Deadly Class, a mais recente série do canal Syfy, inspira-se na banda desenhada homónima e acompanha a entrada do jovem Marcus (Benjamin Wadsworth) na King’s Dominion, a maior escola especializada na formação de criminosos.
A série localiza-se nos finais da década de 80, na grande cidade de São Francisco. É bem verdade que os EUA estão a atingir o seu auge, já que a Guerra Fria está por um fio, com a grande crise que se faz sentir na URSS, mas o dinheiro necessário para manter o clima de tensão faz com que se descure em áreas essenciais do Estado. Esta dicotomia é explorada ao logo do piloto, mostrando-nos as fragilidades internas durante a governação de Reagan, um presidente amado pelas suas conquistas e odiado pelos sacrifícios que fez para as atingir.
É neste ambiente que Marcus cresce. Ficando órfão, é enviado para um orfanato e como a pedofilia estava na moda, as coisas não lhe correram da melhor maneira. A solução que encontrou para resolver os seus problemas vai fazer com que seja um dos homens mais procurados pela polícia e despertar a atenção de Master Lin. Esta faceta da vida de Marcus foi narrada de forma bastante crua, pena que não foi apresentada com flashbacks que lhe fizesse jus.
Em suma, a década de 80 está na moda e quase que o podemos agradecer inteiramente ao sucesso de Stranger Things. A banda sonora, o leitor de cassetes de Marcus, as roupas e até as embalagens de McDonalds acabaram por me deixar um pouco melancólico. É certo que era demasiado criança na década de oitenta, mas tais coisas permaneceram durante a década de 90 e relembraram-me o quando a minha infância e adolescência foi boa, mesmo sem internet!
King’s Dominion é administrada pelo Master Lin (Benedict Wong) e especializou-se durante séculos na formação das elites criminosas mundiais, portanto, nos corredores cruzam-se os filhos das mais importantes máfias, estudando para seguirem com os negócios das famílias. Depressa nos apercebemos de uma importante questão moral nos discursos de Lin, a decisão de quem merece viver e morrer. Esta superiorização (quase) divinizada da administração da King’s Dominion, se bem explorada, pode-nos dar uma adenda bastante interessante ao enredo.
Continuando ainda na escola, embora compreenda, em parte, o interesse de Lin em Marcus, será que não existiam mais delinquentes juvenis em São Francisco? Toda aquela vigilância/proteção dos pupilos de Lin em relação a Marcus pareceu-me demasiada forçada. Mas a minha maior desilusão acontece mesmo com o ambiente vivido na escola. Quem diria que iríamos presenciar birrinhas de adolescentes e a divisão destes em grupinhos a que já estávamos habituados das demais séries juvenis americanas! Quando decidi espreitar o piloto, não foi para assistir a mais uma série irritante sobre um liceu americano, mas foi o que aconteceu durante boa parte da ação. Confesso que pareceu que este ambiente vai condicionar, diria mesmo limitar, o desenrolar da série, o que é uma pena. Espero bem que a série não se centre no triângulo amoroso forçado que se foi formando ao longo deste primeiro episódio.
O piloto acabou por me desiludir, já que esperava um rumo diferente para a King’s Dominion, contudo, devo relembrar-me que as séries do Syfy que gostei, das quais se destaca 12 Monkeys, só começaram a aquecer a partir do segundo episódio. Mesmo assim, tenho de admitir que foi um piloto que, embora já bastante condicionado, revela algum potencial, se optar por explorar o lado mais negro dos estudantes que vamos acompanhar nas próximas semanas. Espreitarei os próximos episódios na esperança que o enredo melhore, enquanto me delicio com as relíquias que vão sendo apresentadas da década de 80, nomeadamente a banda sonora.
Rui André Pereira