[Livre de spoilers]
A segunda temporada de Das Boot, que estreou na Alemanha no passado mês de abril, chega já no próximo dia 29 de setembro ao AMC Portugal e o Séries da TV teve acesso aos dois primeiros episódios da adaptação televisiva do filme de 1981 com o mesmo nome e baseada no livro Die Festung, de Lothar-Günther Buchheim. A série segue uma tripulação inexperiente de um submarino nazi, ao mesmo tempo que vamos acompanhado a história de Simone Strasser (Vicky Krieps) e a sua luta interior na tentativa de saber de que lado está, se a favor da Alemanha ou contra ela.
Apesar da qualidade inegável da primeira temporada da série, tenho de admitir que não me cativou muito. A história não me conseguia prender completamente, apesar de ser um tema que me interessa bastante, a 2.ª Guerra Mundial, e de ter um elenco de luxo. Contudo, devo dizer que o primeiro episódio desta segunda temporada me surpreendeu bastante pela positiva.
O arranque da temporada foi muito positivo, com um episódio que nos mostrou onde estão as personagens que já nos eram familiares na temporada anterior, incluindo aquelas que pareciam ter um futuro incerto pela frente ou mesmo nenhuma perspetiva de futuro. A narrativa manteve-se consistente com a temporada anterior, começando algumas personagens a revelarem quem elas realmente são, aquilo em que acreditam e o que pretendem mudar. O primeiro episódio dá-nos o mote para uma temporada que promete ser mais dramática e mais sangrenta e com os nervos de uma tripulação ainda mais à flor da pele, ao mesmo tempo que, em terra, as coisas se começam a descontrolar e algumas personagens poderão vir a ver a sua linha narrativa entrar por um caminho ou terminar num ponto que poderá ser inesperado, assim como temido pelo telespectador.
O segundo episódio voltou a perder um bocadinho a energia do primeiro, voltando a estar ao nível dos da primeira temporada. Claro que no início deste episódio temos o desfecho inesperado (ou não) do final do anterior, e ao chegarmos ao fim do mesmo a narrativa volta a ganhar algum ânimo e volta a despertar o nosso interesse.
Um dos pontos positivos que esta série tem é o facto de, ao querer ser o mais fiel possível ao período histórico que está a retratar, tem atenção até aos mais pequeno pormenores, que podem não parecer importantes para a maior parte do público, mas que fazem toda a diferença. Um desses pormenores é o simples facto de ter decidido ter um elenco internacional de modo a conseguir preservar as línguas em que cada uma das personagens falam, sejam elas alemão, francês ou inglês. Quando vejo produções históricas este é sempre um dos pontos que mais valorizo e por questões monetárias ou outras quaisquer, nem sempre é possível que assim seja. Por esta razão, merece ser aqui destacado. Isto sem menosprezar todo os outros elementos que contribuem para o sucesso da série, como a fotografia, os cenários, tanto de exteriores como interiores, assim como os efeitos especiais. Apesar de ainda não termos tido muita ação no submarino, estas foram sempre as cenas que mais me impressionaram na temporada anterior, pois conseguiam transmitir o ambiente claustrofóbico que se vive dentro de um espaço tão pequeno, onde co-habita um grande número de homens, que com o convívio constante, deixam a tensão e as emoções manifestarem-se mais fortemente. As minhas expectativas para a parte da narrativa que se irá desenrolar neste cenário mantêm-se altas.
Como já tinha dito, as personagens já conhecidas mantêm-se, mas também tempos a introdução de novas personagens que, tendo apenas visto dois episódios, ainda não sabemos bem se terão ou não um papel importante na narrativa. Entre os novos nomes estão Béla Gábor Lenz (Dark), Merlin Rose (Zeit der Geheimnisse) e Sebastian Hülk (Dark), que se juntam já ao elenco de luxo composto por nomes como Tom Wlaschiha, Rainer Bock ou Leonard Scheicher.
Em suma, ao retratar uma das épocas mais negras da História, estes dois primeiros episódio da nova temporada de Das Boot mostram-nos como era difícil viver numa sociedade em que não se podia discordar do seu líder, em que a resistência vivia atormentada com as perseguições e as minorias tinham de se esconder se queriam sobreviver. Tudo isto através de uma narrativa bem estruturada e com um elenco de qualidade superior e que hoje em dia é difícil encontrar. Este início de temporada foi mais forte do que toda a primeira temporada, atrevendo-me até a afirmar que Überlebensstrategien (estratégias de sobrevivência) terá sido o melhor episódio da série até agora, o que poderá deixar antever uma continuação mais interessante.
Cláudia Bilé