[Contém spoilers.]
“Black, male, foster kid, juvie. In case you’re wondering why GCPD isn’t looking for him, those five words.”
Após uma breve pausa, Batwoman regressa com Fair Skin, Blue Eyes – o 4.º episódio desta sua nova temporada. Neste episódio, enquanto Batwoman tenta combater a proliferação de Snake Bite pelas ruas de Gotham, um encontro aleatório força-a a revisitar memórias do seu passado doloroso. Encorajada pelo seu novo papel, Ryan está determinada a assegurar que outras pessoas como ela não passem despercebidas. Entretanto, aqueles mais próximos de Kate têm uma boa razão para acreditar que ela ainda está viva, o que leva à formação de novas amizades, alianças inesperadas e ainda a novas traições.
A busca por novas pistas sobre as origens de Snake Bite em Gotham conduzem Ryan em direção ao caso de Kevin Johnson, um jovem negro que havia desaparecido semanas antes sem deixar qualquer rasto. O caso acaba por se tornar algo pessoal para a nossa protagonista quando esta descobre ligações entre o que aconteceu a Kevin e o seu próprio passado, sendo então revelado que Ryan foi também raptada em criança. Candice Long, também conhecida por Candy Lady, é a autora destes crimes e a grande vilã deste episódio, raptando crianças consideradas invisíveis e vendendo-as no mercado negro a quem estiver disposto a pagar o preço.
Batwoman continua assim a lidar com tópicos pouco confortáveis, seguindo a tradição começada já na temporada anterior de proporcionar alguma visibilidade a grupos ostracizados pela sociedade. Nesta primeira instalação, foram vários os temas abordados, desde as desigualdades financeiras que surgem como motivação para os atos levados a cabo por alguns dos vilões, a questões como a homofobia, abordada através de personagens como Sophie ou Parker, ou o racismo. De forma universal, senti que estes problemas apareciam em oposição às experiências de Kate, sem que a personagem fosse sempre capaz de se relacionar com as experiências de terceiros, apesar de ser geralmente compreensiva. Com Ryan, no entanto, estas questões aparecem com uma nova dimensão, surgindo muitas vezes na forma de experiências em primeira mão e conferindo assim um toque mais pessoal a casos como o de Kevin.
À semelhança do que aconteceu com o rapaz, também a nossa protagonista teve a sorte de ter alguém na sua vida que se preocupou com ela, salvando-a da confusão em que se encontrava. Falo de Angelique (Bevin Bru), a ex-namorada de Ryan e sua amiga de infância. As duas conheceram-se numa casa de acolhimento e tornaram-se amigas graças a um acordo mútuo: Angelique protegia Ryan das restantes raparigas e Ryan abria-lhe a janela quando esta precisasse de se esgueirar.
O desaparecimento de Kevin e as suas ligações ao que aconteceu a Ryan levam a que a nossa protagonista volte a contactar Angelique neste episódio, acabando as duas por decidir colocar o passado para trás das costas e declarar tréguas. Será interessante ver de que forma as ligações de Angelique ao mundo criminoso de Gotham irão influenciar a sua relação com Ryan enquanto Batwoman; se causarão tensão na relação de ambas ou se, pelo contrário, se aliará à nossa heroína enquanto informadora. Apenas o futuro dirá.
Já a amizade entre Ryan e Mary tem-se vindo a desenvolver a olhos vistos, com ambas as personagens a partilhar o apartamento de Kate. É uma relação agradável que vem com alguma naturalidade dada a personalidade animada de Mary, mas que conta ainda com as suas reservas. Afinal de contas, Ryan continua a sofrer em silêncio o ferimento causado pela bala de kryptonite que a atingiu em Whatever Happened to Kate Kane? ao invés de partilhar o seu segredo com Mary – um momento que certamente chegará nos próximos episódios. Por outro lado, Ryan toma outra má decisão quando resolve lidar sozinha com o desaparecimento de Kevin. Dadas as circunstâncias, no entanto, é compreensível o porquê de o ter feito, ainda que teria sido mais seguro ter algum backup nesta missão.
Noutra parte da cidade, Sophie vê-se num cabo de trabalhos quando Alice aparece sem aviso no seu condomínio. A vilã procura recrutar os serviços da agente dos Crows para encontrar Ocean, um personagem do passado de Safiyah e, como vimos a saber mais tarde, da própria Alice. Esta tarefa é incumbida a Alice pela sua ex-mentora, que promete devolver-lhe a sua irmã ao ver este pedido satisfeito. O team-up entre a gémea de Kate e Sophie (e, mais tarde, Luke) proporciona ao episódio momentos de humor que contrastam de forma positiva com o restante ambiente mais pesado de Fair Skin, Blue Eyes, mas é claro que esta pequena aliança não pode durar. De forma expectável, as coisas correm para o torto quando Luke e Sophie tentam passar a perna a Alice. Não podemos dizer que o ato é injustificado; afinal de contas, Alice não tem sido propriamente subtil no seu desejo de ter Kate de volta apenas para poder levar a cabo a sua verdadeira vingança. Ainda assim, é difícil não acreditar que, lá no fundo, Alice sente a falta da sua irmã.
Por fim, o plano de Jacob em encontrar pistas que o levassem ao paradeiro de Kate pareceu um bocado patético. Seria de esperar que o Comandante deduzisse que uma recompensa de um milhão de dólares iria atrair atenção indesejada. A situação em que o personagem se encontrou era completamente inevitável, mas a lição a tirar foi algo de positivo. Parece que a perceção de Jacob em relação a Batwoman pode vir a mudar ao longo desta temporada, sendo que a possibilidade de uma futura aliança entre a heroína de Gotham e os Crows não parece estar fora de alcance.
De forma geral, este foi mais um bom capítulo para Batwoman, que continua de forma eficaz a expandir a nova fundação criada nesta temporada. A este episódio faltou apenas a presença física de Julia Pennyworth, cujos conhecimentos sobre Coryana poderiam ajudar a acelerar a busca por Kate Kane.
Podem acompanhar Batwoman semanalmente através da HBO Portugal, com um novo episódio disponível na plataforma todas as terças-feiras.
Inês Salvado e Ana Oliveira