E chegou o adeus. Chegou o tão aguardado final de série de uma das mais adoradas séries de televisão dos dias de hoje. Chegou a última despedida de todas as sestras mais apaixonantes de que há memória. Orphan Black chegou ao fim e o meu coração não consegue processá-lo.
O final, em si, não foi tão extraordinário como o esperado, mas não deixa de ser um que nos leva a sentir uma dor intensa porque nunca mais iremos ver estas extraordinárias personagens. Helena está prestes a dar à luz e Sarah precisa de encontrar equipamento médico para ajudar ao parto inevitável que está a acontecer perante os seus olhos. Coady e Westmoreland estão igualmente a aproximar-se do seu objetivo e Art finalmente toma uma atitude com Enger.
Sem querer revelar muito do enredo, vou escrever esta crítica em tom de carta de despedida. Vou colocar em palavras o quão especial Orphan Black é, apesar de todos os seus deslizes.
Orphan Black podia ser majestosa, uma série perfeita do início ao fim. Não o é. Tal como todos os produtos de entretenimento (e todos os seres humanos), nada nem ninguém é perfeito. Mas, ao contrário de muitas das séries televisivas de hoje, Orphan Black tornou-se especial. Há um carinho inconsciente que sentimos por ela. A força de tudo o que a envolve tem um nome: Tatiana Maslany. Esta musa, e inquestionavelmente a melhor atriz da televisão, conseguiu criar inúmeros heterónimos com especificidades e características únicas. Tão únicas que se torna impossível pensarmos que é a mesma pessoa a fazer estas personagens tão diferentes. Orphan Black é mágica porque coloca a mulher no centro da narrativa. Para o bem ou para o mal, são elas que dominam os momentos; são a personificação de que o feminino tem tanto ou mais garra que o masculino. Aliás, Orphan Black é precisamente aquela ode a um mundo cada vez mais disruptivo socialmente. Os pequenos grandes gestos que a série consegue transmitir pelas suas personagens fazem-nos sentir que ainda há um pouco de esperança e amor neste mundo tão dividido.
Orphan Black ensina que a sociedade deve unir-se pelas suas diferenças e não separar-se usando-as como desculpa. Orphan Black ensina que essas diferenças podem ser ainda mais importantes na união do que na separação. Orphan Black surge como um hino ao feminismo, uma canção bonita que quebra tabus e preconceitos. Orphan Black é aquele pedacinho de céu que nos leva a refletir que, por vezes, por muito difíceis os momentos por que estejamos a passar, há sempre alguém que nos pode ajudar a esboçar um sorriso, a trazer um pouco de alegria às nossas vidas, a repensarmos o quanto a família é importante.
A temporada final pode ter-se embrenhado numa teia de problemas que, infelizmente, aconteceu. No entanto, todos os seus defeitos se tornam pequenos pontos no horizonte quando vemos estas personagens juntas, unidas, a lutar contra um problema e a encontrar a solução sempre lado a lado. Não há sentimento mais bonito do que vermos a Tatiana Maslany a ajudar a Tatiana Maslany em que o vilão é a Tatiana Maslany e que, por conseguinte, prejudica a Tatiana Maslany, mas depois chega Tatiana Maslany e salva o dia. Brincadeiras à parte, Orphan Black é Fernando Pessoa escrito em televisão. É o Fernando que usa a poesia contada na primeira pessoa aos olhos de uma mulher. É essa mulher que vai colocando tudo o que é, o que não é, o que gostaria de ser, o que poderia ser, dentro dos corpos de outras mulheres.
Tatiana Maslany, um muito obrigado! Obrigado por me fazeres sentir que o mundo é ainda um local de perigos, mas também consegue ser um local de amor, de aceitação, de inclusão e de família. Obrigado, Tatiana Maslany, por nos proporcionares uma viagem bonita por todo o teu talento. Obrigado, Tatiana Maslany, pela dedicação e por todas as ajudas que Orphan Black deu a muitos por todo o globo.
Obrigado, Tatiana Maslany!
Votos de muito sucesso e um grande abraço de quem te venera,
Jorge Lestre