Atenção: esta review contém SPOILERS!
A 29 de novembro de 2016 estreou no canal britânico BBC One a série Rillington Place, um drama biográfico sobre o caso real de John Christie, um assassino em série britânico, e a execução injusta de Timothy Evans, seu vizinho. A minissérie, cuja ação se estende pela década de 40 e início de 50, encontra-se dividida em três capítulos de cerca de uma hora, que seguem o ponto de vista de cada um dos seus protagonistas – Ethel, Tim e Reg, por esta ordem. Assim sendo, este episódio piloto teve como sua protagonista Ethel Christie (Samantha Morton), esposa de John “Reg” Christie (Tim Roth, conhecido pelos seriólicos graças à série Lie To Me).
Este primeiro episódio dá-nos a conhecer Ethel e a sua relação com Reg que, à primeira vista, é como qualquer outra relação entre marido e mulher. No entanto, depressa nos apercebemos que há muito mais que se lhe diga quando Ethel começa a perceber que há algo de muito errado com o seu marido. Ainda sem saber exatamente a razão por detrás do estranho comportamento de Reg, Ethel chega a procurar ajuda médica para o seu marido, mas acaba por se sentir culpada quando o médico lhe diz que esta simplesmente não deve dar atenção suficiente a Reg.
À medida que a ação do episódio se vai desenrolando, Ethel vai-se tornando progressivamente mais desconfiada em relação ao seu marido, até que um dia a curiosidade a leva a segui-lo e, após isso acontecer, não tarda a juntar as peças do puzzle. O que mais me surpreendeu nesta situação é que mesmo após ser agredida por Reg, Ethel regressa. É como se sentisse uma obrigação para com o seu marido – o que, tendo em conta o contexto histórico e cultural da série, é perfeitamente compreensível. Aliás, de certa forma, este primeiro episódio serve mesmo para nos explicar o porquê de muitas mulheres continuarem com parceiros abusivos: esta sensação de responsabilidade para com o outro.
Apesar de não nos mostrar nenhum dos homicídios (pelo menos não neste episódio), Rillington Place faz um excelente trabalho ao dar-nos pequenas informações que, pouco a pouco, começam a fazer sentido. Pessoalmente, acho que alguns momentos do episódio se tornaram um pouco maçadores, uma vez que estava à espera de mais alguma ação. Ainda assim, acho interessante a forma como resolveram dividir a série de modo a expor-nos a situação. Esta divisão em três pontos de vista diferentes parece-me fazer todo o sentido, tendo em conta o caso no qual a série se baseia. Acho também curioso que o caso que inspirou esta série teve um papel de destaque no movimento para a abolição da pena de morte no Reino Unido, uma vez que um homem inocente foi enforcado pelos crimes de John Christie. A componente biográfica da série definitivamente influenciou o meu interesse pela mesma e parece-me ser o tipo de série que irei continuar a ver (de qualquer forma, são só três episódios).
Inês Salvado