[Contém spoilers.]
“Always and forever. Maybe that’s what heaven is.”
Uma nova semana passou e, com ela, um novo episódio de Legacies: Goodbyes Sure Do Suck. Com um título bastante apropriado, este episódio marca a primeira verdadeira despedida (talvez permanente) de um personagem da série, e demonstra que afinal a mais jovem das instalações do universo de The Vampire Diaries ainda pode ter salvação.
Neste novo episódio, o Super Squad é colocado à prova quando um dos seus se vê entre a vida e a morte. Após o acordo entre Alaric e o Necromancer ficar sem efeito (por razões que acredito viremos a descobrir mais em frente, apesar de ter já as minhas suspeitas que Hope tem alguma coisa a ver com o assunto), os alunos que este ressuscitou começam a morrer de novo, tendo o final de We’re Not Worthy vitimizado Alyssa e aparecendo agora (spoiler!) Rafael como o próximo em linha.
Ao longo do episódio, são exploradas várias hipóteses para salvar Rafael, com Hope e Lizzie a trabalhar incansavelmente para esse efeito. Afinal de contas, os alunos da Salvatore School estão já habituados a enfrentar este tipo de perigos, pelo que a ideia de o nosso principal lobisomem morrer de forma permanente nem sequer é tida em consideração pelos seus amigos. Já Rafael parece muito mais resignado ao seu destino, querendo apenas passar os seus momentos finais em paz, rodeado por aqueles a quem chama família. Felizmente (e sem grandes surpresas), Hope consegue encontrar o perfeito – erm… dadas as circunstâncias – loophole à condição de Rafael, aproveitando um (conveniente) evento celeste para transportar o lobisomem e a sua família biológica para um mundo prisão semelhante àquele em que Kai se encontrava, onde poderão permanecer até que uma outra solução possa ser encontrada. Afinal de contas, tudo está bem quando acaba bem.
Após uns quantos episódios que, na minha opinião, ficaram completamente aquém das expectativas, eis que por fim surge um episódio que, apesar de ser longe de perfeito, me relembra o porquê de ver Legacies, colocando em evidência o verdadeiro potencial da série. Sem monstro da semana, dando lugar à simplicidade da narrativa, a série é capaz de se focar nas personagens em mão, proporcionando a Rafael uma saída com a dignidade merecida. Ainda que não o destaque como o ator mais forte do elenco, Peyton Alex Smith mostra-se capaz de mover a audiência, em especial nas cenas que Rafael partilha com o seu pai. A sua partida é um momento agridoce que surte o efeito desejado, sem nunca me deixar parar de pensar no quão mais investida estaria se Rafael tivesse tido o devido destaque e desenvolvimento ao longo da série, ao invés de ser reconhecido apenas neste episódio – e não, não vou mencionar sequer a preguiçosa narrativa que é este ser descendente do Rei Artur.
De diferente modo, a alusão feita por Hope à sua família e a The Originals acaba por ser o momento que definitivamente me levou a lágrimas. Realmente, Rafael encontra neste mundo prisão o seu pequeno pedaço do céu; o seu always and forever junto daqueles que mais o amam. Imagino que este seja o sonho de Hope, que apesar de perder mais um membro desta grande família que escolheu para si, parece entender também que nem sempre o que está perdido desaparece por completo. Sei que Legacies poderia ter dado outro desfecho a Rafael, mas dada a situação das várias personagens envolvidas e a quantidade de pessoas que muitos dos nossos alunos favoritos já perderam (ainda que muitas fora desta série), agrada-me que o seu desfecho não tenha sido fatal.
Aprecio ainda o facto de Lizzie usar agora os seus poderes sem medo, ao contrário do que se verificava em temporadas anteriores. A jornada de Lizzie rumo a uma saúde mental mais balançada tem sido um ponto de interesse pessoal, enquanto fã da série, pelo que lamento que seja utilizada como pouco mais do que uma nota de rodapé ou piada ocasional em grande parte do tempo. Ainda assim, os momentos em que a bruxa sente confiança e segurança nas suas habilidades não me passam ao lado, e admiro não só a sua dedicação, em assegurar o futuro de Rafael na sua nova realidade, como também o seu altruísmo, ao abdicar da sua oportunidade para se despedir do personagem em favor de manter o feitiço funcional para que todos os outros o pudessem fazer.
Seguindo agora para elementos menos positivos, senti que a busca de Alaric pela mãe de Rafael foi algo desnecessário, elevado a pouco credível e até mesmo forçado. Sendo honesta, não senti qualquer tipo de interesse ou empatia pela personagem, e não acredito que num cenário minimamente realista esta fosse regressar a um filho que praticamente não chegou a conhecer apenas para agora o ver morrer. Gostava que, ao invés disso, a série tivesse dedicado mais algum tempo à relação entre Rafael e o seu pai, o qual conhecemos de forma breve em episódios anteriores.
Também não será surpresa para ninguém que Landon me irritou um pouco, no decorrer de Goodbyes Sure Do Suck. Sinto-me incomodada pelo facto de que mesmo num episódio no qual é o centro da história, Rafael teve de se moldar à vontade de Landon de modo a que o seu melhor amigo se sentisse mais confortável com a situação que viviam. Estava disposta a deixar este pequeno pecado passar – afinal de contas, os dois são unha e carne e percebo que, para Landon, perder o lobisomem seria algo impensável. No entanto, esta não foi a única atitude por parte da ex-fénix que me veio a incomodar (porque sim, Landon usou a sua última vida e é agora um humano outra vez – surprise!).
Começo este próximo ponto com um pequeno disclaimer: não quero, de forma alguma, negar os muitos problemas de Hope com aquilo que estou prestes a dizer. É certo e sabido que a nossa tríbrida tem algumas dificuldades no que toca a respeitar a autonomia daqueles que lhe são mais próximos, querendo mantendo-os seguros de tal forma que chega mesmo a ser controladora. No entanto, acredito que isso não concede a Landon o direito de apontar o dedo ao complexo de herói de Hope – muito menos no mesmo episódio em que a pressiona a encontrar uma solução para o problema de Rafael, colocando sobre os seus ombros este impossível fardo. Pessoalmente, a cena entre os dois não me caiu nada bem, pela simples razão que não percebo como Landon pode criticar este protecionismo de Hope ao mesmo tempo que o encoraja. Se existe uma luz ao fim do túnel nesta situação, é porque Legacies parece estar por fim a perceber que, de momento, os dois não fazem um bom par, pelo que me parece que uma separação está por vir; se é que não chegou já no final deste episódio.
Por fim, resta-me apenas dizer que me sinto um pouco infeliz por Josie não fazer parte deste episódio. Parece-me ter sido uma má decisão, dada a natureza da relação entre ambos na primeira temporada. Sim, sei que a ideia foi descartada de forma quase imediata, como é frequentemente o caso nesta série, mas ainda assim acho que este foi um episódio demasiado importante para Josie ficar de fora.
Nacionalmente, podem acompanhar Legacies através da plataforma de streaming da HBO Portugal, com um novo episódio disponível todas as sextas-feiras.
Inês Salvado