[Contém spoilers]
Após uma breve pausa, Grey’s Anatomy está de regresso com a segunda metade da sua 14.ª temporada. Esta recomeça com 1-800-799-7233, uma estreia para Grey’s por se tratar do primeiro episódio da série cujo título não tem origem numa música. Em vez disso, este episódio deve o seu nome ao contacto da linha nacional de violência doméstica americana – algo que considero bastante apropriado, tendo em conta a temática deste episódio.
1-800-799-7233 retoma a narrativa do episódio que o precede: no decorrer de um ataque levado a cabo por piratas informáticos, o hospital vê-se forçado a recorrer a medidas alternativas para manter o seu bom funcionamento enquanto o FBI tenta resolver a situação. Todos sabemos, no entanto, que este não é o tema principal deste novo episódio de Grey’s Anatomy que, após o final chocante do episódio anterior, se foca – ou melhor, devia focar – em Jo e na sua relação com o seu marido abusivo.
Muito honestamente, tinha expectativas bastante elevadas em relação a este episódio, pelo que me custa começar esta review com uma crítica ao mesmo. Como podem já ter percebido pelo parágrafo anterior, acredito que 1-800-799-7233 se deveria ter focado muito mais na história de Jo. A verdade é que, ao ver o episódio, senti que existiram demasiadas “distrações” àquilo que, na minha opinião, deveria ter sido a principal narrativa deste episódio. Pessoalmente, acho que histórias sem grande importância, como o romance entre Maggie e Jackson ou DeLuca e Sam, poderiam ter sido colocadas em stand by durante 1-800-799-7233, de modo a que a temática da violência doméstica fosse abordada com mais profundidade, resultando naquilo que acredito que seria um episódio muito mais forte.
Esta é, no entanto, a única crítica negativa que aponto a 1-800-799-7233. Apesar de acreditar que o episódio poderia ter tido uma abordagem mais profunda a esta temática, acho que a trataram de forma bastante respeitável e cuidada. Entre os meus aspetos favoritos deste episódio estão as cenas entre Meredith e Jo, nas quais Meredith se demonstra muito protetora da médica mais jovem.
Adorei também a cena entre Jo e Jenny, a noiva de Paul, na qual Jo se oferece para ajudar Jenny a sair da situação abusiva em que se encontra, apesar de Jenny não o querer (ou conseguir) admitir. Na minha opinião, esta foi talvez uma das cenas mais importantes deste episódio, uma vez que transmitiu uma mensagem cada vez mais relevante nos tempos que correm: enquanto seres humanos e, particularmente, enquanto mulheres, devemos fazer o possível para nos apoiarmos mutuamente de modo a pôr um fim aos abusos do dia a dia. Acredito verdadeiramente que esta se trata de uma das lições a retirar deste episódio, até porque Shonda Rhimes, criadora da série, é uma das grandes vozes por detrás do movimento Time’s Up, já conhecido por muitos.
Não posso dar esta review por terminada sem antes falar um pouco sobre Casey Parker (Alex Blue Davis), o interno que ajudou Bailey a resolver o problema do ataque informático. Sempre acreditei na importância da diversidade e da representação na televisão, sendo essa uma das razões pela qual tenho um carinho especial por Grey’s Anatomy que, ao longo dos anos, nos trouxe uma quantidade razoável de personagens que fogem (ou, na época, fugiam) à norma de Hollywood. Apesar de, hoje em dia, existirem já muitas personagens pertencentes à comunidade LGBT+ na televisão, a realidade é que são ainda poucas as séries que retratam personagens transexuais, como é o caso de Casey. Agrada-me que Grey’s tenha tomado a decisão de adicionar esta personagem ao seu repertório e acho importante realçar a naturalidade com a qual a backstory da personagem nos foi apresentada, perto do final do episódio.
Inês Salvado
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