[Contém spoilers]
Em junho do ano passado, a Amazon lançou The Last Tycoon, série baseada na última obra inacabada de F. Scott Fitzgerald. Como já vem sendo hábito por parte da Amazon, só depois de reunido um certo número de votações por parte dos fãs é que as séries têm continuação e foi o que aconteceu com esta, que viu o segundo episódio ir para o ar no dia 28 do passado mês. É curiosa a atenção que a Amazon parece dar à família Fitzgerald; depois da estreia de Z: The Beginning of Everything, eis que surge este The Last Tycoon.
The Last Tycoon segue a história de Monroe Stahr (Matt Bomer), um produtor em ascensão numa Hollywood mergulhada na Grande Depressão e dominada pelos nazis. Monroe sofre de uma patologia grave no coração, que o faz viver como se tivesse no seu interior uma bomba relógio, motivo que o leva a procurar sempre e cada vez mais o filme perfeito, acabando muitas vezes por ir contra o seu chefe e dono do estúdio, Pat Brady (Kelsey Grammer), para o qual trabalha. Monroe debate-se com a dor da perda da mulher, atriz do cinema mudo. Neste ponto tenho que ressalvar uma coisa, F. Scott Fitzgerald retrata a morte de Minna Davis (esposa de Stahr) como vítima de um incêndio em circunstâncias estranhas, e não é curioso que a própria mulher de Fitzgerald, Zelda, tenha morrido em contexto muito semelhante anos mais tarde?
Monroe continua a fazer o luto pela esposa, vendo os filmes onde ela era protagonista, noite após noite; tem como projeto atual um filme biográfico sobre Minna, que estaria a ser escrito pelo irmão desta, Dex Davis, que sofrendo de uma aparente depressão comete suicídio no set de gravações. Apelidado como o menino de ouro de Hollywood, Monroe, com o seu carisma, consegue o que quer, de realizadores, escritores e etc. Stahr não se deixa iludir pelas variadas tentativas das mulheres que o desejam, resistindo sempre, pelo amor que tinha à sua falecida esposa. Celia (Lily Collins), filha do dono do estúdio para onde trabalha, está constantemente a declarar-se a Monroe, sendo o seu grande objetivo casar com ele.
Vemos um produtor de cinema que, após ficar viúvo, vive apenas para o trabalho, numa busca incessante do filme perfeito e merecedor do seu primeiro Óscar. No entanto, a indústria cinematográfica debatia-se com a censura por parte da Alemanha nazi. Sendo um dos principais importadores do cinema, os nazis deslocavam-se com frequência a Hollywood de forma a acompanhar os textos e gravações de filmes, proibindo que fosse dado destaque a personagens judias ou proibindo sempre que surgia algo relacionado com as atrocidades cometidas pelos nazis, o que não agradava em nada a Monroe, levando-o a entrar em conflito com o seu chefe, que aceitava tudo por parte dos nazis, desde que o seu estúdio não fosse por água abaixo.
Já no final do episódio, Monroe, ao chegar a casa, começa a ver roupa de mulher espalhada pelas escadas que dão acesso ao seu quarto. Não achamos nada de estranho até que Monroe ao entrar no quarto se depara com a esposa de Pat Brady. Podíamos pensar que, enfim, era mais uma mulher que desejava o tão bonito e talentoso produtor, mas eis que somos surpreendidos ao nos apercebemos que aquele relacionamento já se vem mantendo e que o respeitoso e imaculado viúvo esconde uma maneira de ser peculiar e o menino de ouro esconde muitos segredos obscuros.
Geralmente as séries de época despertam-me a atenção mais do que as outras e esta não foi exceção. Além de interpretações fantásticas, a fotografia não desilude, e quem não estaria curioso em acompanhar a restante história de Monroe Stahr? E aquele twist mesmo no final foi a cereja no topo do bolo.
Ana Galego Santos