Contém spoilers!
Com a Marvel em alta, salta mais uma dupla de heróis dos quadradinhos para o pequeno ecrã. Cloak & Dagger marca então a incursão de dois adolescentes na descoberta dos seus misteriosos poderes num mundo injusto para ambos. Obrigado Freeform, pois uma série Marvel é sempre bem-vinda.
Para os fãs da Marvel que seguem avidamente os comics, esqueçam as comparações. Embora os poderes estejam lá, todo o contexto envolvente é diferente, o que, certamente, levará a desenvolvimentos bem díspares daquilo que é esperado. Este distanciamento acaba por ser positivo, já que cedo desistimos das comparações e abraçamos por completo uma série que tem o seu potencial, onde os heróis não são totalmente bons e os vilões são apenas consequência de circunstâncias negativas do passado. Quer dizer, nesta altura, mencionar vilões será demasiado prematuro, já que nada em concreto nos foi apresentado nos dois episódios já libertados pelo canal.
O passado. É em torno do passado que a série é construída. Os flashbacks são uma constante e acabam por contextualizar e desculpabilizar boa parte das opções menos positivas que o elenco vai tomando ao longo deste piloto. Existe, na infância de ambos, um momento-chave que acaba por mudar a sua vida drasticamente e que, eventualmente, poderá estar na origem dos poderes dos personagens centrais.
Tandy é a típica menina branca americana da classe média alta. O seu pai trabalha na poderosa Roxxon, num cargo que aparenta grande responsabilidade. É após uma aula de ballet que a vida de Tandy muda, já que se dá um acidente e o carro em que se desloca com o pai acaba por cair num lado… vão morrer!
Tyrone é uma criança negra num bairro complicado. A família não aparenta dificuldades económicas, mas também não deve nadar em dinheiro. Billy, o seu irmão mais velho, acaba por ser assassinado por agentes policiais, e tudo por culpa dele. Se Tyrone não tivesse roubado aquele rádio, toda a situação seria evitada… e este sentimento de culpa consome-o todos os dias.
Em suma, ambas as crianças estão no lago, uma presa no carro e outra a tentar salvar o irmão, quando se dá uma explosão na Roxxon e uma onda de energia se espalha. Será esta a origem dos poderes dos dois jovens. O que é certo é que ambos usam os seus poderes pela primeira vez e acabam por se salvar.
Já com 17 anos, as vidas de ambos mudaram radicalmente desde aquele fatídico dia. Tandy perdeu tudo e vive numa igreja abandonada para evitar a mãe, que entrou numa espiral destrutiva após a morte do marido. Tornou-se assaltante em conjunto com o seu namorado. Por seu lado, Tyrone viu a situação económica da sua família melhorar drasticamente, estuda num colégio católico e é uma estrela do basquetebol escolar. É numa festa que os dois se reencontram, onde Tandy rouba a carteira de Tyrone, dá-se uma perseguição e os poderes dos dois voltam a manifestar-se. Enquanto Tandy fica com a mão a brilhar, Tyrone vê um fumo negro a rodeá-lo… e nada mais volta a ser o mesmo para ambos.
Pouco mais foi revelado. O certo é que os poderes deles estão interligados e funcionam melhor quando estão juntos. A verdadeira extensão dos seus poderes está por descobrir, sabendo-se que, para já, um conseguirá produzir punhais de luz e outro teletransporta-se… mas não ficarão por aqui.
Como veredito final, a série parece interessante e tem o seu potencial. Além da parte dos superpoderes, a componente dramática acaba por complementar o enredo evitando aquela tipologia de séries de um caso por episódio. Além disto, a humanização dos heróis acaba por trazer algo de diferente daquilo a que estamos habituados, já que ninguém é totalmente bonzinho. Vou dar uma oportunidade e espreitar o resto da temporada.
Rui André Pereira