Philip K. Dick’s Electric Dreams – 01×01 – The Hood Maker
| 14 Jan, 2018

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Contém Spoilers!!

Com o fenómeno que foi Black Mirror, começa-se finalmente a espalhar o conceito de short stories de distopias futuristas que nos fazem pensar, com cada episódio separado e independente do outro. A principal diferença desta série para com Black Mirror é que (como o nome indica), todos os episódios são baseados em histórias de Philip K. Dick, o mesmo homem que nos trouxe Man in the High Castle, e os fãs das suas obras saberão que o que não falta é material para esta série se basear, uma vez que o autor escreveu 44 romances e 121 short stories. Portanto, se gostaram deste primeiro episódio (ou da temporada toda, caso já a tenham visto) podem esperar com otimismo mais no futuro.

O primeiro episódio é The Hood Maker, uma distopia em que existem uns humanos com o poder de ler as mentes das outras pessoas chamados Teep. Estes são tratados como escória e são facilmente identificados por uma marca que apenas os Teep têm. Começamos por conhecer Honor e Ross, as nossas personagens principais. Honor é uma Teep e faz parte de um programa experimental em que se alia um Teep a um agente, agente este que se trata de Ross. Como é de imaginar, um mundo em que os teus pensamentos podem ser escutados sem te aperceberes, em que violam a tua privacidade mais íntima, é um mundo indutor de revolta e agressividade e, como já referido acima. isso reflete-se na maneira como são tratados os Teep. Por sua vez, esta discriminação leva à existência de sentimentos de revolta por parte dos Teep e a uma possível revolução, algo que preocupa Ross e o leva a tentar saber se Honor tem conhecimento de alguma coisa durante a sua perseguição ao Hood Maker. Este é um homem misterioso que conseguiu construir uns capuzes capazes de impedir a leitura dos Teep, não só impedindo a leitura da mente de quem os está a usar como parecendo causar um efeito nefasto em Honor.

Durante o tempo que passam juntos, Ross e Honor parecem formar uma ligação genuína, levando a sua relação a ultrapassar o limiar de colegas. No entanto, Honor nunca conta a Ross os planos que existem para uma revolução, encontrando-se dividida entre o homem que ela pensa amar e a sua própria “espécie”. Isto culmina num encontro com o Hood Maker em que este revela a verdade acerca de Ross e de como este consegue bloquear a leitura da sua mente sem precisar de nenhum capuz; trata-se de uma habilidade inata que este tinha mais desenvolvida que todos os outros. Quando os restantes Teep pegam fogo ao armazém onde Ross, Honor e o Hood Maker estão, Ross abre a sua mente a Honor e assistimos a como a sua relação de parceiros era na realidade uma farsa para conseguir informações sobre a revolução dos Teep. E acaba assim, sem sabermos mais acerca do que se passa ou onde acaba a revolução. Mas não precisamos, porque o propósito desta história já está contado.

Imaginem que qualquer pensamento que tenham pode ser lido e podem ser julgados por esse pensamento. Não é agradável, transmite a sensação de paranóia e de sufoco; quando nem os teus pensamentos são livres não existe liberdade, o que, por um lado, ajuda a perceber (não a concordar com) o tratamento do povo aos Teep. Mas por outro lado, imaginem-se agora na outra pele; mesmo sem querer, às vezes conseguem ouvir os pensamentos de toda a gente. Nem no conforto da vossa casa conseguiam ter paz total, uma relação amorosa teria inevitavelmente um prazo de validade curto devido à falta de barreiras. Seria um caos, para nem falar do quão agressivo psicologicamente seria observar alguns dos pensamentos mais negros que um ser humano pode ter. Neste episódio, entramos um pouco nessa vertente no bordel onde trabalham Teeps e que satisfazem os homens ao lerem-lhes os pensamentos e acabarem por sentir como se fosse realidade. Sendo pior ou não que Black Mirror, o melhor que posso dizer acerca deste episódio é que conseguiu o seu objetivo, pôs-me a pensar e a refletir. Nunca gostaria de ter o poder de ler a mente de ninguém.

Raul Araújo

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