Hope continua a batalhar a sua humanidade em Everything That Can Be Lost May Also Be Found, um novo episódio de Legacies que marca o retorno da família Mikaelson a este universo começado por The Vampire Diaries. Em simultâneo a esta antecipada reunião familiar, Kaleb procura apresentar Cleo ao seu pequeno mundo, inclusive àqueles que mais influenciaram a sua jornada. Entretanto, Lizzie concebe um plano para cair nas boas graças de Jen.
Enquanto fã devota de The Originals, há muito que aguardava o momento em que os Mikaelson (os que restam, isto é) fizessem uma aparição conjunta em Legacies. Bom, esta é apenas uma meia verdade. Sendo sincera, trata-se de algo que antecipava à brava quando havia ainda algo de positivo a dizer sobre a série. Quando a sua presença representava muito mais do que uma tentativa desesperada de angariar visualizações para um spin-off atualmente moribundo.
Como deves ter percebido, sou da opinião que este apelo à nostalgia falhou redondamente o seu marco. Para começar, Hope não se encontra na presença física dos seus familiares, o que representa, desde logo, algumas limitações no que concerne à interação entre atores. Ao invés de ser arrastada até Nova Orleães ou de receber estes visitantes na sua escola em Mystic Falls, Hope é sujeita a uma projeção astral por parte de Vincent, que transporta a sua consciência até ao French Quarter, onde a protagonista passou grande parte da sua infância. Aqui, a jovem Mikaelson é gradualmente reunida aos seus familiares, que, numa tentativa de recuperar a sua humanidade, colocam nas suas mãos a decisão sobre o que fazer com as cinzas de Klaus.
Everything That Can Be Lost May Also Be Found poderia, de facto, ter sido um bom episódio para Legacies se a série tivesse decidido dedicar toda a sua atenção família Mikaelson. A ideia dos parentes de Hope é razoável, tentando usar a relação da tríbrida com o seu pai para despertar a sua humanidade adormecida, mas o tempo passado com estes personagens não permite muito mais do que apelos superficiais da sua parte ou comentários mesquinhos por Hope – claramente utilizados como substitutos de um verdadeiro (e merecido) outburst que nunca chega a acontecer. Novamente, Legacies recusa-se a aprofundar o trauma vivido pela sua protagonista, limitando-se a uma abordagem mais rasa que, apesar de permitir o regresso da sua humanidade ao plano principal, não concede a Hope o mesmo dramatismo de que gozaram outras personagens neste mesmo universo aquando do retorno dos seus sentimentos.
Ainda neste mesmo tópico sobre a humanidade da nossa tríbrida, sinto que Legacies não percebe de todo o que implica o “desligar” destes sentimentos – algo que se tornou bastante óbvio durante a luta física entre Hope e o seu lado mais humano. De facto, esta falta de humanidade não significa possuir sensações ou motivações negativas e agir sobre elas, ao contrário do que a série deu a entender. Na verdade, acredito que qualquer sentimento, bom ou mau, faz parte da experiência humana, assim como a forma como cada um reage a essas emoções. Deste modo, considero que o “desligar” da humanidade implica um disconnect de quaisquer sentimentos, assim como da culpa ou remorso associado a agir apenas por interesse próprio e a realidade é que Hope nunca se inseriu por completo nesse critério.
Por fim, e antes de seguir para o restante episódio, fiquei também bastante incomodada com a obsessão que Legacies tem com a possibilidade de Hope poder, um dia, vir a formar família própria. Não é a primeira vez que o assunto é abordado; geralmente não por Hope, mas por Alaric no passado e, neste caso, por Freya. Se, por um lado, acredito que seria um tema interessante para explorar no futuro, tendo em conta os problemas familiares e o trauma que Hope carrega e a forma como isso poderia influenciar o seu ponto de vista sobre o assunto, por outro, Legacies nunca deu a entender que a sua protagonista teria qualquer interesse em formar família (aliás, o seu track record na série demonstra exatamente o oposto), pelo que a menção enquanto apelo à sua humanidade não encaixa no restante episódio, na minha opinião. Infelizmente, esta é também a altura em que é feita a única menção a Hayley em Everything That Can Be Lost May Also Be Found, o que serve como uma boa indicação do modo como a série vê as mulheres que fazem parte da sua história.
Apesar de tudo, um dos pontos altos deste episódio, a meu ver, é a relação entre Cleo e Kaleb. Dados os problemas que a musa tem enfrentado com os seus poderes, o vampiro convida Cleo para ir à sua terra natal para conhecer Mavis, uma pessoa que o ajudou na sua jornada aquando da sua transformação em vampiro. Aqui, Cleo tem uma experiência sobrenatural que lhe permite um vislumbre do futuro, pelo que acredito que a musa poderá estar a transformar-se numa moira, dada a temática greco-romana desta temporada. Poupo-te a pesquisa no Google: na mitologia grega, as moiras eram as três irmãs que determinavam o destino dos deuses e mortais. Se já viste o filme Hércules (a versão animada, claro), sabes exatamente do que estou a falar.
Confesso que o meu entusiasmo em relação a esta storyline é pouco, mas, ainda assim, aprecio este desenvolvimento para Cleo. No entanto, este novo episódio da série deixou-me desejosa por alguma backstory para Kaleb – que, apesar de fazer parte de Legacies desde o seu início, não teve ainda um episódio dedicado ao seu passado. Pouco se sabe sobre o personagem, mas desde a 1.ª temporada que a sua narrativa tem vindo a indicar algum conflito interno, e algum receio em tornar-se num monstro, que nunca foi verdadeiramente abordado. Pessoalmente, acho que Legacies se deveria ter limitado a explorar as suas personagens, uma vez que tanto lobisomens como vampiros têm de passar por experiências traumáticas de modo a ativar os seus poderes ou a transformarem-se. Existia imenso material por explorar nesse departamento, que certamente seria muito mais interessante do que qualquer monstro de Malivore que temos encontrado.
Finalmente, Lizzie e Aurora continuam a sua demanda, tendo raptado Ben com o intuito de obter a chave que abre os sarcófagos de metal em que se encontram os deuses. No processo de interrogação a Ben, o duo revela a sua intenção de despertar Cronos de modo a reverter o tempo e terem, assim, uma nova oportunidade de resolver os seus problemas pessoais. Esta ideia leva Ben a acreditar poder fazer o mesmo em relação a Ashur, o seu parceiro, tendo o semideus uma pequena vantagem em relação a Lizzie e Aurora. Ben sabe que apenas Ken lhe pode conceder este desejo em troca da sua liberdade, o que não abona a favor de Hope e dos seus amigos.
Em suma, acredito que este episódio deveria ter sido dedicado única e exclusivamente à família Mikaelson, servindo como a oportunidade perfeita de recuperar a humanidade de Hope, que deveria ter explodido de modo semelhante ao sucedido no episódio anterior. Ao invés, Legacies proporcionou-nos um episódio bastante superficial, no qual storylines de menor interesse interrompem constantemente, sem qualquer necessidade, a narrativa de maior relevo. Os dias da série parecem estar contados e, após quatro temporadas nesta fandom, sinto-me segura em dizer que Legacies não se encontra nesta posição por falta de aviso…
Todos os episódios de Legacies estão disponíveis para streaming através da HBO Max.