[Contém spoilers.]
“I suppose you could say that I forgot to remember what she made me forget.”
Batwoman regressa agora da sua mid-season finale com Time Off for Good Behavior, o mais recente episódio da sua 2.ª temporada. Neste novo capítulo, enquanto Batwoman concentra os seus esforços em apanhar Black Mask, um novo inimigo emerge, desviando a atenção da bat team para um aflitivo problema em Gotham. Assombrado pelos erros do seu passado, Jacob embarca numa perigosa jornada numa tentativa de os erradicar. Por fim, Alice e Julia descobrem que têm um inimigo em comum.
No seguimento de Rule #1, este novo episódio de Batwoman continua a abordar as diferenças socioeconómicas e estruturais que influenciam o dia-a-dia dos cidadãos de Gotham, colocando em prática as ideias de Ryan para ajudar a sua comunidade através da criação de um centro comunitário, fundado pela nossa bat team. Na sua noite de abertura, no entanto, o centro é atacado por alguém com uma arma que dispara raios – ataque o qual surge imediatamente após um jornalista (Horten Spence, interpretado por Jaime M. Callica) questionar Ryan sobre a possibilidade de o seu projeto se vir a tornar num alvo.
O timing dos acontecimentos é algo suspeito, mas quando a nossa Batwoman questiona Spence, este explica-lhe que não é a primeira vez que algo como isto acontece. De facto, o repórter tem estado a investigar várias instâncias nas quais projetos destinados a servir a comunidade têm sido atacados, levando a que a bat team dê de caras com uma conspiração por parte do dono de uma prisão local para dificultar a vida aos mais desfavorecidos de Gotham, assegurando assim o fluxo de novos prisioneiros, forçados a uma vida de criminalidade pelas suas circunstâncias. Num plot que nos faz lembrar um episódio da série The Blacklist que vimos recentemente, o diretor desta prisão deixa os seus reclusos mais violentos sair do estabelecimento durante a noite, instruindo-os a destruir estes centros comunitários em troca de sentenças mais curtas. Ryan põe um fim à sua operação, mas a dura realidade é que o vilão desta semana representa uma crítica aos problemas sistémicos associados ao complexo industrial-prisional e à exploração de prisões privadas enquanto um negócio. Existem problemas demasiado complexos para que a nossa Batwoman os possa resolver por si só, mas é inegável que Ryan faz os possíveis para ajudar a comunidade em que cresceu – tanto no seu papel enquanto vigilante, como no seu dia-a-dia.
Infelizmente, as dificuldades que Ryan enfrenta neste episódio não começam e terminam com o seu ativismo. A encarceração de Angelique é algo que pesa sobre a nossa protagonista, que passa grande parte do episódio a lutar para ilibar a sua namorada de um crime que não cometeu. É impossível não comparar a dedicação de Ryan à de Angelique, que a deixou apodrecer na prisão durante dezoito meses, mas não nos vamos debruçar muito sobre o assunto. A verdade é que Angelique tem muito mais com que se preocupar para além do nosso escrutínio, uma vez que Black Mask necessita de forma urgente de um novo fabricante de snakebite, após o desaparecimento repentino de Ocean. Tendo trabalhado com o personagem durante muito tempo, Angelique é a pessoa ideal para a tarefa – na realidade, a única pessoa, visto que mais ninguém sabe a fórmula necessária para o fabrico desta droga. Isto coloca-a diretamente na mira de Sionis, o que certamente complicará o futuro da personagem e, é claro, de Ryan.
Ainda assim, um dos nossos aspetos favoritos de Time Off for Good Behavior acaba por ser o tempo passado com Julia e Alice, que formam uma espécie de parceria temporária de modo a conseguirem o que querem. No caso de Julia, a nossa agente procura descobrir por que razão perdeu as suas memórias do tempo passado em busca de Kate, enquanto Alice tem como objetivo apagar as recordações que tem da sua família, sem saber muito bem onde encontrar a pessoa certa para levar a cabo este procedimento. A vilã coloca Pennyworth no caminho de Enigma, deixando o resto ao encargo da agente. Não querendo entrar em grandes detalhes sobre aquilo que realmente se passou neste episódio, podemos dizer que, à semelhança do que aconteceu em Prior Criminal History, Alice e Julia surgem como personagens que contracenam de forma perfeita. A inexistência de qualquer tipo de cordialidade entre ambas leva a que pequenos insultos sejam algo comum, sendo que Julia não tem quaisquer restrições em expor as verdadeiras motivações de Alice, que a fazem muito menos ameaçadora do que esta gosta de parecer.
