[Contém spoilers!]
Um dos episódios mais aguardados – se não mesmo o mais aguardado – de Game of Thrones chegou finalmente. Depois de anos à espera do grande confronto entre os mortos e os vivos, as opiniões dividem-se em relação ao resultado final. No geral, o episódio foi espetacular, nem podia ser de outra forma com GoT. Contudo, ficou aquém daquilo que tinha sido apregoado. Estava à espera de muito, mas mesmo muito mais.
Estava à espera de sofrer danos psicológicos irreversíveis, o que não se verificou. Aquilo que nos fizeram pensar foi que o que iríamos testemunhar em The Long Night seria algo saído de lendas de heróis em que nunca ninguém acredita realmente, mas pelas quais todos ficam fascinados. Seria algo digno de uma tragédia grega ou shakespeariana. Lamento, mas já sofri mais com GoT.
Depois da preparação mental para um genocídio de personagens queridas, só uma mão cheia delas é que morreram e nem eram tão importantes assim. Certamente, nenhuma das mortes foi verdadeiramente impactante (Edd, Lyanna, Beric, Theon, Jorah e Melisandre foram as vítimas deste episódio). A que mais me tocou foi a de Theon. Para mim, é das personagens com o maior character development da série. Não nos esqueçamos também que os dothraki quase entraram em extinção, o que é bastante triste. E para aqueles que perguntaram onde raio está o Ghost, não faço ideia o que foi feito dele depois daquela investida inicial, mas a verdade é que está bem vivo. No promo do quarto episódio ele aparece, portanto podemos respirar de alívio.
A batalha em si foi épica. Teve alguns erros e houve coisas que, apenas pelo episódio, não percebi, como serem os dothraki a avançar em primeiro lugar e não os dragões e Danenerys e Jon estarem no penhasco a observar o restante povo em vez de fazerem alguma coisa de útil. É num especial que o realizador do episódio explica que Jon e Dany estavam com os dragões à espera que o Night King e Viseryon aparecessem e impedissem a sua investida. O problema é que, até eles aparecerem, uma catrefada de gente morre e eles simplesmente olham! No entanto, em modos gerais, foi fantástico. O trabalho investido nesta sequência é inimaginável. A batalha levou quase três meses a filmar, envolveu 750 pessoas em cena, custou 15 milhões de dólares para ser produzida e é a maior sequência de luta na história da televisão.
Ainda dentro das críticas: alguém me explica o que é que a Daenerys andou a fazer nestes 80 minutos? Qual foi o seu real contributo para a batalha? Só o facto de ela ser a única a poder montar e direcionar Drogon, porque de resto… Aquela cena em que ela e Jorah, bem, em que Jorah tenta combater os wights deu para perceber que when things get real ela não sabe nada e é super vulnerável sem o dragão.
Para mim o ponto alto do episódio, aquele que me fez sentir realmente emoções incontroláveis, foi a sequência de Arya na biblioteca. Que coisa mais stressante! Acho que mais uns segundos e me dava um ataque cardíaco. Estava sentada no sofá, às duas e qualquer coisa da manhã, a tremer involuntariamente enquanto fazia sons esquisitos. Não me lembro de um momento mais triggering e com mais suspense do que este. Verdadeiramente aterrador! Brilhantemente conseguido!
Houve, pelo menos, dois pequenos plot twists que não pensei de todo que fossem acontecer. Um deles foi o Night King manipular a ação dos wights para se amontoarem no fogo e assim conseguirem passar e o outro foi quando ele ressuscitou todos os mortos. Foi um daqueles momentos de fazer arrepiar e de pensar que tudo estava perdido. Por um lado até era previsível, visto que fez o mesmo em Hardhome. Ainda assim, no meio de tanta coisa a acontecer, tal nem me passou pela cabeça e foi uma agradável “surpresa”. Gostei mesmo muito que nesta parte tivessem incluído o regresso de alguns dos mortos nas criptas. Tinha visto numa outra review do segundo episódio que esta seria uma possibilidade e só tenho pena que não tenham incluído uma cara familiar nestes zombies, nomeadamente a de Rickon (o Stark morto há menos tempo e, por isso, provavelmente ainda mais ou menos inteiro para conseguir regressar). Apenas um pequeno aparte: fui só eu que reparei naquele moment entre Sansa e Tyrion quando ela lhe deu o punhal ou vocês também sentiram a vibe?
No que ao grande plot twist do episódio e, possivelmente, da série diz respeito só posso tirar o meu chapéu a Benioff e Weiss. Não percebo de todo a opinião de algumas pessoas em acharem irrealista ter sido Arya a matar o Night King. A miúda anda desde a 1.ª temporada a ser treinada para matar, toda a sua história se foca no facto de se tornar numa assassina implacável e impecável. Acho que fez todo o sentido. A única coisa que não entendo é como é que isso se encaixa na profecia do Azor Ahai. Talvez tentem explicar como pode ser Arya a cumpridora desta profecia ou então simplesmente vão deixar esse pormenor de lado. Todos esperávamos que fosse Jon a deitar abaixo o maior inimigo dos vivos, mas talvez se assim fosse seria algo bastante previsível e GoT não preza pela previsibilidade.
Tenho a dizer que Bran foi completamente inútil neste episódio. Não tentou ajudar aqueles que o protegiam dizendo-lhes onde estava nem o que estavam a fazer o Night King e os White Walkers. Não entendo de todo o porquê de simplesmente estar ali a olhar o horizonte. Talvez soubesse que Arya iria conseguir derrotar o exército dos mortos, mas ainda assim… Pelo menos podia ter confirmado a teoria em que muitos acreditam, incluindo eu, de que ele é o Night King. Espero que futuramente deem alguma explicação para a inação de Bran.
Apesar de tudo, pareceu-me demasiado fácil. Estava à espera que fosse muito mais difícil derrotar os mortos. Foram oito temporadas a construir esta narrativa e a demonstrar como seria difícil acabar com este mal. Entendo que também não seria concretizável prolongar o arco por mais episódios, mas não sei… Soube a pouco. Penso que a partir daqui alterem o foco para Cersei e demonstrem que, no fundo, a verdadeira ameaça sempre foi ela. Provavelmente no próximo episódio teremos a preparação para a derradeira batalha e no quinto aquilo que será então o desfecho desta guerra de tronos. Será aqui que o genocídio ocorrerá, com toda a certeza. Ninguém está a salvo. Talvez tenham destacado tanto este episódio para nos apanharem desprevenidos. Rezemos aos deuses antigos e novos pelo melhor.
Queria deixar apenas os meus parabéns à equipa de som. Sem a banda sonora com toda a certeza que The Long Night não teria sido o que foi. Os momentos em que as espadas dos dothraki e as trincheiras se acendem, além de, visualmente, ser bastante estimulante, aliados à música despertam no espectador emoções e arrepios reais. Por outro lado, todo o episódio teve uma tonalidade demasiado escura, o que me impossibilitou, diversas vezes, de perceber o que se estava a passar. Só quando o revi no computador é que consegui esclarecer algumas dúvidas com que tinha ficado. Entendo que tivessem querido demonstrar o ambiente vivido, que realmente era uma longa noite, e que tivessem querido transportar o espectador até esse cenário, mas também não exageremos. Os próximos episódios serão certamente mais iluminados. O pano de fundo será King’s Landing e lá o que não falta é sol. Mas será de pouca dura?
Beatriz Caetano