Esta série é apresentada como sendo sobre Jack Parsons, um cientista de foguetões com ligações ao mundo de Aleister Crowley. Melhor do que isso, é baseada em factos reais. Só por estes dois pormenores já parece ser uma série interessante, mas neste episódio foi possível ver desde já que há muito mais para além disso. As diferentes personagens interagem entre si de formas peculiares: o protagonista é casado com Susan, uma mulher meio descontente, e torna-se uma espécie de amigo do estranho vizinho bêbedo, Ernest. Ao mesmo tempo tem uma enorme admiração e respeito pelo amigo/parceiro de trabalho, Richard, se bem que volta e meia o engane ou ponha em maus lençóis. Tudo por causa dos seus sonhos de enviar um foguetão para o espaço. De preferência com gente lá dentro. Jack e o seu parceiro sonham com foguetões desde a adolescência e, enquanto Richard, um teórico, se conseguiu manter no meio académico e vai tentando avançar com a sua carreira, Jack teve que sair da faculdade por causa da Grande Depressão que atingiu os Estados Unidos nesta altura. Mas juntos nunca desistiram dos seus projetos, recolhendo materiais na fábrica de químicos em que Jack trabalha e endividando-se (para descontentamento do pai de Susan).
A história podia ser contada de forma simples e linear, mas a série permite-se algumas liberdades, devido à ligação de Jack a Aleister Crowley, algo que neste episódio apenas foi vislumbrado, sem qualquer menção explícita a Crowley, mas que permite encaixar sequências de sonhos e estranhas visões em redor do protagonista. Algumas destas sequências, de tão pouco contexto que têm, deturpam um pouco o ritmo da história e, no final do episódio, a sensação que fica é a de uma história com demasiadas componentes, em que o fantástico, o sonho e a realidade se misturam e se cruzam de formas inesperadas.
Não achei desagradável. Até fiquei interessada em saber mais, pelo menos para perceber melhor o que se está a passar exatamente e como é que estes dois mundos dos foguetões e do ocultismo se vão influenciar mutuamente. Jack, em particular, vive dividido entre os seus sonhos, a responsabilidade que tem para com Richard, o amor que sente pela sua mulher e a estranha atração que não consegue evitar pela forma de ver o mundo do seu novo vizinho.
De uma forma mais contida, este episódio deixa entrever todas essas componentes, mas de certa forma consegue também focar-se no essencial, que é a demanda de Jack e Richard em terem sucesso com o lançamento dos seus foguetões. E se o episódio começa com um falhanço, termina com uma demonstração com (demasiado…) sucesso, fruto da inteligência de Richard, da persistência de Jack e até das ideias que este teve graças a desavenças com o vizinho.
No fim, apesar de alguma confusão e de achar que foram demasiadas coisas para um só episódio introdutório, fica a curiosidade para pelo menos saber em que direções vão fazer evoluir a história.
Júlia Pinheiro