[Contém spoilers]
“Best wedding ever” e “Oliver in the High Castle”
Se é incontestável que o MCU reina no que toca aos filmes, em séries televisivas as opiniões dividem-se fervorosamente. Algo que no entanto é mais aceitável é a qualidade dos crossovers da CW. Este ano vimos o culminar das diferentes séries da Marvel/Netflix na série dos Defenders e se sem dúvida que foi uma das agradáveis surpresas deste ano também não se pode dizer que não teve os seus problemas, dessa forma não estando superior em termos de entretenimento em relação ao evento anual do Arrowverse da CW. Hey, hey! Espera lá, estás a comparar a Marvel/Netflix com a DC/CW, perguntam-me vocês? És doido?! Esta comparação só vem realçar o alto nível de qualidade verificado o ano passado no crossover “Invasion!” e que este ano se mantém em “Crisis on Earth-X”.
São cerca de 3 horas filmadas em quatro semanas e mais dois meses de edição num gigantesco empreendimento que traz ao ecrã mais de 20 super-heróis e vilões. Imaginam se “Crisis on Earth-X” tivesse o orçamento de Justice League?
Nota-se em alguns momentos um CGI mais fraco, mas que era tanto inevitável como também o é desculpável. No final das contas, “Crisis on Earth-X” é um evento de orgulho para os fãs da DC e de super-heróis no geral.
Se o ano passado o perigo veio sob a forma de uma invasão alienígena da raça dos Dominators que pretendiam eliminar os meta-humanos da Terra, este ano o perigo vem não da “última fronteira”, mas mais em termos da Física Teórica e da existência do Multiverso. Pelos vistos não existem apenas 52 Terras, e subsequentes universos, mas existe também uma Terra-53, aquela que pode ser considerada a ovelha negra da família.
Quando imaginam um dos piores momentos da Humanidade o que é que vos vem à mente? “I hate Nazis.” A Terra-53 é um sítio que viu a Alemanha a vencer a corrida ao desenvolvimento da bomba nuclear e assim a ganhar a 2.ª Guerra Mundial. Os fãs de The Man in the High Castle certamente encontrarão diversas semelhanças, nomeadamente em termos da banda sonora, pois é possível ouvirmos o tema dessa série ao longo do crossover. O que outras Terras implicam sempre são dopplegangers e, neste caso, os grandes vilões do evento são basicamente a trindade do Arrowverse: O Führer de 2017 que é nada mais nada menos que Oliver Queen; a general das tropas nazis, Overgirl, uma kryptonian de nome Kara que devem conhecer na Terra-38 como Supergirl; e, claro, no papel de cientista maluco temos o speedster único e inigualável, Reverse Flash (este da Terra-1 e que não fazemos ideia de como foi parar à Terra-X. Tal como nos comics, este vilão é resistente como as baratas e aparentemente imortal).
A intro do evento ao género da dos filmes do universo Marvel, e que também já foi adotada pelo universo da DC, dá todo um tom mais cinematográfico para nos indicar que estamos prestes a presenciar algo épico e memorável. Na primeira parte do crossover tivemos uma introdução espetacular que alegrou aqueles que acompanham todas as séries e permitiu àqueles que não as seguem todas ter um pouco de background do que se passa na vida das outras personagens: Flash a combater King Shark, Green Arrow contra ninjas, Supergirl a esmurrar um Dominator e as Legends a vaguear pela Inglaterra medieval… não há como não ficar logo entusiasmado.
A junção de todas as personagens não podia ter melhor motivo do que o casamento de Iris e Barry, o casal perfeito do Arrowverse. E num ambiente mais descontraído pudemos aproveitar as nossas personagens de uma maneira que poucas vezes temos oportunidade, já que há sempre um vilão para combater.
A primeira parte manteve um ambiente adaptado ao comum dos episódios de Supergirl, o que permitiu enquadrar os dramas amorosos e as discussões entre parceiros. Pudemos ver nascer a chama entre o casal que nós não sabíamos que queríamos e que é perfeita para um caso de uma noite: Alex e Sara. Quem é que também adorou vê-las juntas? Notou-se também uma atenção especial a pormenores ao longo dos episódios e à relação entre as diversas personagens e tudo o que está para trás (como exemplo, não terem aparecido todas as Legends para o casamento, nomeadamente aquelas que não se dão com os noivos). Comparativamente ao crossover passado, a história desenrolou-se com maior fluidez e centrou-se em histórias específicas sem a preocupação de tentar englobar toda a gente respetiva da série e do episódio em questão.