Este episódio culmina com a partida pouco cerimoniosa de Julia, que esperamos voltar a ver em episódios futuros. É difícil apontar uma única razão para gostarmos tanto da personagem, mas a verdade é que Julia causou um impacto positivo em nós enquanto audiência, apesar do seu limitado tempo de antena. Acreditamos que este não é o fim da sua história, muito menos com Enigma ainda à solta, infiltrada, direta ou indiretamente, nas vidas de todas as nossas personagens. Esperamos ainda que Alice reconsidere a sua decisão, e que a sua humanidade venha a ser explorada mais tarde ou mais cedo, sem que a personagem deixe por isso de ser a vilã de quem temos vindo a gostar.
Sob a influência de snakebite, Jacob tem uma alucinação na qual consegue salvar Beth da sua captura, concretizando um dos seus sonhos mais profundos: ser o herói na vida de Beth, ao invés do pai que não a conseguiu salvar durante todos aqueles anos. Uma experiência que começa por lhe ser forçada, acaba por se mostrar bem-vinda, isto porque a snakebite atinge especificamente as memórias associadas com arrependimentos e remorsos. Jacob fica viciado na substância, mas mais importante, fica viciado na possibilidade de alterar a sua realidade para uma em que consegue salvar Beth e, assim, remediar o maior arrependimento da sua vida. A Dr.ª Rhyme sugere a Jacob que o melhor é esquecer as lamentações do passado e passar a focar-se na relação com Mary, a filha que ainda sobrevive e com a qual ele tem uma hipótese de remediar relações. Claro que Jacob acaba por tentar solucionar a relação com a personagem da pior maneira possível, tentando pagar o seu afeto e tempo perdido, indo assim contra todos os ideais de Mary para a clínica. Uma atitude clássica para Jacob que apesar de tentar, não percebe que o dinheiro não resolve todos os problemas da sua vida.
Apesar de tudo, foi uma história interessante para o comandante dos Crows, uma personagem bastante odiada tanto pela audiência, como pela maioria das personagens em Batwoman. Foi a primeira vez que lhe foi dada uma verdadeira chance de explorar os seus sentimentos de profundo arrependimento e, com o que conhecemos de Jacob, esta é talvez a única parte da sua personagem que vale a pena explorar.
Voltando um pouco a Mary, a decisão de reabrir a clínica é um passo em frente no caminho que esta personagem tem vindo a percorrer, desde que a Kate desapareceu. Finalmente, voltamos a ver algum protagonismo e propósito para Mary que não envolve a procura por Kate, e não podíamos estar mais felizes com este desenvolvimento. Mais do que voltar a abrir a sua clínica, Mary reforça a ideia de que a clínica nunca vai ser legal, pois o seu propósito principal é ajudar as pessoas mais desfavorecidas. É o que Mary sempre fez e é bom voltar a vê-la na luta pela justiça de todos em Gotham, cumprindo o seu papel na bat team.
Por fim, uma pequena nota de apreciação aos escritores de Batwoman por não terem descartado Jordan, a irmã de Sophie, após um episódio e, ainda, por terem conseguido apresentar um pouco do seu trabalho social, num evento que se interligou perfeitamente com os acontecimentos principais de Time Off for Good Behavior. Esperamos que continuem a explorar Jordan e que possa haver mais momentos de interação com as restantes personagens, principalmente com Ryan. Gostaríamos ainda de ver Sophie apoiar a sua irmã no seu ativismo, distanciando-se um pouco do seu papel enquanto agente dos Crows e aproximando-se da comunidade que é suposto servir.
Podes acompanhar Batwoman todas as semanas através da HBO Portugal, com um novo episódio disponível na plataforma às terças-feiras.
Ana Oliveira e Inês Salvado