The City and The City é uma série britânica adaptada do livro de China Miéville com o mesmo nome. China Miéville é um autor peculiar cujos livros tratam sempre de conceitos estranhos e este caso não é exceção. Estes conceitos foram sempre vistos como demasiado difíceis de ser retratados em série ou cinema, mas desta vez alguém se levantou e tentou fazer o impensável.
A base da trama é a relação entre duas cidades, Beszel e Ul Qoma, que partilham o mesmo espaço físico, literalmente. As leis, no entanto, obrigam a que os habitantes de cada uma das cidades conscientemente “não vejam” o que se passa do outro lado com risco de “Breach”, uma terceira entidade que controla as interações entre as cidades e que, permanecendo misteriosa, nos dá a ideia de que nada de bom acontece quando é chamada a intervir.
Este primeiro episódio começa com uma morte de uma rapariga em Beszel que se vem a descobrir ser de Ul Qoma. De quem é a responsabilidade do crime? Qual das cidades deve investigar? Talvez um trabalho conjunto? Acompanhamos a visão do inspetor Tyador Borlú, um homem marcado pelo desaparecimento da sua mulher e que neste caso em específico é capaz de ver várias semelhanças com a sua história pessoal.
O panorama das cidades é-nos apresentado por várias vezes neste episódio, sendo que o lado de Ul Qoma (onde não estamos) aparece desfocado. Sabemos que há ali mais cidade, mais pessoas, mais histórias, mas não é suposto conseguirmos vê-las (o que se torna engraçado no meio do trânsito de hora de ponta!).
Uma chamada dá início a um caso com mais para contar do que a início se julgaria. A rapariga que apareceu tem um nome, Mahalia Geary, é americana, mas vive e trabalha em Ul Qoma. A chamada vem também desta cidade “vizinha” e isso já são interações suficientes para se querer entregar o caso à Breach e não a uma polícia normal de Beszel. No entanto, Borlú não pensa da mesma maneira e mesmo com os contornos familiares que reconhece no caso, não sente que alguém para além dele deva tratar de descobrir o que se passou com Mahalia.
Poderia parecer que The City and The City é só mais uma sobre crimes e investigações, mas desde o início que se percebe que há mais do que isso. Os meandros do crime vão sendo descobertos ao mesmo tempo que “unificacionistas” estão nas ruas a lutar por uma fusão das duas cidades, contactos são estabelecidos ilegalmente entre as cidades para avançar com a investigação com os anúncios à entidade Breach em cada canto, tudo para chegar à conclusão do que se passou.
A nível técnico, a forma como os ângulos são apresentados, as cores que nos são mostradas de uma cidade e outra, mesmo as próprias pessoas com dificuldade crescente em não reconhecer o que está, literalmente, à frente dos seus olhos dá-nos uma boa ajuda a perceber onde estamos e qual a atmosfera de cada um dos sítios. De notar que o casting está especialmente bem feito, realçando principalmente o caso de David Morrisey que, embora sendo um ator reconhecidamente versátil, faz um papel como Borlú muito, muito fiel ao personagem.
Júlia Pinheiro