novo da posse das suas faculdades mentais, quer Catherine longe. Não o posso censurar e apoio a sua decisão.
Esta 16.ª temporada subiu bastante de nível em relação àquilo que foi, por exemplo, a qualidade da 14.ª e 15.ª no geral. Para uma série que já dura há tantos anos, Grey’s Anatomy não está numa má fase. Longe estão os anos dourados da série, mas isso é compreensível. No entanto, sinto-me satisfeita com aquilo que este ano nos trouxe. Este final de temporada esteve de acordo com isso e merece um louvor extra por ter conseguido apresentar-nos uma boa despedida que nem sequer tinha sido planeada para servir esse propósito. Não sei como seriam os restantes quatro episódios que não pudemos ver, mas não há dúvidas de que este foi um final de temporada mais do que digno.
Diana Sampaio