Esta não irá ser uma crítica vulgar. O meu coração está negro como a imagem que aqui apresento. Este texto contém SPOILERS, portanto, caro leitor, se ainda não viu o episódio, por favor apresse-se a fazê-lo.
Esta temporada de Orphan Black oscilou bastante em termos de qualidade. Por muito amor que tenhamos a todas as sestras e seus companheiros, o argumento sofreu o grande problema do arrasto científico que se tornou cada vez mais desinteressante de seguir. No entanto, há algo que continuou a prender-nos à série; algo que, mesmo nos seus momentos menos bons, conseguiu sempre sobressair. Este selo de qualidade, que nenhuma outra série conseguiu ter de forma tão doce e instantânea, consiste nas suas maravilhosas personagens e em todas as mensagens feministas que tornam a série única e espantosa.
Guillotines Decide é um capítulo duro, violento e, no entanto, é igualmente carinhoso e inspirador. S e Delphine operam em secretismo uma nova missão para terminar com os Neolutionists e Sarah desconfia que algo de errado se passa. Rachel sobrevive à remoção (forçada) do seu olho e é socorrida por Ferdinand. Adele e Felix estão de volta e, numa tentativa de acalmar os ânimos das recentes missões stressantes de fuga, decidem organizar uma gala de venda dos quadros de Felix. Gracie encontrou-se com Helena no Convento da Irmã Irina, mas tem que decidir que lado escolher. Alison e Donnie ajudam Felix na preparação da sua galeria. Cosima e Delphine vivem alguns momentos de paz e Kira é levada em segurança para a casa de Art.
Uma sinopse não chega para descrever todos os pequenos cacos em que o meu coração se encontra neste momento. Como cronista de temáticas sociais, este episódio de Orphan Black é uma ode incrível ao feminismo. Uma ode à família e à mulher, pintada com tons de vermelho e azul. O vermelho para o sangue e morte que o assombram e azul por toda a componente, por todo o carinho que temos por estas personagens. Desde uma camisola com “The Future is Female” até à já evidente liderança feminina da série, Orphan Black atingiu o seu auge com uma homenagem a todas as mulheres do mundo e, citando as palavras de Felix, “So to my galaxy of women, thank you for the nurture.”
Enquanto se celebra esta bonita homenagem, há algo que repentinamente muda. O tom fica mais sombrio, o ritmo acelera e, por fim, o inevitável acontece. A dor, o sofrimento, apoderam-se de nós e as lágrimas não tardam a chegar.
“Chickens.” é a última frase do argumento. Uma moldura com Sarah e Felix cai no chão e o ecrã escurece. Preenche-se um vazio, abate-se uma tristeza. A natureza crua deste particular momento e o contraste com os momentos doces que se viviam nem há 5 minutos atrás misturam-se no nosso coração, quebrando-o em mil pedacinhos.
O que sentir? Que dor misteriosa é esta que nos faz sentir tanta coisa em tão pouco tempo? A essência de Orphan Black mostra que a vida das sestras ainda está longe de estabilizar. Expor toda a “seita” que infernizou a vida dos nossos clones favoritos também os tornou mais perigosos. Nunca devemos subestimar os adversários, nem nunca os encurralar sem saber se eles se viram contra nós. S cometeu esse erro e, com isso, todos nós pagámos por ele com as nossas lágrimas e angústias.
E, mais uma vez, a toda a “galáxia de mulheres” deste mundo fora: Orphan Black é precisamente a série que deviam estar a ver.
Jorge Lestre