[Contém spoilers]
Além de marcar o ponto mais alto da temporada até ao momento, Truth mostra que era necessária uma pausa para que as principais personagens de The Falcon and the Winter Soldier encontrassem a sua paz.
Os antagonistas decidiram fazer o chamado double down e assumir as suas facetas. Walker (Wyatt Russell) até sente momentaneamente algum remorso (misturado com perda), mas rapidamente demonstra não ser a pessoa certa para carregar o escudo (se ainda houvesse dúvidas). É demasiado tarde para Walker tentar introduzir a desculpa de o governo o ter transformado numa máquina de matar. Aliás, por uma questão de lógica nem sequer faz sentido, já que era John quem dizia que ser Capitão América era uma responsabilidade diferente. Veremos como o final vai vingar ou consolidar a sua queda de honra. Pelo menos é bom saber que o rapaz tem futuro na metalurgia! Esta malta é toda muito dotada, todos os militares sabem arranjar coisas nesta série.
“I am Captain America!” – John Walker
“Any man who must say “I am the King” is no true king.” – Tywin Lannister
Infelizmente o mesmo tratamento não se aplica aos restante dois adversários. Ficou provado que ninguém se preocupou em dar a Karli (Erin Kellyman) uma verdadeira personalidade. Limita-se a ser catalisadora de acontecimentos, a aparecer quando é preciso. Não tenho nenhuma esperança que vá ganhar camadas no final. Já Zemo, que quase “carregou” o terceiro e o quarto episódio, acaba por ser também ele descartado ingloriamente, quando já não era mais preciso. Eu sei que o nome é The Falcon and the Winter Soldier, mas continua a dar imensa pena que a Marvel raramente consiga desenvolver os seus vilões. Não é pura coincidência que Thanos tenha sido um grande vilão, Infinity War é o seu filme. Ultron é memorável porque tem um carisma que se destaca. Estou ciente que alguns arcos relacionados com Karli foram cortados porque não foi possível concluir certas filmagens (COVID-19), mas isso não desculpa tudo. Outro exemplo gritante é mesmo a Global Repatriation Council. A GRC é o grande incentivo dos Flag Smashers e não sabemos nada das suas intenções e a reunião em Nova Iorque, que servirá de palco para o finale, cai de paraquedas na narrativa. A série nem nos mostra porque há uma necessidade de repatriamento de refugiados. Daria um excelente tema de reflexão, do mesmo modo que o racismo na América foi abordado. A única coisa que descobrimos ao longo de todo o episódio é que os Flash Smashers têm um Tinder para zombies…
Obviamente não poderia deixar passar a adição de Julia Louis-Dreyfus. Este artigo explica muito bem todas as ramificações que a personagem pode ter, por isso não me irei alongar muito com teorias. Contudo, é sempre de destacar a presença de atores deste gabarito em papéis secundários no MCU. De certeza que aparecerá mais vezes (em breve) e acolho isso com grande prazer! Uma das possibilidades é que poderá ser a Power Broker, mas sinceramente não acredito. Depois do contacto telefónico com Batroc não me restam grandes dúvidas que Sharon (Emily VanCamp) é a obscura personagem. Veremos de que modo se encaixará no último episódio.
Em retrospetiva, não devia ter sido tão duro com o facto de Sarah (Adepero Oduye) e o arco de Sam (Anthony Mackie) terem sido largados após o piloto. O barco acaba por ser a muleta que permite Sam reconciliar-se com a ideia de herdar o fardo e de justificação para finalmente a conversa com Bucky (Sebastian Stan) acontecer. A série começa com Sam a não acreditar que mereça suceder a Steve e aqui ouvimo-lo a dizer que não interessa o que Steve pensaria sobre o que está a acontecer; afinal de contas, já não está presente e é preciso avançar. Os personagens precisavam de regressar a casa e nós também. O ambiente mais relaxado e entretido, com Bucky a sorrir e jogar Frisbee com Sam, acaba por dar-nos uma injeção de buddy comedy e progresso das personagens que almejávamos.
“You weren’t amending, you were avenging.” – Sam Wilson
O Melhor:
– Aquele momento em que o escudo se transforma no One Ring para John “Smeagol” Walker…
– No final da batalha inicial, além de ser em muito semelhante à batalha final de Civil War, há um momento em que caem os três em “derrota”. No fundo, ninguém sai vencedor disto: Falcon perde duas asas, Walker perde uma e Bucky olha para os dois em simpatia…
– Aquele olhar de culpabilização da irmã (?) de Lemar é suposto simbolizar o quê? Que ela sabe que não foi aquele homem que matou o irmão?
– Zemo no Raft (onde Sam esteve em Civil War) pode ser o início de uma nova “Liga da Injustiça”.
– A frase de Isaiah, que diz que a América não quer um negro e um negro que se respeite não deve querer ser Capitão América, é mais uma facada no facto de o país esperar sempre o máximo de todos os seus cidadãos, mas não os proteger igualmente. Já Sarah dissera: “O meu mundo não interessa para a América, porque me hei de importar com a sua mascote?”
– Bucky dizer que nem sempre usa o braço especial porque é destro é daquelas coisas de que não nos tínhamos lembrado e que faz todo o sentido.
– Sam a ligar às pessoas a pedir ajuda com o barco… ele realmente bem passa a vida a dizer que conhece pessoas!
– Preparam-se para tornar Torres no próximo Falcon e o jovem Eli (neto de Isaiah) em Patriot, certo?
Pior:
– Continua a estupidez do handheld camera em cenas que não é preciso (pátio com Karli). Se os youtubers conseguem filmar com estabilizador, porque não consegue esta malta?
– Portanto, Bucky recebe um braço de Wakanda, recuperam-no, Bucky impede-os de capturar o assassino do rei e no final ainda lhes pede um favor antes de irem embora? É preciso uma lata!
– Já falei vezes suficientes de Civil War nesta análise? Não? Bom, é que aqui também há um voto em Nova Iorque sobre uns Acordos…
– “We are working with criminals?” Dovich, bro… esta é capaz de ser a frase mais idiótica de toda a temporada. Este tipo, depois de tudo o que o grupo fez, agora torce o nariz a aliar-se a criminosos?
– Uma das terroristas mais procuradas do mundo, na boa, no banco do jardim, em Nova Iorque, em véspera de reunião da instituição que prometeu destruir…
Vítor Rodrigues