[Contém spoilers]
“Today’s the day I’m supposed to die. Truth is I’m not scared of dying. I’m scared I didn’t live.”
Uma nova semana trouxe consigo o mais recente e emocionante episódio de Batwoman, que surge como um excelente sucessor a It’s Best You Stop Digging e, de igual modo, como o meu episódio favorito da série até à data. Em Survived Much Worse, as habilidades da nossa Batwoman são colocadas à prova como nunca antes, enquanto a busca de Alice por Kate continua. Sophie e Jacob rumam a Coryana e Luke e Mary lidam com um convidado inesperado.
Parece que sempre que penso que Batwoman alcançou o seu pico aparece um novo episódio que excede as minhas expectativas, definindo uma nova meta a ultrapassar. Survived Much Worse é esse episódio, que surge sem qualquer tipo de tempo morto, proporcionando a todos os seus personagens algo a fazer e relembrando que há muito mais em jogo para além de recuperar Kate.
“Whatever Happened to Kate Kane?” é a questão que lançou esta nova temporada – em termos literais, tratando-se do nome do primeiro episódio desta 2.ª instalação, mas também em termos narrativos, encontrando-se Kate Kane, a ex-protagonista da série, no epicentro de todo o conflito que temos vindo a acompanhar. O desaparecimento da vigilante levantou várias perguntas que, pouco a pouco, têm vindo a ser respondidas. No entanto, por cada nova pista descoberta pelos nossos personagens, novas questões acabam por surgir e Survived Much Worse não aparece como exceção à regra. Ainda que a corrida a Coryana não tenha proporcionado aos amigos e familiares de Kate o desfecho esperado, este episódio confere à audiência uma nova e chocante peça deste puzzle ao mostrar que não só a personagem está viva, mas está muito mais perto do que todos pensam. “Whatever Happened to Kate Kane?” permanece, assim, a grande questão desta temporada, ainda que adote agora uma dimensão completamente diferente.
Contra todas as minhas expectativas, Batwoman toma agora a ousada decisão de efetuar um recast a Kate Kane, sendo que não tardará muito até vermos a atriz Wallis Day (conhecida dos fãs da DC pelo seu tempo em Krypton) neste papel. Acredito que falo por todos ao dizer que não estava nada à espera deste novo desenvolvimento – não acreditava que Kate estivesse em Coryana, mas também não estava propriamente à espera que a personagem tivesse sobrevivido ao que quer que seja que lhe aconteceu. Aliás, quando Julia regressa a Gotham com más notícias, não a questionei. Na minha mente, Kate estava destinada a permanecer no passado da série, mas claramente Batwoman tem outros planos e, após uns dias de ponderação, estou ansiosa por ver o que isto significa para o seu futuro.
Antes de entrar em grandes especulações ou partilhar a minha lista de desejos para os próximos episódios, tenho, no entanto, que falar um pouco sobre tudo aquilo que funcionou bem em Survived Much Worse. Num episódio repleto de momentos de alto risco para todos os personagens da série, é Alice quem se destaca ao tomar uma decisão que não surge como surpresa para qualquer verdadeiro fã de Batwoman e, por essa mesma razão, funciona. Após oito longos episódios a desejar a morte da sua irmã pelas suas próprias mãos, quando chega a altura de tomar uma decisão, Alice escolhe Kate – não para decretar a sua vingança, mas sim porque quer a sua irmã de volta. Não só é a decisão acertada, mas é um momento marcante na história de uma personagem que tem vindo a desvendar o seu lado mais humano, ultrapassando aos poucos o monstro que é o seu trauma. No entanto, Alice está longe de deixar de ser a vilã por quem nos apaixonámos. A traição de Safiyah surge como um duro golpe para a personagem, que não está acima de atos de vingança, levando a que a nossa principal antagonista destrua aquilo que é mais querido a Safiyah, da mesma forma que a Rainha privou Alice de uma verdadeira hipótese de uma vida normal.