Mick Rory leva para casa a taça de melhor elemento para desanuviar. A ator parece que anda no set sem problemas, a mandar bocas por onde vai passando e sempre a comer e a beber. Mas que boa vida! Se no crossover passado o interesse dele era virado para Kara, parece que desta vez a paixoneta vai para Killer Frost. E repararam quando ele se sentou ao lado do capitão Singh? Os momentos mais afetuosos deram o foco ao discurso de Joe, que conseguiu fazer sentir que o amor estava no ar, e, claro, à magnífica performance de Melissa Benoist a cantar a versão de “Running Home to You”, um tema mais do que adequado para Barry e Iris.
As cenas de ação estiveram no topo e só com elas já teria ficado satisfeito. Os movimentos de Wally estiveram incríveis, o disparo de Oliver a intercetar a seta da sua versão maligna foi brutal e a espada de gelo de Killer Frost deixou-me de boca aberta.
Quanto à 2.ª parte, no panorama geral, foi a mais fraca do evento. Notou-se uma transição para um tom mais negro à medida que os perigos que a Terra-X representa se iam conhecendo, mas o enredo acabou por se enrolar e perder-se um bocadinho. A história estendeu-se em demasia em Olicity, no coração partido de Alex e na discórdia entre Stein e Jax com a separação de Firestorm.
Stephen Amell deu um aceitável vilão, ter Tom Cavanagh de volta ao seu papel de Eobard Thawne foi um deleite, mas o melhor mesmo foi a dinâmica entre os três principais vilões. E que dizem a Oliver e Kara juntos? Que mundo ao contrário aquela Terra-X! Mas Oliver parece ter um fraquinho por loiras em qualquer das versões.
Lembram-se de Prometheus, o grande vilão da temporada passada de Arrow que ia eliminando toda a gente que Oliver conhece? Bem, antes de o público saber a identidade do vilão como Adrian Chase, muitas apostas iam para Tommy Merlyn. O fato e as habilidades de Prometheus serem tão parecidas com as do Dark Archer, aka Malcolm Merlyn que, como sabemos, é o pai de Tommy, eram um bom suporte para essa teoria. Desta forma, os produtores deram a satisfação aos fãs de verem as suas teorias a serem tornadas realidades de uma forma que ninguém estava à espera, sem falar que foi nostálgico ter Colin Donnell de volta à série, nem que tenha sido só por uns instantes.
“Super-speed… I don’t have it”, coitado do Green Arrow. Apesar de ter dado um momento impressionante, o disparo de Green Arrow de uma seta com kryptonite levanta uma dúzia de questões. Onde raio foi ele buscar o material? Terá Krypton também explodido no universo da Terra-1 e chegaram lá destroços? Terão as versões de Kara e Kal-El morrido?
Uma cena curta mas com impacto foi o salvamento dos construtores quando o prédio estava a ruir. Trouxe um realce de que aquilo que realmente é importante para os nossos heróis é a proteção dos inocentes e que apanhar o vilão não está acima disso. Foi uma das críticas apontadas a Superman no seu filme em Man of Steel (2013) da DCEU e que foi agora corrigida em Justice League; e os produtores do Arrowverse parecem ter acertado com os valores mais importantes de um super-herói. Também foi engraçado ver os três heróis a usar as suas habilidades de maneiras diferentes para ajudar na situação (o Green Arrow quase que pareceu o Spider-Man por um momento).
“I’m saving Nazi you for you” bahahah. O confronto no armazém foi inesquecível, principalmente com parte da ação a ser mostrada através dos olhos de Oliver. Viram Alex a dar uma de John Wick?
As capacidades de Green Arrow foram enaltecidas através da sua versão maléfica do Führer, que sozinho foi capaz de derrotar a maioria da Team Arrow, tendo já antes posto fora de combate Rory e Killer Frost. Não é por qualquer motivo que a maioria das pessoas aposta em Batman para vencer a maioria dos combates contra seja quem for e, no Arrowverse, Batman é quase um sinónimo de Green Arrow.
Moral da história? Nunca perguntar num casamento se alguém tem algo contra os noivos casarem-se, é mesmo a chamar a desgraça. STAR Labs foi capturado e a maioria dos heróis foram feitos prisioneiros. Será que é altura de as outras Legends entrarem em ação? E irão Barry e Iris eventualmente chegar a casarem-se?
Tendo já visto o evento todo, só posso dizer que a Parte 3 (em The Flash) e a Parte 4 (em Legends of Tomorrow) estão ainda melhores e reservam surpresas e emoções inacreditáveis. Não percam!
Classificação da Parte 1: 8,8
Classificação da Parte 2: 8,3
Emanuel Candeias