Até à data, apenas a William tinham sido concedidas honras de centro da história com um episódio totalmente dedicado a si, um episódio extraordinário que celebrou a sua vida quando este estava à beira da morte. Esta semana essa honra foi concedida a Kevin Pearson. E no seguimento dos mais recentes acontecimentos, só poderiam haver dois caminhos: o da redenção para Kevin ou o do adensar do declínio de Kevin. E porque caminho nos levaram? Pelo segundo… Bem-vindos à espiral descendente que pela qual Kevin vai a cair totalmente descontrolado.
Kevin é, como o nome do episódio indica, o “Number one”, pois foi o primeiro dos três irmãos a caminhar. E nem só aí ele quis ser o primeiro. Kevin sempre quis ser o melhor em tudo, desde o futebol à representação e no seu percurso da fama.
No presente, a lesão no joelho durante as filmagens – que a princípio parecia que seria facilmente superada – foi o “princípio do fim”, despoletou todas as memórias passadas e reprimidas, perturbou Kevin por completo; não soube lidar com isso e cometeu erros atrás de erros. Mas mesmo num momento de completo desleixo, em que vemos um Kevin desgastado, com barba por fazer, que se deixou viciar em comprimidos para as dores e em álcool, aquele ego enorme não reduziu nada. E por isso mesmo uma homenagem da sua escola secundária a ele, que havia sido o grande atleta da escola e o grande sucesso dos antigos alunos, é mais que um bom motivo para ele regressar à cidade que o viu crescer. Desde a sua chegada é brindado com elogios atrás de elogios de quem o quer homenagear. Kevin é visto quase como um “deus” pelas conquistas desportivas que deu à escola e pelo sucesso como “The Manny”. Mas apesar da sua soberba, ele acaba por ter noção de que não é merecedor de tal reconhecimento tendo em conta que conseguiu estragar tudo sempre que a sua vida e carreira se encarrilhavam. E mesmo tendo noção, ele simplesmente não consegue reverter a situação, pois apenas bebe e bebe mais para perder a noção de tudo!
Paralelamente ao regresso à escola secundária e à noite de homenagem, vamos assistindo ao tempo em que o Kevin de 16 anos era o “rei” da escola e um jogador de futebol com um potencial imenso. Também nesse momento, quando tinha um mundo de oportunidades a seus pés, foi precisamente uma grave lesão no joelho que destruiu todos os seus sonhos. Aquando do momento da lesão, um momento tremendo para as suas ambições, Kevin recebeu do seu pai um fio que Jack carregava ao pescoço desde um período muito difícil da sua vida, quando esteve na guerra. E acompanharia Kevin daí em diante, tendo grande significado para ele, pois acabava por ser o que restava de “físico” nessa relação forçada a passar exclusivamente para o plano espiritual. Ao longo do oscilar entre os dois tempos vemos a enorme marca que Jack tinha na vida de Kevin e o profundo vazio que a sua perda deixou. Essa perda é a verdadeira causa por detrás da instabilidade de Kevin.
Como não poderia deixar de ser, na ressaca da noite de cerimónia, para se sentir melhor, Kevin aproveita-se de mais uma pessoa, como tantas vezes faz, desta feita uma ex-colega, Charlotte, que tinha um fraquinho por ele e vai para a cama com ela. Como se não bastasse, ainda se aproveita do facto de ela ser médica para roubar receitas para conseguir mais medicação. Kevin não para de se destruir e pelo meio ainda consegue perder o fio que recebera do seu pai na casa da sua aventura da noite. Fica em absoluto pânico quando se apercebe, mas escusado será dizer que Charlotte, depois de ser usada e enganada por Kevin, não estava disponível para lhe devolver fosse o que fosse.
Kevin Pearson é a personagem mais instável da série, a que oscila mais entre bons e maus momentos, entre verdadeiros períodos de “membro de alcateia” e outros em que é o típico lobo solitário, individualista e egoísta. Justin Hartley tem estado à altura do desafio e com uma personagem tão inconstante emocionalmente está também ele a confirmar aquilo que Kevin tanto tenta e a dar provas de ser bem mais que um gajo com boa aparência. Os argumentistas de This Is Us parecem empenhados em fazer de Kevin Pearson um vilão. Desde o Kevin de 10 anos que despreza e maltrata o irmão que só quer o seu apresso, ao Kevin de 16 anos, super arrogante, super convencido, que não valoriza a família especial que tem e que só quer o seu bem, sendo um autêntico idiota, até ao Kevin adulto. Foi o Kevin adulto que já vimos ter atitudes que mostram que poderá haver um outro lado mais próximo de Jack, tal como quando deixou Miguel ser Pilgrim Rick no Dia de Ação de Graças ou quando abandonou a sua grande noite de estreia no teatro para estender a mão a um Randall à beira do colapso. Mas foi também esse Kevin que vimos manipular pessoas, partir corações e revelar um egoísmo sem par, mesmo face à sua gémea Kate. Haverá volta para Kevin? Neste momento a redenção é um luz muito ténue ao fundo do túnel e o foco irá passar na próxima semana para a sua irmã, que acaba de viver na pele mais um momento que irremediavelmente irá marcar a sua vida. Mas lá iremos na próxima semana, semana que parece que será totalmente dedicada a ela.
André Borrego