[Não contém spoilers]
Minissérie
Número de Episódios: 6
Mistérios de Lisboa chegou no passado dia 1 de julho à HBO Portugal, sendo que já tinha sido transmitida pela RTP no ano de 2011. A minissérie tem como base o livro homónimo de Camilo Castelo Branco publicado em 1854.
Realizada por Raúl Ruiz e produzida por Paulo Branco, Mistérios de Lisboa conta-nos várias histórias interligadas que atravessam o século XIX, começando pela de Pedro da Silva (João Luís Arrais), um órfão de 14 anos que desejava saber quem eram os seus pais e qual a história deles, passando pela do Padre Dinis (Adriano Luz), que para além de protetor de Pedro e conhecedor da sua história, também tem a sua quota parte de aventuras e desventuras, terminando em muitos outros personagens, tais como Alberto de Magalhães (Ricardo Pereira), Elisa de Montfort (Clotilde Hesme), Anacleta dos Remédios (São José Correia).
Posto isto, sinto que tenho de dizer: ainda bem que a HBO Portugal decidiu adicionar Mistérios de Lisboa ao catálogo, porque definitivamente vale a pena ser vista. Eu admito que estava com um pouco de receio de não ir apreciar tanto a minissérie, uma vez que não estou muito habituada a ver produções portuguesas (tenciono mudar isso), ainda para mais uma tão antiga. Contudo, qual não foi o meu espanto quando, depois de passar o primeiro episódio, dei por mim embrenhada na história e maravilhada com a cinematografia simples, mas ao mesmo tempo bastante bonita e agradável de ver.
A história é bem mais complexa do que eu estava à espera. O primeiro episódio faz crer que se vai centrar muito em redor do jovem Pedro da Silva, no entanto, no decorrer da série, o emaranhado de personagens e até mesmo de histórias é tanto que quase nos esquecemos do primeiro. E ainda bem que assim é, pois tornou a narrativa muito mais interessante. Já para não falar que a forma como as histórias vão sendo contadas nos aguça a curiosidade e o interesse.
Não é somente o ato de mostrar uma história, que se encontra interligada a uma muito maior, mas sim aliar uma narração a uma espécie de flashbacks – em que tanto estamos a ouvir o ponto de vista de quem está a narrar, como estamos a ver as situações narradas a acontecer à nossa frente. Isto permite que a história que estamos a ver não se torne tão maçuda (ainda para mais sendo que os episódios têm em média aproximadamente 50 minutos) e que nos chame muito mais a atenção.
Aliado a isto tudo, temos um figurino lindo de morrer, característico da época retratada, e atuações excelentes de atores bem conhecidos. Para além disso, ainda somos presenteados com cenas faladas em inglês, italiano e francês. E deixem-me que vos diga que eu fiquei bastante espantada com a qualidade dessas cenas. É verdade que eu não sou uma expert em francês (que das três línguas referidas anteriormente foi a mais falada), mas a forma como eles soavam pareceu-me bastante bem (perdoem-me se afinal não estiver assim tão bem como eu penso). Isto chamou-me a atenção, não só por me parecer a mim que estava bastante bem feito, mas também dada a dificuldade que deve ter sido gravar algo assim. Se eu já considero que deve ser difícil decorar todas as cenas e representá-las da forma mais convincente possível, então ter que as decorar noutra língua (e fazer uma boa figura por assim dizer) deve ser ainda mais difícil.
Dessa forma, caso gostem deste tipo de séries e queiram dar oportunidade a produções portuguesas, aconselho a que deem uma espreitadela a Mistérios de Lisboa (não se deixem enganar pelo primeiro episódio), pois acredito que vai haver alguma coisa de que vão gostar. Para além disso, ao ser uma minissérie composta por somente seis episódios vê-se bastante bem e é ideal para quem não gosta de séries muito longas. É verdade que os episódios são grandes, mas dada a forma como a história nos é apresentada, considero que não se vão aborrecer.
Episódio de Destaque:
Episódio 4 – Os crimes de Anacleta dos Remédios – Apesar de ser o episódio em que a história não parece ter muito interesse para a trama em geral, a verdade é que eu gostei não só da maneira como a narrativa foi sendo apresentada e explicada ao longo do episódio, mas também da própria história. Mesmo não tendo muito interesse em termos gerais, é magnifico ver a maneira como conseguem interligar a história secundária com uma das personagens mais importantes da narrativa principal sem ser de forma forçada ou ilógica.
Melhor Personagem:
Padre Dinis (Adriano Luz) – Grande é o leque de personagens que podiam ser escolhidos, dada não só a importância destes para a história, mas também dado as atuações esplêndidas de quem os interpreta. Contudo, considero que não poderia escolher outro personagem que não o Padre Dinis, uma vez que é ele o elo de ligação entre todas as histórias que vão sendo apresentadas ao longo dos seis episódios. Foi bastante engraçado ver como todas elas se interligavam, de certa forma, e como tudo ia fazendo sentido à medida que as narrativas iam sendo expostas.
Cármen Silva