Apesar da visão de um campo de rosas do deserto em chamas proporcionar algum conforto temporário a Alice, para Ryan, a imagem aparece como uma sentença de morte. O acontecimento dá azo a uma poderosa cena entre a nossa protagonista, resignada ao seu destino, e Sophie, que resolve permanecer a seu lado naqueles que deveriam ser os seus últimos momentos. Torna-se inegável que a relação entre as personagens atinge agora um novo marco, encontrando-se num lugar muito diferente daquele em que começou, no início desta temporada. Felizmente para Ryan, terá bastante tempo de explorar uma nova aliança com a agente dos Crows, uma vez que nem todas as rosas do deserto foram destruídas no incêndio. Na verdade, a nossa protagonista sempre teve uma destas plantas perto de si sem nunca o saber – um plot twist de que não estava à espera, mas que faz todo o sentido tendo em consideração que esta rosa do deserto em particular foi oferecida a Ryan por Angelique, que muito provavelmente a recebeu de Ocean.
Por falar em Sophie, a sua relação com Batwoman não é a única coisa a ser colocada em perspetiva em Survived Much Worse. A personagem partilha uma cena com Tatiana após ser feita refém em Coryana, sendo convidada por Safiyah para se juntar aos Muitos Braços da Morte. Naturalmente, a agente dos Crows recusa a oferta sob o pretexto de não se querer associar a um exército de assassinos implacáveis que, por coincidência, é mais ou menos aquilo que os Crows representam. Isto leva a um pequeno confronto entre a agente e Jacob, na qual Moore explica que os Crows atuam de forma semelhante a Batwoman, sem prestar contas a quem quer que seja. A grande diferença entre ambos é que os agentes de Jacob são pagos por um serviço e, assim, passíveis de serem corrompidos por interesses alheios. Esta temporada tem sido extremamente crítica em relação à atuação dos Crows (com toda a razão), pelo que não me surpreenderia se Sophie acabasse por decidir abandonar a organização. De facto, é algo que espero que aconteça, uma vez que acredito que a identidade desta personagem está demasiado presa à sua ocupação e que seria um marco importante para Sophie descobrir quem é longe desta sua zona de conforto.
De volta a Gotham, Luke e Mary perdem o grosso da ação, mas os seus sentimentos acabam por espelhar aquilo que tenho vindo a experienciar enquanto fã da série. Por muito que goste de Kate, já não imagino a série sem Ryan, da mesma forma que Luke e Mary se veem incapazes de imaginar a bat team sem a sua líder. As cenas entre os três personagens mostram o quanto esta equipa evoluiu ao longo desta 2.ª temporada, solidificando as ligações entre eles e também a noção que Ryan está cá para ficar.
Este episódio também não será a última vez que encontraremos os nossos vilões de Coryana. Conforme suspeitava e referi em Bat Girl Magic!, alguém esteve por detrás do conflito entre Safiyah e Alice e esse alguém é nada mais que Tatiana, o braço direito da Rainha. A personagem acaba por pagar o preço pela sua traição, existindo ainda a possibilidade do seu regresso. Estou curiosa por saber em que medida a traição de Alice afetará Ocean, mas o que é certo é que Safiyah não deixará o que aconteceu em Coryana passar impune.
Por fim, chegamos então à minha pequena, mas ambiciosa, wishlist para os próximos episódios (ou mesmo temporadas) de Batwoman. Acredito que Ryan levantou uma boa questão ao ponderar sobre o seu futuro na equipa caso Kate regresse. É uma das razões pela qual fiquei um pouco apreensiva em saber que a série havia decidido trazer a personagem de volta à ação, uma vez que me afeiçoei a Ryan neste papel. No entanto, Caroline Dries parece não ter qualquer intenção de afastar Ryan das suas responsabilidades enquanto vigilante oficial da cidade de Gotham, o que levanta a questão: de que forma irá Kate encaixar nesta nova realidade? Pessoalmente, ainda que a 1.ª temporada tenha mostrado que Kate não é a pessoa mais dotada no que diz respeito à tecnologia, adorava ver a personagem adotar um papel semelhante ao de Oracle nos livros de banda desenhada, ajudando a equipa a partir da base e deixando espaço para que Luke seja promovido a Batwing.
Como sempre, podem acompanhar Batwoman todas as semanas através da HBO Portugal, com um novo episódio disponível na plataforma às terças-feiras.
Inês Salvado