Grey’s Anatomy – 16×16 – Leave a Light On
| 10 Mar, 2020

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[Contém spoilers]

Uma nova semana trouxe consigo um novo episódio de Grey’s Anatomy, Leave a Light On, que traz aos fãs da série – e, de igual modo, às suas personagens – a tão aguardada e temida conclusão da história de Alex Karev.

“There’s really no good way to say goodbye.” É com estas palavras que Meredith conclui este episódio e, em oposição, é com estas palavras que decido dar início a este artigo.

Ao longo das últimas semanas, tenho vindo a partilhar a minha preocupação relativamente à possibilidade de Grey’s não ser capaz de produzir um final satisfatório para Alex. Afinal de contas, como é possível dizer adeus a quem, para todos os efeitos, já não está entre nós? De forma cautelosa, baixei as minhas expectativas, contemplei as várias possibilidades e preparei-me para o pior, nunca adivinhando que, ao invés de me preocupar com Alex ter ou não um final apropriado, me teria de ocupar com a noção de, talvez, o personagem não o merecer.

Como a grande maioria das personagens que, de uma ou outra forma, fizeram parte da minha vida durante um longo período de tempo, Alex veio a estabelecer um lugar predileto no meu coração. Com o passar dos anos, vi o personagem crescer e, de modo semelhante, cresci também. Aprendi com os seus erros, celebrei as suas vitórias, fui movida a lágrimas e gargalhadas e adorei cada momento. Leave a Light On não só apela a esse sentimento e ao lado mais nostálgico dos fãs da série ao basear-se fortemente em flashbacks de episódios anteriores, numa espécie de viagem ao passado que relembra o percurso de Karev, visto através das lentes de Meredith, Jo, Bailey e Richard, como também depende deles para (tentar) produzir algo minimamente aceitável.

Apesar de uma premissa que, a uma primeira vista, parece ter algum interesse, rapidamente me vi desiludida por este episódio. O conteúdo da montagem de flashbacks, acompanhado pela narração por parte de Alex de cartas que escreveu às personagens anteriormente mencionadas, pouco faz para ajudar a sua causa e, em vez disso, produz o efeito oposto. Infelizmente, quanto mais Karev (e, de certa forma, Grey’s) tenta justificar as suas ações, menos simpatizo com a sua causa e chego mesmo a dizer que, até certo ponto, este episódio conseguiu arruinar um dos meus personagens favoritos de toda a série.

De grosso modo, Alex explica que, aquando do julgamento de Meredith, contactou Izzie e descobriu que esta tinha filhos – um par de gémeos –, fruto daquela vez em que os dois congelaram embriões, algures na 5.ª temporada da série, quando Izzie passou por tratamentos de quimioterapia. Então, de forma completamente lógica e racional, Alex decide deixar para trás os últimos dez anos da sua vida sem pensar duas vezes – os seus amigos, a sua mulher, a sua pessoa –, e assume o seu papel como pai ao lado da mulher que sempre amou. Faz sentido, certo? Não só isso como também, de forma paralela ao que a série tenta fazer com a audiência, apela ao lado emocional das restantes personagens, chegando a justificar a sua partida a Jo ao criar comparações entre as suas infâncias atribuladas e as dos seus recém-descobertos filhos (um autêntico low blow, se me perguntarem).

Percebem já qual a minha posição relativamente a este final para o personagem. Acredito que os argumentistas de Grey’s Anatomy tropeçaram sobre uma série de circunstâncias e coincidências que, para melhor ou pior, jogaram, em termos de logística, a favor da história que tentaram contar para Alex. No entanto, apesar da sequência de migalhas que, por sorte, conseguiram criar, não fiquei, de todo, convencida com o desfecho da situação. Na minha opinião, muitas das ações de Alex vão contra aquilo que seria esperado do personagem após 16 temporadas de desenvolvimento e completamente contra aquilo que vimos em Alex no início desta mesma temporada. Ainda que, para todos os efeitos, Grey’s presenteie Karev com um final feliz, parece-me que o faz à custa do carácter do personagem e, por essa mesma razão, fiquei extremamente desapontada. Pouco a pouco, senti a minha empatia para com Alex dissipar-se, ao ponto de acreditar que, talvez, teria sido melhor para a série matar o personagem em vez de criar todo este drama.

De entre as várias personagens intimamente ligadas à história de Alex, é Jo quem mais me preocupa. A personagem a quem Alex deixa todos os seus pertences em Seattle, incluindo a sua percentagem do hospital, adota uma postura quase estoica perante as notícias, como se compartimentalizasse os seus sentimentos em relação à (honestamente, horrível e impessoal) carta enviada pelo seu agora ex-marido. Pessoalmente, não acredito que Alex algum dia deixaria Jo, muito menos desta forma, e acho que isso foi tornado claro no início desta temporada. Ainda que a série não lho permita, pelo menos neste episódio, espero que Jo tenha uma oportunidade no futuro próximo para explodir e exteriorizar aquilo que realmente sente.

Numa nota final, percebo que, dadas as circunstâncias da saída de Justin Chambers da série, Grey’s viu-se entre a espada e a parede, tentando fazer o melhor possível com o material que tinha à sua disposição. Acho louvável que os argumentistas não tenham decidido simplesmente matar o personagem, ainda que estaria a mentir se dissesse que, sabendo o que sei hoje, não preferia esse fim. Entristece-me que o longo desenvolvimento de Alex Karev, a semente do mal, pareça dar vários passos atrás devido às suas decisões, ainda que a série o tente mascarar como um caminho alternativo. No fim de contas, Meredith tem toda a razão. Realmente, não existe uma boa forma de dizer adeus.

Inês Salvado

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