[Contém spoilers]
Quase um ano depois, finalmente recebemos um novo episódio da série mais deliciosamente perversa dos últimos tempos, que nos deixa a todos ligeiramente constrangidos por nos fazer apaixonar por uma assassina impiedosa e violenta. Finalmente!!!!
Nas últimas duas semanas estive a rever as primeiras duas temporadas para me preparar para a terceira, uma vez que a trama, por todas as suas reviravoltas e agentes duplos, consegue tornar-se algo confusa, sendo importante recordar todos os detalhes. Nesse rewatch fica ainda mais evidente a mudança de equipa de produção e argumento e esta nova temporada não foge à regra. Às argumentistas principais da 1.ª e 2.ª temporadas, respetivamente Phoebe Waller-Bridge e Emerald Fennell, segue-se Suzanne Heathcote, que já prometeu uma viagem mais obscura e mais centrada nas personagens e nas suas histórias do que as duas anteriores. Pessoalmente, gosto desta ideia de mudar de equipa a cada temporada, interessa-me ver as diferentes visões de cada uma para os protagonistas e a forma como as mudanças potenciam novas vidas à série. Assim, nota-se já neste primeiro episódio alguma diferença no seu tom, que se mostra menos calculista e bastante mais emocional. Isto vai agradar a uns e fazer comichão a outros, mas qualquer fã de Killing Eve tem que estar sempre preparado para os efeitos desta original forma de produção e manter a mente aberta.
Agora, vamos aos detalhes. O início do episódio, com um flashback para 1974 e uma nova e brutal assassina, desperta logo a curiosidade e marca aquilo que poderá tornar-se habitual nesta 3.ª temporada: as visitas ao passado e à Rússia. Já no presente, e em Espanha, vimos o casamento de Villanelle (Jodie Comer), que é suposto funcionar como um momento cómico e consegue fazê-lo ainda que de forma bastante diferente e muito mais caricatural do que o humor negro e subentendido a que estamos habituados em Killing Eve. Ainda assim, soltei umas gargalhadas com o discurso de Villanelle e com o caos que instala ao atacar uma velhota, que descobrimos depois ser Dasha (Harriet Walter), a ginasta do início que mata o namorado. Esta nova dinâmica (nova na série, mas antiga na história) foi, para mim, o melhor do episódio e mal posso esperar para conhecer mais. São as duas igualmente loucas e competitivas, bastante parecidas, fazendo-me pensar que Dasha talvez seja a principal culpada em fazer vir ao de cima na Oksana tímida e estranha do passado a Villanelle extravagante e sofisticada do presente. O momento em que Villanelle copia o famoso método de assassínio de Dasha, só para a picar, foi a cereja no topo do bolo.
A princípio pensava que os Twelve quereriam eliminar Villanelle de uma vez, depois do falhanço de Raymond (Adrian Scarborough) no final da 2.ª temporada, mas também não me surpreendeu que a quisessem contratar de novo – afinal, como Dasha diz, ela é a melhor de sempre naquilo que faz. Adoro que Villanelle queira subir na carreira e tornar-se uma Keeper, posição que lhe daria acesso aos chefes principais e que me parece uma storyline promissora para o resto da temporada.
Em Inglaterra encontram-se todos os outros protagonistas. O contraste da nova vida de Eve (Sandra Oh) com aquela a que estávamos habituados é bastante engraçado, ainda que algo triste, porque tal como nota Kenny (Sean Delaney), é óbvio que não está feliz, mas sabe sempre bem ver uma personagem levar uma vida pouco glamorosa, como aquela que a maioria de nós vive. É reconfortante saber que até Eve Polastri se enfada quando vai ao supermercado e se embrulha na cama a ver programas de televisão aleatórios. Claro que isto só vai durar um episódio, mas este tipo de “declínio”, muito típico nas séries, resulta sempre bem. O momento que partilha com Kenny em que fica visivelmente emocionada ao falar do que lhe aconteceu e também quando descarrega no colega de trabalho, indicam que o seu trauma está tudo menos resolvido e que, esperemos, resulte num confronto épico com a sua arqui-inimiga/obsessão/amor da sua vida (é complicado) Villanelle. Afinal é sempre disso que estamos à espera quando vemos Killing Eve, certo?
As histórias de Carolyn (Fiona Shaw) e Konstantin (Kim Bodnia) também têm alguns desenvolvimentos, sem grande brilho, para já, ficando para o plano de trás do episódio. Já Kenny, que foi bastante secundário nas primeiras duas temporadas, assumiu um protagonismo pouco habitual neste episódio, para o qual obtivemos uma explicação evidente no final chocante. Eu sempre adorei Kenny e, enganada, comecei a ficar entusiasmada por ver que talvez viesse a ter mais cenas nesta temporada. O confronto com Carolyn – que já se vinha a germinar desde sempre – foi outro dos momentos altos do episódio, de grande satisfação e prazer. Mas o momento de Kenny durou pouco e a estreia da nova temporada de Killing Eve terminou com um estrondo… literalmente.
Foi sacrificada a personagem que não incomodava ninguém, que penso que ninguém quisesse ver morta, pelo contrário… Fazendo lembrar o adorável Bill (David Haig) da 1.ª temporada que também ficou pelo caminho por arriscar mais do que devia. A morte é banal nesta série, mas quando morrem personagens de quem gostamos lembramo-nos que é, afinal, uma consequência gigante para se pagar.
Vou ter imensas saudades de Kenny e, até agora, foi sem dúvida o maior desgosto que Killing Eve me deu. Pior seria só mesmo terminar esta temporada sem que Villanelle e Eve finalmente façam o que estão mortinhas por fazer desde o início e se envolvam. Bem, esperemos que não chegue a tanto. Afinal de contas, são mais habituais as vezes em que Killing Eve me deixa satisfeita do que o contrário e este episódio não destoou (quer dizer, com a exceção do final, mas já estabelecemos que foi um mal necessário, não é?).
Posto tudo isto, foi um início de temporada promissor ainda que não ao nível habitual da série. O mistério e a intriga estiveram maioritariamente em falta, dando lugar aos dramas pessoais, mas tal pode justificar-se por ser apenas o início. Veremos, então, como as coisas se desenvolvem daqui para a frente!
P.S.: Adorei as pequenas referências a Villanelle à volta de Eve, como quando a senhora da caixa no supermercado fala da sua lua de mel em Roma, ou quando vemos uma mulher atirar sobre um refém na televisão por trás de Eve e quando a rapariga no comboio lê um romance sobre uma famosa assassina e Eve revira os olhos. Significa, basicamente, que Villanelle está por toda a parte e que é apenas uma questão de tempo até Eve não poder ignorá-la mais.
Francisca Tinoco